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quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

2-Olhos em disputa


Olhos em disputa
Experimentos simples revelam a estereopsia, fenômeno visual complexo que ajuda a entender como o cérebro resolve conflitos de percepção
por Vilayanur S. Ramachandran e Diane Rogers-Ramachandran


Tente o seguinte experimento. Pegue uns desses óculos de leitura que se compram em farmácia. Fixe numa das lentes um filtro vermelho e na outra, um verde; depois coloque os óculos. O que você verá se olhar para um objeto branco? Se fechar um dos olhos, verá verde ou vermelho, conforme o esperado. Mas e se você abrir os dois olhos? As duas cores se misturarão no cérebro produzindo o amarelo, como o fariam se misturadas opticamente? (Vale lembrar que vermelho e verde produzem marrom quando misturamos pigmentos, como tintas. Mas quando misturamos luzes, projetando-as numa tela, essas cores resultam no amarelo.)

Você vai ver uma coisa de cada vez. Surpreendentemente, o objeto surge alternadamente vermelho e verde. Os olhos parecem gentilmente se revezar, como se evitassem o conflito. O fenômeno é chamado de rivalidade binocular e o efeito é similar àquele que vemos no cubo de Necker (ver ilustração na pág. 94). Para a pessoa que vê, pode parecer que essas experiências perceptivas dinâmicas surgem porque o próprio objeto está mudando. Mas o estímulo é perfeitamente estável. O que se altera é o padrão de atividade cerebral, que produz as alterações perceptivas e a ilusão de um objeto instável.

É possível usar a rivalidade binocular como uma poderosa ferramenta para explorar a questão mais geral de como o cérebro resolve conflitos de percepção. Tentemos outro experimento. Em vez de duas cores diferentes, apresentemos à visão duas séries de listras perpendiculares entre si. O resultado será uma grade ou as séries entrarão em conflito? A resposta é: às vezes veremos as séries alternadas, às vezes um mosaico de listras, com as seções das imagens dos dois olhos entrelaçadas. Jamais veremos uma grade.

Teoricamente, poderíamos fazer esse experimento posicionando listras verticais para o olho direito e horizontais para o esquerdo em um visor estéreo. Mas se você não tiver um, podemos improvisar algo parecido (ver ilustração na pág. 95). Basta posicionar uma divisória, um pedaço de papelão, por exemplo, no limite entre duas imagens. Agora coloque seu nariz perto da divisória, de tal forma que o olho esquerdo mire exclusivamente uma imagem e o direito, a outra. O que você vai ver são listras alternadas ou um mosaico flutuante, não uma grade. Com a prática, pode-se dispensar a divisória e aprender a “fundir livremente” as duas imagens, convergindo ou divergindo os olhos. Olhar para a ponta de um lápis a meio caminho entre as imagens e a face pode auxiliar esse aprendizado.

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