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quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

4-Olhos em disputa


Olhos em disputa
Experimentos simples revelam a estereopsia, fenômeno visual complexo que ajuda a entender como o cérebro resolve conflitos de percepção
por Vilayanur S. Ramachandran e Diane Rogers-Ramachandran


Mas precisamos realmente da fusão para que a estereopsia ocorra? A questão pode parecer ingênua, pois nossa intuição sugere que sim. No entanto, a intuição está equivocada. Três décadas atrás, Anne Treisman, da Universidade Princeton, Lloyd Kaufman, da Universidade de Nova York, e um de nós (Vilayanur) mostraram, de forma independente, que a rivalidade pode coexistir com a estereopsia, por mais que isso pareça paradoxal.

Para entender o fenômeno, considere o diagrama da imagem acima. Ele apresenta dois fragmentos de listras dispostas horizontalmente em direções opostas em relação aos círculos externos. Quando o cérebro funde esses círculos, algo extraordinário acontece. Veremos o fragmento inteiro flutuando, mas somente um fragmento por vez, porque as listras são ortogonais. Em outras palavras, o cérebro extrai o sinal estéreo dos fragmentos como um todo, interpretando as porções individuais como gotas, mas os fragmentos mesmos parecem rivalizar.

A informação sobre a localização dos fragmentos na retina é extraída pelo cérebro e produz estereopsia mesmo que apenas a imagem de um dos olhos seja visível por vez. É como se a informação sobre uma imagem invisível pudesse, entretanto, gerar estereopsia.
Essa “forma de rivalidade” ocorre em uma área do cérebro diferente da estereopsia, de modo que as duas podem coexistir em harmonia. A correlação entre elas na visão binocular normal é uma coincidência, não uma necessidade. A descoberta de que determinada informação visual pode ser processada inconscientemente em um caminho cerebral paralelo lembra a enigmática síndrome neurológica da visão às cegas. Um paciente com lesão no córtex visual é completamente cego: não pode perceber um foco de luz. Mas ele pode alcançá-lo e tocá-lo usando um caminho paralelo que evita o córtex visual (necessário para a percepção consciente) e projeta diretamente para os centros cerebrais, que são uma espécie de piloto automático que guiam a mão.

Um experimento similar poderia, em tese, ser elaborado para a rivalidade binocular. Quando a imagem de um olho é inteiramente suprimida durante a rivalidade, talvez fosse possível alcançar e tocar uma mancha apresentada àquele olho, ainda que ela seja invisível para o olho suprimido.

O fenômeno da rivalidade é um notável exemplo de como podemos usar experimentos relativamente simples para obter grandes insights sobre o processamento visual.

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