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sábado, 17 de dezembro de 2011

Vaivém nos neurônios



Suzana Herculano-Houzel, a neurocientista mais multimídia da história deste país, aprontou mais uma. Em artigo na edição desta semana da revista científica americana "PNAS", ela e seus colegas Roberto Lent e Fabiana Bandeira, todos da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), mostraram como ainda se sabe pouco sobre a vida e a morte dos neurônios no cérebro -- ao menos no caso de um dos mais queridos animais-modelo do mundo, os ratinhos da variedade Wistar. Como diz a moça em seu blog, o processo está mais para uma montanha-russa -- ou para uma mistura esquisita de hecatombe com explosão populacional.
A sabedoria convencional sobre o tema dizia que nós, mamíferos (roedores incluídos, claro) basicamente nascemos com o pacote completo de neurônios na cachola. Ao longo do desenvolvimento, as únicas modificações seriam perda de neurônios excessivos, surgimento de células de apoio (a chamada glia) e formação de conexões neuronais.
O novo "paper" na "PNAS" mostra que a história é outra. O sujeito fica até meio zonzo de acompanhar o vaivém, mas vejamos: após nascer, os ratos têm um período de três dias de cérebro dormente; depois, ao longo da primeira semana, o número de neurônios DOBRA; na segunda semana de vida, 70% do total neuronal vai para o saco; e, ao longo das duas semanas posteriores, cresce novamente o número total de neurônios -- um aumento de 6 milhões.
Ufa. À primeira vista não aparece haver muita razão nem rima nesse ziguezague, mas, como Suzana e companhia apontam, há aí algumas implicações interessantes. O certo é que a neurogênese, ou seja, o nascimento de neurônios, realmente é possível, e até frequente, após o nascimento, ao contrário do que se imaginava. Segundamente, o ambiente pós-nascimento talvez possa induzir modificações profundas na organização do cérebro. E há também a implicação evolutiva: embora normalmente se acredite que as diferenças de estrutura e tamanho cerebral entre espécies surgem ao longo do desenvolvimento embrionário, a vida fora do útero talvez seja importante para o abismo entre gente e ratos, ou entre ratos e gatos.

(REINALDO JOSÉ LOPES)
Escrito por Equipe do Laboratório às 20h17

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