Seguidores

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Préfacio da História da Neurociência.




Vamos deixar bem claro uma coisa. Para algo ter história, é necessário primeiro esse algo ter sido inventado. A palavra Neurociência foi criada em 1970 (Bear et. al, 2001), portanto, a história da Neurociência só pode ser contada corretamente a partir de 1970. O que se vê na internet e nos livros é um aproximação grosseira. Tendo em vista que há muito tempo o ser humano faz aproximações dizendo que a origem do comportamento e da mente está no cérebro, então a Neurociência (que tem a mesma perspectiva) existe há muito tempo. O correto é falar não. A Neurociência é um campo novo, porém, possui influências antiquíssimas; possui estudos científicos e não científicos que remontam desde a filosofia de grega até os modernos exames de imagens atual.

O que se pode falar é em história da ciência e história de parte de pensadores que vieram a se perguntar itens como: "onde está a minha mente?" e "como a mente interage com o corpo". A partir dessa pergunta, vou destrinchar um pouquinho essa história:

Período Neolítico:
Trepanações cerebrais para expulsar os demônios do corpo.

Grécia:
Surge as perguntas mais sistematizadas sobre onde está a mente e como ela interage com o corpo.
Demócrito e Hipócretes sugerem que a mente está no cérebro e que os nervos são ocos. Essas intuições filosóficas foram baseadas na instrumentação clínica, pois à época, não se dissecava os cadáveres.
Aristóteles, pouco tempo depois, regride esse conceito e sugere que a mente está no coração e não no cérebro. Ele tinha essa idéia por observação. Uma pessoa com uma emoção forte fica com o coração acelerado, por exemplo. Disso ele fez a associação inversa de causa e efeito. Pelo coração ter alterações durante eventos emocionais, só podia ser nele a origem da mente. Essa constatação Aristotélica tem heranças até hoje. Por exemplo, quando falamos que decoramos um texto de cor, significa que decoramos o texto de coração, situando a memória também no coração e não no cérebro.

Roma:
Galeno pela primeira vez refuta o que diz Aristóteles a partir da dissecação de animais. Na época, o animal que ele tinha como escolha era o Boi.

Idade média:

O conceito de Galeno é expandido e os pensadores da época tentam fazer avanços.
Conceitos que tentavam correlacionar a relação ventricular com a mente, pois são as primeiras coisas vistas na dissecação.

Renascença:

O conhecimento da anatomia começa a se desenvolver. Vesálius, no começo do século XVII, através de dissecação em seres humanos, realizou um completo e detalhado estudo, principalmente, no cérebro. Nesse período, a partir da comparação do cérebro de homens com os animais, ele propõe que a sede da mente não está nos ventrículos cerebrais, mas em algum outro lugar, pois tanto homem como animais possuem ventrículos muito iguais, o contrário do resto do cérebro, que possuia grandes diferenças.

Em 1637, René Descartes publica o Discurso do Método e cria um dualismo na natureza humana, onde haveria uma parte relacionada com o corpo e uma parte relacionada com a mente. Pode-se dizer que ele é um dos primeiros pensadores a estudar a relação entre o cérebro e o corpo, elegendo a glândula pineal como o centro de ligação entre essas estruturas. À época, o modelo de tranmissão era hidráulica. Ou seja, dentro do ser humano, o sistema nervoso funcionava a partir da água.

Iluminismo:
Grande revolução da ciência. Física através de Galileo. Medicina através do anatomista Luigi Galvani.
Assim começa o estudo experimental do Sistema Nervoso, onde se descobre que ele funciona a partir de relações elétricas, que possuem áreas específicas para determinadas funções e que existem células específicas no cérebro responsáveis pela comunicação de informações, que são os neurônios.

Frenologia:
Em 1800, Franz Gall propõe a teoria de que o caixa craniana da pessoa poderia revelar as estruturas e funções mentais. Apesar de ter começado de forma pseudo-científica, o avanço na área foi ter iniciado o localizacionismo.

Teoria da evolução:
Darwin publica em 1859 o seu célebre livro "A Origem das Espécies", colocando o ser humano e os animais em uma escala evolucionária natural.

Pierre Broca:
Publica um artigo sobre a afasia de emissão em 1861, mostrando que existe estreita relação entre uma localização cerebral e uma função psicológica, por exemplo.

Raio X:
Em 1895, o físico Wilhelm Röntgen descobriu essa tecnologia que serve para exames como a Angiografia cerebral.

Tomografia Computadorizada:

Em 1972, a primeira máquina de tomografia é criada, que é um método de imagem que utiliza raios-x para captação de imagens de estruturas crânio-encefálicas.
Em vários congressos, a palavra Neurociência surge. Ou seja, o campo de estudo dos objetos tradicionais à luz do Sistema Nervoso central é batizado.

Tomografia Computadorizada por Emissão de Pósitrons:

Em 1973, o primeiro PET, porém, devido o alto preço, seu uso ficou limitado até 1990.

Década do cérebro:

Em 1990, Bush declara que estamos, oficialmente, na década do cérebro.

Hoje em dia os estudos da Neurociência são fundamentais para áreas tão dispares como a "escolha do eleitor no presidente", numa espécie de Neuropolítica e a investigação genética para correlatos entre pais e filhos portadores de TDAH. Porém, ao contrário da maior parte dos autores, é importante não tentar correlacionar coisas que são pouco correlacionáveis ou pouco significantes para afirmar que a Neurociência existe desde que o mundo é mundo. Apesar do estudo do comportamento humano ser tão antigo quanto à existência do ser humano, uma área que se pressupõe a estudar o cérebro, de forma multidisciplinar, tentando chegar a conclusões da origem dos processos mentais e dos comportamentos é recente. Como dito, essa tentativa é de 1970. Todo o resto, são tentativas ora filosóficas, ora mais científicas, porém, nada como se vê nos dias de hoje, onde o amor deixa de ser explicado como fenômeno social e passa a ser explicado como alterações sinápticas no lobo límbico.

postado em 10/04/2011 08:44 por Luis Anunciação

Nenhum comentário:

Postar um comentário