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segunda-feira, 30 de julho de 2012

sÍNDROME DE cUSHING

SINTOMAS

Síndrome de Cushing







A síndrome de Cushing ou hipercortisolismo ou hiperadrenocorticismo é uma desordem endócrina causada por níveis elevados de cortisol no sangue.
O cortisol é liberado pela glândula adrenal em resposta à liberação de ACTH na glândula pituitária no cérebro. Níveis altos de cortisol também podem ser induzidos pela administração de drogas.
A doença de Cushing é muito parecida com a síndrome de Cushing, já que todas as manifestações fisiológicas são as mesmas. Ambas as doenças são caracterizadas por níveis elevados de cortisol no sangue, mas a causa do cortisol elevado difere entre as doenças.
 A doença de Cushing se refere especificamente a um tumor na glândula pituitária que, por lançar grandes quantidades de ACTH, estimula uma secreção excessiva de cortisol na glândula adrenal. Já a sindrome de Cushing pode resultar de um tumor das glândulas suprarrenais (zona do córtex - que produz cortisol) de uma forma que não é controlada pelos mecanismos fisiológicos normais, i.e., mecanismo de feedback negativo sobre a hipófise com diminuição da síntese de ACTH (efeito principal de feedback) e sobre o hipotálamo com diminuição da síntese de CRH. Foi descoberta pelo médico americano Harvey Cushing (1869-1939) e descrita por ele em 1932.
A síndrome de Cushing também é uma doença relativamente comum em cães domésticos.

Sinais e sintomas


Os principais sintomas são o aumento de peso, com a gordura se depositando no tronco e no pescoço, preenchendo a região acima da clavícula e a parte detrás do pescoço, local onde se forma um importante acúmulo denominado de "giba".
A gordura também se deposita no rosto, na região malar ("maçãs do rosto"), onde a pele fica também avermelhada, formando-se uma face que é conhecida como de "lua-cheia".
 Ocorre também afilamento dos braços e das pernas com diminuição da musculatura, e, conseqüente, fraqueza muscular que se manifesta principalmente quando o paciente caminha ou sobe escadas.
A pele vai se tornando fina e frágil, fazendo com que surjam hematomas sem o paciente notar que bateu ou contundiu o local.
Sintomas gerais como fraqueza, cansaço fácil, nervosismo, insônia e labilidade emocional também podem ocorrer.
 Nas mulheres são muito freqüentes as alterações menstruais e o surgimento de pêlos corporais na face, no tórax, abdômen e nos braços e pernas.
 Como grande parte dos pacientes desenvolve hipertensão arterial e diabetes, podem surgir sintomas associados ao aumento da glicose e da pressão arterial tais como dor de cabeça, sede exagerada, aumento do volume urinário, aumento do apetite e visão borrada.
Quando ocorre aumento importante dos pêlos, pode ocorrer também o surgimento de espinhas (acne) na face e no tronco, e nas mulheres pode surgir mudança na voz, queda do cabelo semelhante a calvície masculina e diminuição das mamas.
 Esses sintomas se associam com tumores de supra-renal.
No abdômen e no tórax podem ser observadas estrias de cor avermelhada e violeta, algumas vezes com vários centímetros de largura.
 Algumas pessoas apresentam também colelitíase (pedras na vesícula) e conseqüentemente cólica.
A osteoporose é freqüente, provocando dores na coluna e às vezes fraturas nos braços, pernas e na coluna, nos casos de uso continuo por um longo periodo pode tambem apresentar raias de vasos sanguineos na pele, sendo mais visivel no rosto.
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domingo, 22 de julho de 2012

Psicopatas: Como conhecê-los?



Total ausência de sentimento de culpa, arrependimento ou remorso pelo que faz de errado, falta de empatia com o outro e de emoções como o amor, a tristeza, o medo e a compaixão. Essas são as principais características de um psicopata, indivíduo transgressor de regras sociais que apresenta transtornos de personalidade e só visa o interesse próprio. 

Encantadores à primeira vista, causam boa impressão para quem os conhece superficialmente. Mas, um convívio mais intenso pode revelar uma pessoa fria e calculista, egocêntrica, megalomaníaca, manipuladora, impulsiva, inescrupulosa, irresponsável, mentirosa e às vezes violenta. Após todos os adjetivos citados, pode parecer fácil reconhecer um psicopata, mas não é. Até mesmo os profissionais da área médica e psicológica são enganados por eles, uma vez que sabem representar muitíssimo bem.

Eles estão infiltrados em todas as esferas da vida social e são capazes de passar por cima de qualquer pessoa só para satisfazer seus sórdidos interesses. “Pode-se dizer que são verdadeiros ‘predadores sociais’, almejam somente poder, status e diversão. Para isso, usam as pessoas apenas como troféus ou peças do seu jogo cruel.”, explica a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva, autora do livro “Mentes Perigosas”.

É muito comum as pessoas associarem psicopatia com loucura, o que é um grande equívoco. A especialista esclarece que loucura é o que a medicina denomina de surto psicótico, em que a pessoa tem alucinações ou delírios, como os portadores de esquizofrenia por exemplo. Os esquizofrênicos vivem uma realidade paralela e por isso, não têm noção de suas ações. Já os psicopatas, sabem exatamente o que estão fazendo e o sofrimento que causam aos outros. “Eles não apresentam problema algum de ordem cognitiva ou deficiência de raciocínio. O problema deles está apenas no campo das emoções.”, explica.

A médica os define como verdadeiros atores da vida real e alerta que é preciso ficar atento quando não se conhece alguém ainda muito bem. “É sempre bom checar os hábitos e saber um pouco do seu passado da pessoa. Os psicopatas são muito habilidosos em usar da nossa boa fé. Sem querer ser pessimista, somente realista, antes de reconhecer um indivíduo desta natureza, precisamos entender que a maldade existe verdadeiramente. A nossa tendência é sempre achar que ninguém é tão ruim assim e que um dia vai mudar.”, comenta.

Na verdade, essas pessoas raramente aprendem com os erros e não conseguem frear impulsos. Portanto, ao identificar um deles é essencial tomar distância e jamais compactuar com ele. De qualquer forma, é importante esclarecer que somente uma pequena parcela dos psicopatas é assassino ou serial killer. Isso porque existem níveis variados de psicopatia: leve, moderada e severa.

A grande maioria dos psicopatas se enquadra no grau mais leve. Estão disfarçados de líderes religiosos, executivos bem sucedidos, bons políticos, bons amigos e bons amantes. Vivem de golpes, roubos, fraudes e estelionatos. Podem arruinar empresas, destruir lares, passar para trás colegas de trabalho, se promover à custa dos outros, mas tudo sem sujar as mãos de sangue. “Geralmente são charmosos, sedutores, inteligentes, aparentam serem pessoas do bem e possuem grande poder de persuasão e habilidade para enganar quem quer que seja. Estão do lado de fora das grades, convivendo com todos nós, sem levantar suspeitas de quem realmente são. Outros, de fato, são assassinos ou até serial killers e matam tal qual feras predadoras.”, afirma a doutora.

O que os motiva a cometer um crime é possivelmente a ausência total de remorso associada a uma ânsia de domínio e poder sádico sobre as pessoas. Mas, qualquer que seja o nível de gravidade, as atitudes maquiavélicas, imorais e antiéticas, sempre deixam marcas de destruição por onde passam.

Para o neurocientista Renato Sabbatini, a psicopatia não parece ser genética, nem hereditária. “Existem prejuízos cerebrais funcionais caracterí¬sticos, que podem ter sido adquiridos na gravidez, parto ou infância, por exemplo, que podem acarretar neste distúrbio. Além de alguns casos raros de lesão cerebral por trauma ou tumores. Mas, pode-se dizer que existem sim alguns fatores que são observados em recorrência nos psicopatas como: sexo masculino, histórico de abuso durante a infância e abuso de drogas e de álcool.”, explica.

Estatísticas mostram que a proporção de psicopatas é de três homens para cada mulher. Não se sabe bem qual a razão, mas pode ter relação com o hormônio sexual masculino, a testosterona. “No entanto, não sabemos se as mulheres não estão sendo subdiagnosticas. Isso porque os homens são naturalmente mais impulsivos e agressivos e podem revelar a psicopatia com mais facilidade. Já as mulheres apresentam uma perversidade mais sutil, camuflada, no campo das intrigas.”, acrescenta a psiquiatra.

O diagnóstico é basicamente clínico, através da observação do comportamento e do levantamento do histórico de vida do indivíduo. O instrumento mais usado entre os especialistas é o teste Psychopathy checklist-revised (PCL-R), desenvolvido pelo psicólogo canadense Robert D. Hare, da Universidade da Colúmbia Britânica. O método utiliza uma entrevista padronizada com os pacientes que revela três grandes grupos de características que geralmente aparecem sobrepostas: deficiências de caráter, ausência de culpa e comportamentos impulsivos ou criminosos.

A psicopatia só pode ser diagnosticada pelos médicos a partir dos 18 anos, mas na realidade, ninguém vira psicopata de um dia para o outro. Mesmo crianças e adolescentes apresentam condutas maldosas ou perversas. “Isso se percebe nos maus tratos com os irmãos, coleguinhas e animais. Nas mentiras recorrentes, roubos de pertences dos outros, transgressões de regras sociais e especialmente na falta de afeto. Porém, por uma questão de nomenclatura, antes da maioridade o problema é denominado Transtorno da Conduta.”, diz Ana Beatriz Silva.

Os jovens normalmente são levados pelos pais ao consultório. O motivo é sempre o comportamento desafiador do filho. Já os adultos, dificilmente procuram por ajuda psiquiátrica ou psicológica. No que diz respeito à saúde mental, só há tratamento para quem apresenta desconforto emocional que impeça uma boa qualidade de vida. Por mais estranho que pareça, os psicopatas são muito satisfeitos consigo mesmos e não apresentam constrangimentos morais ou sofrimentos emocionais como depressão e baixa auto-estima. 

Sendo assim, não é possível tratar uma dor inexistente. Em relação aos remédios, também não há, até o momento, nenhum medicamento comprovadamente eficaz para este distúrbio. “Cuidar de um psicopata é uma luta inglória, pois não há como mudar sua maneira de ver e sentir o mundo. Psicopatia é um modo de ser. O que o médico ou terapeuta podem fazer é dar suporte e oferecer tratamento às vítimas deles, uma vez que são elas que verdadeiramente sofrem.”, conta a médica. 

No Brasil, criminosos psicopatas e doentes mentais são tratados da mesma forma, não existe uma legislação específica. Isso é um grande problema, pois a psicopatia não se enquadra no padrão das doenças mentais, eles não são débeis e muito menos apresentam sofrimento emocional. Caso não seja diagnosticada a psicopatia, a pessoa fica presa com presidiários comuns. Mas, o psicopata não é um criminoso recuperável, e quando sair da cadeia, a sociedade correrá os mesmos riscos de antes.

Se ele for diagnosticado como um psicopata, será punido como se fosse um doente mental, com um tratamento psiquiátrico em um manicômio judiciário. “Como não há cura, teoricamente ele deveria ficar lá pelo resto da vida, mas sabemos que enganos acontecem e ele pode receber alta de uma hora para outra.”, comenta a psiquiatra. Em países como o Canadá, a Inglaterra, a Austrália e em alguns estados dos EUA, o psicopata cumpre penas bem mais rigorosas, com prisão perpétua em celas isoladas.

A boa notícia é que apesar de os crimes cometidos por psicopatas estarem sendo cada vez mais divulgados, segundo o neurocinetista Renato Sabbatini, os casos parecem na verdade estar diminuindo. “Cerca de 1% da população masculina tem distúrbio de personalidade anti-social. Sociopatas violentos têm uma proporção relativa muito menor. Essa estatística não está crescendo, o que acontece é uma maior publicidade a respeito, dada por criminosos famosos enfocados pelas mí¬dias de massa.”, afirma.

O neurocientista ainda observa que o termo psicopata é controvertido, pois significa doente da alma (psique), e desta forma, qualquer pessoa com doença mental, como depressão ou ansiedade, poderia se enquadrar nesta denominação. “O termo sociopata é usado para qualquer pessoa que tem distúrbios anti-sociais, como os indivíduo que chamamos de psicopatas. Mas, a nomenclatura, de psicopata, ficou comumente associada ao sociopata violento, assassino em massa.”, conclui.


Por Thais Padua, Rio de Jeneiro.

Emocionalmente Insensíveis


Muitas das características da personalidade dos psicopatas poderiam ser explicadas por déficits emocionais. Por exemplo, eles têm pouco afeto com os outros, são incapazes de amar, não ficam nervosos facilmente e não mostram remorso ou vergonha quando eles abusam de outras pessoas. Assim, os cientistas têm feito hipóteses há muito tempo que os psicopatas têm uma deficiência em suas reações aos estímulos evocadores do medo, e esta seria causa de sua insensibilidade e também de sua incapacidade de aprender pela experiência.

Muitos experimentos com indivíduos sociopatas têm sugerido que isto é verdade. Um destes experimentos colocou agressores criminosos com alto nível de distúrbio de personalidade sociopática observando projeções de slides com figuras com diferentes conteúdos emocionais. Enquanto olhavam para as imagens, eles eram assustados subitamente, com sons inesperados. Quando pessoas normais estão vendo imagens agradáveis, a resposta de susto (um piscar de olhos) é de menor magnitude do que quando as imagens são desagradáveis ou estressantes (representando agressão, sangue, horror, etc). Imagens neutras têm uma resposta de susto no ponto intermediário daquelas de prazer e desprazer. O que acontece com sociopatas criminosos? Eles têm exatamente o padrão oposto: piscam menos os olhos em resposta ao barulho quando estão assistindo imagens estressantes ! Entretanto, somente os sociopatas que tinham uma característica de indiferença emocional mostraram este fenômeno. Isto poderia ser explicado por uma falta de reatividade nestes agressores.
Em outro experimento, os cientistas registraram respostas fisiológicas de agressores criminosos sociopatas quando viam imagens estressantes, ou quando processavam palavras com alto conteúdo emocional. Os parâmetros fisiológicos registrados são os mesmos que os nos aparelhos de "detectores de mentiras"

  • A frequência cardíaca (isto é, quantas batidas por minuto, registradas na forma de curva em função do tempo). Estímulos que provocam medo ou stress eliciam um aumento na frequência cardíaca em indivíduos normais;
  • Reação galvânica da pele. A resistência elétrica da pele de certas regiões do corpo (por exemplo, a palma da mão) é afetada por sudorese emocional (ela aparece somente quando a pessoa está nervosa, mas não quando está com calor, como no suor normal: é por isso que falamos que uma pessoa está com as "mãos suadas" quando ela está mentindo).
  • Frequência respiratória: também é afetada pelo estímulo emocional, tornando-se mais rápida e mais superficial.
Os psicopatas não mostram alteração nestes parâmetros quando são submetidos ao stress ou a imagens desagradáveis. Estas alterações também não aparecem quando os sujeitos são avisados antecipadamente por um flash de luz quando eles vão receber um estímulo estressante (por exemplo, um desagradável sopro de ar em suas faces). Esta é a razão porque os sociopatas mentem tão bem e porque eles não são detectados pelos equipamentos de detecção de mentiras.
Entretanto, tudo isto não significa que os sociopatas não tenham emoções. Eles têm, mas em relação a eles mesmos, não em relação aos outros. De fato, tais indivíduos são incapazes de sentirem emoçoes "sociais" tais como simpatia, empatia, gratidão, etc. Isto pode explicar porque os sociopatas são tão desejosos de inflingir sofrimento e dor em outras pessoas sem sentir qualquer remorso. Para eles, as emoções de outras pessoas não têm qualquer importância; eles são "incapazes de construir uma similitude emocional do outro".
Quais são os tipos de emoções que o sociopata tem? Aparentemente, eles reagem a tudo, e rapidamente, com sentimentos agressivos, são muito irritáveis e também sensíveis a qualquer coisa que provoque vergonha ou humilhação. Com relações às emoções positivas, eles obtém prazer através da sensação de dominância e sentem satisfação por isto.

O Erro de Descartes

Antonio Damasio, um neurologista americano-português, já citado por nós na introdução, tem uma teoria que poderia explicar porque pacientes com distúrbios provocados por lesões no cérebro frontal ventromedial (e, por extensão, sociopatas) têm estes problemas emocionais. Ele a chamou de a "hipótese do marcador somático", que tem mais ou menos a seguinte forma:
Indivíduos normais ativam os chamados "estados somáticos" (alterações na frequência cardíaca e respiração, dilatação das pupilas, sudorese, expressão facial, etc.) em resposta à punição associada às situações sociais. Por exemplo, uma criança quebra alguma coisa valiosa e é punida severamente por seus pais, evocando estes estados somáticos. Da próxima vez que ocorrer uma situação similar, os marcadores somáticos são ativados e a mesma emoção associada à punição é sentida. De modo a evitar isto, a criança suprime o comportamento indesejado.
De acordo com o Dr. Damásio, pessoas com danos no lobo frontal são incapazes de ativar estes marcadores somáticos. Ele diz: "isto deprivaria o indivíduo de um dispositivo automático para sinalizar consequências deletérias relativas a respostas que poderiam trazer a recompensa imediata". Isto explica também porque os sociopatas e pacientes com danos no lobo pré-frontal mostram poucas respostas autonômicas a palavras condicionadas socialmente e imagens com conteúdo emocional, mas têm respostas normais a estímulos incondicionados como outras pesquisas do Dr. Damasio mostraram.
Analisando o comportamento sociopático e suas causas, Damásio sugeriu em seu livro bestseller,  "Descartes' Error: Emotion, Reason and the Human Brain" (O Erro de Descartes: Emoção, Razão e o Cérebro Humano), que a razão e a emoção não são coisas separadas e antagonistas em nosso cérebro (este foi o erro cometido pelo filósofo francês René Descartes aludido no título do livro), mas que um é importante para o outro na construção da nossa personalidade sadia. Indivíduos que são inteligentes e que são capazes de raciocinar bem, tornam-se monstros sociais quando eles não sentem "emoção social", que é a base da moral, do sentimento que está certo ou errado, etc.

Almas Atormentadas, Cérebros Doentes




Por que os sociopatas têm estas características? Os seus cérebros são diferentes daqueles das pessoas normais? Eles exibem alterações patológicas?
Muitos estudos têm mostrado nos últimos 20 anos que assassinos e criminosos ultraviolentos têm evidências precoces de doença cerebral. Por exemplo, em um estudo, 20 de 31 assassinos confessos e sentenciados possuiam diagnósticos neurológicos específicos. Alguns dos presos tinham mais que um distúrbio, e nenhum sujeito era normal em todas as esferas. Entre os diagnósticos, estavam a esquizofrenia, depressão, epilepsia, alcoolismo, demência alcoólica, retardamento mental, paralisia cerebral, injúria cerebral, distúrbios dissociativos e outros. Mais de 64% dos criminosos pareciam ter anormalidades no lobo frontal. Quase 84% dos sujeitos tinham sido vítimas de severo abuso físico e/ou sexual. O grupo de assassinos incluiu membros de gangues, sequestradores, ladrões, assassinos seriais, um sentenciado que tinha matado seu filho pequeno, e outro que assassinara seus três irmãos.
Em outro estudo realizado no Canadá em 1994, no grupo mais violento de 372 homens presos em um hospital mental de segurança máxima, 20 % tinham anormalidades focais temporais do EEG, e 41% tinham alterações patológicas da estrutura do cérebro no lobo temporal. As taxas correspondentes para o resto do grupo violento foram de 2.4 % e 6.7 %, respectivamente, sugerindo assim um papel importante para os danos neurológicos na gênese das personalidades violentas, em uma proporção de 21:1 para agressivos habituais, e de até 4:1 (quatro vezes mais que na população normal), no caso de agressivos incidentais (uma única vez). O estudo conclui: "nós propomos que, embora tais discrepâncias não sejam suficientes para confirmar a neuropatologia como uma causa univariada da agressão criminosa, também não é razoável supor que sejam meram artefatos do acaso."
De acordo com os autores Nathaniel J. Pollone e James J. Hennessy, "Vários estudos em um período de mais de 40 anos sugeriram uma incidência relativamente alta de neuropatologia entre os criminosos violentos, muitas vezes acima daquele encontrado na população em geral, em taxas que excedem de 31:1 no caso de homicidas acidentais." (35 Annual Meeting of the Academy of Criminal Justice Sciences, Albuquerque, NM, 14 março, 1998).
Ainda que este tenha sido sempre um assunto muito controvertido, muitos pesquisadores acham que existem fortes argumentos à favor de um substrato da doença cerebral presente em criminosos violentos; e que isto tem consequências importantes para muitas coisas, desde do ponto de vista da lei, até a perspectiva de uma prevenção efetiva e do tratamento da sociopatia.

A Hipótese do Cérebro Frontal

Como os indivíduos sociopatas têm alterações marcantes em relação aos outros seres humanos, é natural que se devesse investigar primeiro se a parte do cérebro que é responsável por este tipo de comportamento também teria alguma anormalidade significativa.
Muitos comportamentos associados às relações sociais são controlados pela parte do cérebro chamada lobo frontal, que está localizado na parte mais anterior dos hemisférios cerebrais. Todos os primatas sociais desenvolveram bastante o cérebros frontal, e a espécie humana tem o maior desenvolvimento de todos. Auto-controle, planejamento, julgamento, o equilíbrio das necessidades do indivíduo versus a necessidade social, e muitas outras funções essenciais subjacente ao intercurso social efetivo são mediadas pelas estruturas frontais do cérebro (veja o artigo da dra. Silvia Cardoso  "A Arquitetura Externa do Cérebro" na revista Cérebro & Mente para entender o que é o cérebro frontal).
As principais subdivisões do encéfalo humano. As áreas frontais incluem o lobo frontal (sua porção anterior é chamada de área pré-frontal), o córtex motor (responsável pelo controle voluntário do movimento muscular) e o córtex sensorial (que recebe a informação sensorial vinda principlamente do tato, vibração, dor, propriocepção e sensores de temperatura). Existem áreas separadas para olfação, gosto, visão e audição. A área de Broca é uma área especializada, responsável pela expressão motora da fala.
Há muito tempo que os neurocientistas sabem que as lesões desta parte do cérebro levam a déficits severos em todos estes comportamentos. O uso abusivo da lobotomia pré-frontal como uma ferramenta terapêutica pelos cirurgiões em muitas doenças mentais nas décadas de 40 e 50, forneceu dados mais que suficientes aos pesquisadores para implicar o cérebro frontal na gênese das personalidades antissociais (veja meu artigo sobre a história da psicocirurgia na segunda edição da Cérebro & Mente.
Ilustração da leucotomia transorbital, uma operação cirúrgica que foi amplamente utilizada nos anos 50 para executar lobotomia pré-frontal em muitos tipos de doença mental. Desenvolvido pelo neurocirurgião americano Walter Freeman, ela consistia em inserir uma lâmina no teto ósseo de uma das órbitas usando um martelo e anestesia local. O movimento da lâmina lesava conexões importantes entre as áreas frontais e o resto do cérebro.
Existem muitos exemplos de pessoas que adquiriram personalidades sociopáticas devido a lesões patológicas do cérebro, tais como tumores. Por exemplo, um estudo de caso em 1992 descreveu um paciente que desenvolveu alterações de personalidade, as quais se assemelhavam fortemente a um distúrbio de personalidade antissocial, após a remoção cirúrgica de um tumor na glândula hipófise, o qual provocou danos a uma parte do lobo frontal chamado córtex órbito frontal esquerdo. Neste caso, testes neuropsicológicos e de personalidade não revelaram qualquer déficit cognitivo ou psicopatologia.
Antonio and Hanna Damasio, dois notáveis neurologistas e pesquisadores da Universidade de Iowa, investigaram na última década as bases neurológicas da psicopatologia. Eles mostraram em 1990, por exemplo, que indivíduos que tinham se submetido a danos do córtex frontal ventromedial (e que tinham personalidades normais antes do dano) desenvolveram conduta social anormal, levando a consequências pessoais negativas. Entre outras coisas, eles apresentaram tomada de decisões inadequadas e habilidades de planejamento, as quais são conhecidas por serem processadas pelo lobo frontal do cérebro.
Reconstrução computadorizada da destruição do cérebro de Phineas Gage pela barra de ferro.Os Damasios também reconstituíram neurológicamente o primeiro caso conhecido de alteração de personalidade devido a uma lesão frontal no cérebro, observado no século XIX. Phineas Gage, um supervisor de obras ferroviárias, perdeu parte de seu cérebro com uma barra de ferro que atravessou seu crânio quando uma carga explosiva foi colocada acidentalmente (veja meu artigosobre este caso na revista Cérebro & Mente e também o website que registra o 150o. aniversário do acidente). Ele sobreviveu por muitos anos ao extenso trauma, mas tornou-se uma pessoa inteiramente nova, abusiva e agressiva, irresponsável e mentirosa, incapaz de imaginar e planejar, e completamente diferente de sua formação (de acordo com um contemporâneo, "Phineas não é mais o Phineas").Baseado em uma sofisticada reconstrução computadorizada da possível extensão do dano cerebral, Gage parece ter sofrido uma lesão no córtex frontal ventromedial, em um lugar muito similar àqueles dos modernos pacientes de Damásio.
Por que o cérebro frontal parece ser tão importante na gênese de indivíduos antissociais?
Uma hipótese provável é que quando não existe punição, ou quando a pessoa é incapaz de ser condicionada pelo medo, devido a uma lesão no córtex órbito-frontal, por exemplo, ou devido a baixa atividade neural nesta área, então ele desenvolve uma personalidade antissocial.
Pesquisas com animais têm mostrado que o córtex órbito-frontal direito está envolvido no medo condicionado. Por exemplo, quando um rato é punido com um choque elétrico cada vez que uma luz pisca em sua gaiola, ele sente medo, por associar aquele estímulo à punição. Seres humanos normais aprendem muito cedo na vida a evitar comportamentos antissociais, porque eles são punidos por isso e também porque eles possuem circuitos cerebrais para associar o medo da punição (sentimento da emoção) à supressão do comportamento. Este parece ser um elemento chave no desenvolvimento da personalidade.
Felizmente, temos agora uma maneira mais direta de visualizar a função cerebral, e que tem conduzido a uma notável explosão em nosso conhecimento sobre o funcionamento interno do cérebro do psicopata nos últimos dois ou três anos: a tomografia PET.

Imagens da Violência

Imagens funcionais do cérebro, tais como aquelas produzidas por PET (positron emission tomography) têm sido usadas para corroborar a existência de déficits neurológicos no lobo frontal em sociopatas. O PET obtém seções transversais do cérebro reconstruídas por computador, mostrando em cores vívidas o nível da atividade metabólica de neurônios. Isto é conseguido injetando-se moléculas de glicose marcadas radioativamente no sangue de pacientes e observando o quanto dele é incorporado em células cerebrais vivas. Quanto mais ativas são as células (quando elas estão processando informação, por exemplo), mais intensa é a imagem naquele ponto (veja meu artigo "PET: Uma Nova Janela para o Cérebro", na revista Cérebro & Mente, para entender melhor como funciona esta técnica).O equipamento de Tomografia por Emissão de Pósitrons (PET) obtém imagens seccionais do cérebro vivo, usando cores para representar o grau de atividade. Crump Institute for Biological Imaging, University of California, Los Angeles.
Usando o PET, o pesquisador médico americano Adrian Raine e colegas estudaram assassinos, com resultados surpreendentes. Eles encontraram que 41 assassinos tinham um nível muito diminuído do funcionamento cerebral no córtex pré-frontal em relação às pessoas normais, indicando um déficit relacionado à violência. Em outras palavras, mesmo quando nenhuma alteração patológica visível era apresentada, o dano frontal era aparente, através de uma atividade anormalmente baixa do cérebro naquela área. "O dano nesta região cerebral", notou Raine, "pode resultar em impulsividade, perda do auto-controle, imaturidade, emocionalidade alterada, e incapacidade para modificar o comportamento, o que pode facilitar atos agressivos". Outras anormalidades observadas pelo estudo de PET do cérebro de assassinos incluiu um metabolismo neural reduzido no giro parietal superior, giro angular esquerdo, corpo caloso, e assimetrias anormais de atividade na amígdala, tálamo, e lobo temporal medial. É provável que estes efeitos sejam relacionados à violência e criminalidade; pois algumas destas estruturas fazemo parte do chamado sistema límbico, que processa emoções e comportamento emocional (por favor, veja "Sistema Límbico: O Centro das Emoções" na Cérebro & Mente)
Um aspecto interessante da pesquisa do Dr. Raine é que ele correlacionou as imagens cerebrais de PET à história pessoal do assassino, afim de certificar-se se eles tinham sido submetidos a algum trauma psíquico, abuso físico ou sexual, abandono e pobreza, quando eles eram crianças (um ambiente deprivado para o desenvolvimento da personalidade). Entre os assassinos, 12 tinham sofrido abuso significativo ou deprivação (recebido maus tratos). Foi descoberto que assassinos vindos de lares deprivados tinham déficits muito maiores na área órbito-frontal do cérebro (14 % em média) do que pessoas normais e assassinos vindos de ambientes não deprivados.
Imagens PET do cérebro de uma pessoa normal (esquerda), um assassino com história de deprivação na infância (centro) e um assassino sem história de deprivação (direita). As áreas em vermelho e amarelo mostram uma atividade metabólica mais alta, e em preto e azul, uma atividade metabólica mais baixa. O cérebro de um sociopata (direita) tem uma atividade muito baixa em muitas áreas, mas que é fortemente ausente na área frontal (parte superior das imagens). Imagens de Adrian Raine, University of Southern California, Los Angeles, USA.
Os estudos iniciais controlados, realizados por Raine e colegas foram confirmados por uma série de investigações baseadas em PET com indivíduos sociopatas e criminosos violentos. Em um estudo em 1994, 17 pacientes com diagnóstico de distúrbio de personalidade foram submetidos ao PET. Os pesquisadores provaram que havia uma forte correlação inversa entre uma história de dificuldades de controle de agressividade durante toda a vida e o metabolismo regional no córtex frontal. Seis destes pacientes eram antissociais, o resto tinha vários distúrbios de personalidade (marginais, dependentes narcisistas). O PET foi usado novamente em 1995 para avaliar o metabolismo da glicose cerebral em oito sujeitos normais e oito pacientes psiquiátricos com história de comportamento repetitivo violento. Os autores obervaram que "sete dos pacientes mostraram amplas áreas de baixo metabolismo cerebral, particularmente no córtex pré-frontal e temporal medial quando comparado à sujeitos normais. Estas regiões têm sido implicadas como o substrato para agressão e impulsividade, e sua disfunção pode ter contribuído para pacientes com comportamento violento". Mais recentemente (1997), a tecnologia de imagens cerebrais por PET mostrou também que os psicopatas diferiram de não-psicopatas no padrão de fluxo cerebral relativo durante o processamento de palavras com coneteúdo emocional. As mudanças de personalidade adquiridas devido à injúria cerebral são também acompanhadas por uma diminuição na atividade neural na área frontal (veja figura abaixo).
Uma imagem PET de diminuição na atividade neural (parte superior das imagens) do cérebro de um paciente que sofreu trauma cranioencefálico (1A), e que desenvolveu mudanças de personalidade. A Figura 1B mostra um cérebro normal na mesma área.Brain Imaging Center, University of California, Irvine
Evidências indiretas do papel do córtex pré-frontal no comportamento psicopático vêm de outros experimentos. No Canadá, uma equipe liderada por Dominique LaPierre comparou 30 psicopatas a 30 criminosos não-psicopatas, usando testes que avaliam a função de duas partes do córtex pré-frontal: o órbito-frontal e as áreas ventromediais frontais. Os resultados mostraram que "os psicopatas eram prejudicados em todas as tarefas órbito-frontais e ventromediais", mas não na função de outras áreas do córtex frontal. As similaridades entre psicopatas e pacientes com dano de córtex pré-frontal apareceu em várias áreas do estudo. "Os psicopatas e pacientes órbito-frontais ou ventromediais mostram uma preocupação exagerada com parceiros sexuais, atuando de uma forma promíscua e impessoal", observaram os pesquisadores."Ambos são marcantes quanto à sua falta de julgamento ético e social. Ambos negligenciam as consequências a longo prazo de suas ações, escolhendo a gratificação imediata ao invés de um planejamento cuidadoso".

Conclusões

Em resumo, ainda que muitos destes resultados devam ser tomados com cuidado, todos eles convergem para uma importante descoberta: a de que os cérebros de criminosos violentos e sociopatas são na verdade alterados de maneira sutil, e que este fato pode agora ser revelado por novas técnicas sofisticadas. Uma consideração importante é que o comportamento humano é extremamente complicado e o resultado de uma interação de muitos fatores sociais, biológicos e psicológicos. "Existem muitos fatores envolvidos no crime. A função cerebral é apenas uma delas", diz o Prof. Adrian Raine. "Mas, ao entendermos a sua função cerebral, estaremos em uma melhor posição para entender as causas completas do comportamento violento".
Outra desvantagem dos estudos retrospectivos (isto é, feitos após o distúrbio aparecer em indivíduos estudados), é que é difícil separar causa da consequência. Em outras palavras, será que o déficit cerebral observado é a causa da anormalidade psicológica ou apenas o seu resultado?. Além disso, os resultados são ainda preliminares e não dão credibilidade ao uso destes métodos de neuroimagem e avaliação da função para "diagnosticar" indivíduos em risco de sociopatia; deste modo eles não devem ser usados para propósitos clínicos ou forenses no presente estágio.
Portanto, existe razoável evidência que os os sociopatas têm uma disfunção do cérebro frontal. Porque e quando esta disfunção aparece ainda é totalmente desconhecido, até agora


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O autor


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Renato M.E. Sabbatini, PhD. neurocientista e especialista em Informática Biomédica, doutor pela Universidade de São Paulo e pós-doutorado no Instituto de Psiquiatria Max Planck em Munique, na Alemanha. Atualmente, é diretor do Núcleo de Informática Bimédica da Unicamp e professor de Informática Médica da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual de Campinas, (Campinas, Brasil). Email: sabbatin@nib.unicamp.br

Copyright 1998 Universidade Estadual de CampinasRevista  "Cérebro & Mente"Uma Realização:
Núcleo de Informática Biomédica

O cérebro do psicopata


O Cérebro do Psicopata

Renato M.E. Sabbatini, PhD

Introdução
Almas Atormentadas, Cérebros Doentes
Emocionalmente Insensíveis
Para Saber Mais
O Autor 

 
Introdução

maioria das pessoas é incapaz de entender como uma personalidade antisocial e criminosa, tal como a de um "serial killer" (assassino serial), é possível, em um ser humano como nós.
Não são apenas os assassinos seriais, mas uma grande proporção de criminosos violentos em nossa sociedade (em torno de 25% dos prisioneiros) mostram muitas características do que a psiquiatria chama de "sociopatia", um termo melhor e mais preciso do que psicopatia. A DSM-IV, o importante manual de diagnóstico usado por psicólogos e psiquiatras, define um distúrbio mais geral, denominado mais apropriadamente, "distúrbio da personalidade antisocial" (DPA) e lista suas principais características, que podem ser facilmente reconhecidas em indivíduos afetados. A Organização Mundial de Saúde também definiu sociopatia em sua classificação de doenças CID-10,usando o termo "distúrbio da personalidade dissocial".
Os sociopatas são caracterizados pelo desprezo pelas obrigações sociais e por uma falta de consideração com os sentimentos dos outros. Eles exibem egocentrismo patológico, emoções superficiais, falta de auto-percepção, pobre controle da impulsividade (incluindo baixa tolerância para frustração e limiar baixo para descarga de agressão), irresponsabilidade, falta de empatia com outros seres humanos e ausência de remorso, ansiedade e sentimento de culpa em relação ao seu comportamento anti-social. Eles são geralmente cínicos, manipuladores, incapazes de manter uma relação e de amar. Eles mentem sem qualquer vergonha, roubam, abusam, trapaceiam, negligenciam suas famílias e parentes, e colocam em risco suas vidas e a de outras pessoas. O pesquisador canadense Robert Hare, um dos maiores especialistas do mundo em sociopatia criminosa, os caracteriza como "predadores intra-espécies que usam charme, manipulação, intimidação e violência para controlar os outros e para satisfazer suas próprias necessidades. Em sua falta de consciência e de sentimento pelos outros, eles tomam friamente aquilo que querem, violando as normas sociais sem o menor senso de culpa ou arrependimento."
Os sociopatas são incapazes de aprender com a punição, e de modificar seus comportamentos. Quando eles descobrem que seu comportamento não é tolerado pela sociedade, eles reagem escondendo-o, mas nunca o suprimindo, e disfarçando de forma inteligente as suas características de personalidade. Por isso, os psiquiatras usaram no passado o termo "insanidade moral" ou "insanité sans délire" para caracterizar esta psicopatologia. Um sociopata clássico foi Donatien-Alphonse-François de Sade (1740-1814), um nobre francês cuja preferências sexuais perversas e novelas (tais como Justine) originaram o termo sadismo.
O indivíduo sociopata geralmente exibe um charme superficial para as outras pessoas e tem uma inteligência normal ou acima da média. Não mostra sintomas de outras doenças mentais, tais como neuroses, alucinações, delírios, irritações ou psicoses. Eles podem ter um comportamento tranqüilo no relacionamento social normal e têm uma considerável presença social e boa fluência verbal. Em alguns casos, eles são os líderes sociais de seus grupos. Muito poucas pessoas, mesmo após um contato duradouro com os sociopatas, são capazes de imaginar o seu "lado negro", o qual a maioria dos sociopatas é capaz de esconder com sucesso durante sua vida inteira, levando a uma dupla existência. Vítimas fatais de sociopatas violentos percebem seu verdadeiro lado apenas alguns momentos antes de sua morte.
O mais assustador é o fato que entre 1 e 4% da população é sociopata em maior ou menor escala. Claro, a maioria das pessoas com DPA não é criminosa e é capaz de se controlar dentro dos limites da tolerabilidade social. Eles são considerados somente como "socialmente perniciosos", ou têm personalidade odiosas, e cada um de nós conhece alguém que se ajusta a esta descrição. Políticos corruptos e cínicos, que sobem rapidamente na carreira, líderes autoritários, pessoas agressivas e abusadoras, etc., estão entre eles. Uma característica comum é que eles se engajam sistematicamente em enganação e manipulação de outros para ganhos pessoais. De fato, muitos sociopatas não-violentos e adaptados podem ser encontrados em nossa sociedade. Um estudo epidemiológico do NIMH registrou que somente 47% daqueles que eram caracterizados como tendo DPA tinham uma história de processo criminal significativo. Os eventos mais relevantes para estas pessoas ocorrem na área de problemas de trabalho, violência doméstica, tráfico e dificuldades conjugais severas. Muitas pessoas evitam indivíduos com este distúrbio de personalidade porque eles são irritáveis, argumentadores e intimidadores. Seu comportamento frequentemente é rude, impredizível e arrogante.
A sociopatia é reconhecida precocemente em um indivíduo: ela começa na infância ou adolescência e continua na vida adulta (o diagnóstico é possível em torno de 15 a 16 anos). Crianças sociopatas manifestam tendências e comportamentos que são altamente indicativos de seu distúrbio. Por exemplo, eles são aparentemente imunes a punição dos pais, e não são afetados pela dor. Nada funciona para alterar seu comportamento indesejável, e consequentemente os pais geralmente desistem, o que faz a situação piorar. Os sociopatas violentos mostram uma história de torturar pequenos animais quando eles eram crianças e também vandalismo, mentiras sistemáticas, roubo, agressão aos colegas da escola e desafio à autoridade dos pais e professores.
No entanto, apenas uma pequena fração dos sociopatas se desenvolve em criminosos violentos, estrupradores e assassinos seriais. Em casos mais severos, a doença pode evoluir para canibalismo e rituais sádicos de tortura e morte, frequentemente de natureza bizarra. Há um amplo consenso que estas formas extremas de sociopatia violenta são intratáveis e que seus portadores devem ser confinados em celas especiais para criminosos insanos por toda a vida.Um sociopata típico deste tipo foi retratado por Dr. Hannibal "O Canibal" Lecter no filme e livro "O Silêncio dos Inocentes".
Os próprios sociopatas se descrevem como "predadores" e geralmente são orgulhosos disto. Eles não têm o tipo mais comum de comportamento agressivo, que é o da violência acompanhada de descarga emocional (geralmente raiva ou medo) e nem ativação do sistema nervoso simpático (dilatação das pupilas, aumento dos batimentos cardíacos e respiração, descarga de adrenalina, etc). Seu tipo de violência é similar à agressão predatória, que é acompanhada por excitação simpática mínima ou por falta dela, e é planejado, proposital, e sem emoção ("a sangue-frio"). Isto está correlacionado com um senso de superioridade, de que eles podem exercer poder e domínio irrestrito sobre outros, ignorar suas necessidades e justificar o uso do que quer que eles sintam para alcancar seus ideais e evitar consequências adversas para seus atos. Por exemplo, em Justine, o personagem que incorpora o Marquês de Sade diz que tudo é justificado quando o objetivo é a gratificação de seus sentidos, e que a ele é permitido usar outros seres humanos da forma como ele desejar para aquele propósito.
O fato dos sociopatas possuirem pouca empatia para o sofrimento dos outros tem sido demonstrado experimentalmente em muitos estudos, os quais têm mostrado que eles exibem um processamento anormal de aspectos emocionais da linguagem, e que geralmente eles possuem resposta fisiológica fraca (no sistema nervoso autônomo) a imagens, palavras e situações de alto conteúdo emocional. Como acontece com os predadores, os sociopatas são capazes de uma atenção extremamente alta em certas situações.
O distúrbio sociopático também está altamente associado com a incidência de abuso de drogas e alcoolismo. De fato, esta associação piora os aspectos do comportamento sociopático, assim considera-se que eles são mutuamente reforçadores.
O DPA é relativamente fácil de diagnosticar. O mesmo Dr. Hare desenvolveu uma escala de avaliação, chamada Psychopathy Checklist-Revised (PCL-R), que é útil para este propósito, particularmente na avaliação de criminosos (a população forense). Você pode testar a si próprio usando uma escala on-line disponível no Internet Mental Health.
Sociopatas violentos ocasionam um alto preço para a sociedade humana. Nos EUA, mais da metade dos policiais mortos por criminosos eram vítimas de sociopatas. O DPA é comum entre dependentes de drogas, mulheres e crianças, gangsters, terroristas, sádicos, torturadores, etc. Além disso, "os psicopatas são aproximadamente três vezes mais propensos a recidivar - ou quatro vezes mais propensos a recidivar violentamente do que os não sociopatas", de acordo com um estudo recente. Citando novamente o Dr Robert Hare: "É enorme o sofrimento social, econômico e pessoal causado por algumas pessoas cujas atitudes e comportamento resultam menos das forças sociais do que de um senso inerente de autoridade e uma incapacidade para conexão emocional do que o resto da humanidade. Para estes indivíduos - os psicopatas - as regras sociais não são uma força limitante, e a idéia de um bem comum é meramente uma abstração confusa e inconveniente".
Além disso, sob situações de stress, tais como em guerras, pobreza geral e quebra da economia, surtos epidêmicos ou brigas políticas, etc., os sociopatas podem adquirir o status de líderes regionais ou nacionais e sábios, tais como Adolf Hitler, Stalin, Saddam Hussein, Idi Amin, etc. Quando eles alcançam posições de poder, eles podem causar mais danos do que como indivíduos.
Qual é a causa da sociopatia? Como o cérebro está envolvido? Como isto pode ser prevenido e tratado?
Estas são questões importantes para a humanidade, para a lei e medicina. A curva ascendente da violência sem sentido, frequentemente por pessoas jovens (a medida que o tempo passa, mais e mais jovens...), impõe um senso de urgência em obter respostas para elas.
Neste artigo exploraremos o que a neurociência sabe sobre este distúrbio misterioso.

Mais uma: Psicopata


Psicopata


Trechos de “O psicopata — Um camaleão na sociedade atual” ( os que achei mais relevantes)
(ed. Paulinas, 2005), do espanhol Vicente Garrido, tradução
de Juliana Teixeira:


“Os indivíduos com traços psicopáticos são pessoas que agem somente em benefício próprio, não importando os meios utilizados para alcançar o seu objetivo. Além disso, são desprovidos do sentimento de culpa e dificilmente estabelecem laços afetivos com alguma pessoa — quando o fazem, é simplesmente por puro interesse.” (do prefácio da psicóloga Ivone Rodrigues Lisboa Patrão)

“Os psicopatas geralmente falam muito, expressam-se com encanto, têm respostas espertas e contam histórias — muito improváveis, mas convincentes — que lhes deixam em uma boa situação perante as pessoas. Não obstante, o observador atento vê que eles são muito superficiais e nada sinceros, como se estivessem lendo mecanicamente um texto.

Falam de coisas atrativas para as quais não têm preparo, como poesia, literatura, sociologia ou filosofia. Não lhes importa ficar evidente que suas histórias são falsas, algo que nem sempre é fácil acontecer, considerando o desembaraço e a imaginação com que empreendem os seus relatos.” (pág. 37)

“O psicopata tem uma auto-estima muito elevada, um grande narcisismo, um egocentrismo fora do comum e uma sensação onipresente de que tudo lhe é permitido. Ou seja, sente-se o ‘centro do universo’ e se crê um ser superior regido por suas próprias normas. É compreensível que, com tal percepção de si mesmo, pareça diante do observador como altamente arrogante, dominante e muito seguro de tudo o que diz. Fica evidente que ele procura controlar os outros e parece incapaz de compreender que haja pessoas com opiniões diferentes das suas.

Mergulhado nesse mundo de superioridade, raramente o psicopata se preocupa com problemas financeiros, legais ou pessoais que possa ter, pois acredita que são ‘dificuldades transitórias’, 
produtos da má sorte ou do azar de terceiros.

Alguém assim não precisa envolver-se em metas realistas de longo prazo e, quando estabelece um objetivo, logo se vê que não tem as qualidades necessárias para alcançá-lo, nem sabe, na verdade, que é preciso fazer algo. Ele de fato acredita que suas habilidades lhe permitirão conseguir qualquer coisa.” (pág. 38)

“Mentir, enganar e manipular são talentos naturais para o psicopata. Quando é demonstrado o seu embuste, não se embaraça; simplesmente muda a sua história ou distorce os fatos para que se encaixem de novo.” (pág. 41)

“A convicção com a qual o psicopata conta a sua história vem acompanhada da crença de que o mundo se encontra dividido em dois grupos: os que ganham e os que perdem, de tal modo que 
lhe parece um absurdo não se aproveitar das fraquezas alheias.” 
(pág. 41)

“Os psicopatas parecem possuir uma incapacidade flagrante para sentir de modo profundo a categoria completa das emoções humanas. Às vezes, ao lado de uma aparência fria e distante, manifestam episódios dramáticos de afetividade, que nada mais 
são que pequenas exibições de falsa emotividade.” (pág. 42)

“Por que, então — podemos perguntar —, uma pessoa assim se casa, por que decide ter uma família? As razões variam, evidentemente, mas em geral a resposta é que, quando decidiu casar-se ou ter filhos, naquele momento era uma escolha que servia a seus fins imediatos e acerca da qual não adquiriu nenhum tipo de responsabilidade.” (pág. 47)

“Na realidade, os psicopatas usam metáforas, já que, em seu comportamento enganoso e manipulador, a linguagem florida e figurativa joga uma parte importante.” (pág. 71)

“A conclusão (...) é uma população que alberga, cada vez mais, jovens transformados em adultos sem um claro código de valores, que assumem o olhar cínico e desconfiado de uma sociedade 
em que o sucesso material talvez seja o único bem seguro e tangível.” (pág. 83)

“O ser humano está cada vez mais isolado, mais sozinho, apesar de poder se comunicar quase instantaneamente com qualquer parte do mundo. Caso aprenda a viver sem necessitar dos outros, aprenderá a não se preocupar com os outros, um traço básico na personalidade psicopática.” (pág. 85)

“De fato, o psicopata está livre das alucinações e dos delírios que constituem os sintomas mais espetaculares da esquizofrenia. Sua aparente normalidade, sua ‘máscara de sanidade’, torna-o mais difícil de ser reconhecido e, logicamente, mais perigoso.” (pág. 99)

“É inquestionável a habilidade que têm os psicopatas de se rodear de pessoas sem escrúpulos, que lhes facilitam realizar suas ambições.” (pág. 102)

“A característica do psicopata é não demonstrar remorso algum, nem vergonha, quando elabora uma situação que ao resto dos mortais causaria espanto.” (pág. 117)


Atire a primeira flor
Quando tudo parece caminhar errado, seja você o primeiro passo certo.Se tudo parece escuro, se nada puder ser visto, acenda a primeira luz. Traga para a treva, você primeiro, a pequena lâmpada. Quando todos estiverem chorando, tente você o primeiro sorriso, não na forma de lábios ardentes, mas na de um coração que compreenda, de braços que confortem. Se a vida inteira for um imenso não, parta você na busca do primeiro sim, ao qual tudo de positivo deverá seguir-se. Quando ninguém souber coisa alguma, é você mesmo, corrigindo-se a si mesmo. Quando alguém estiver angustiado na procura, observe bem o que se passa. Talvez seja em busca de você mesmo que este seu irmão esteja. Quando a terra estiver seca, que sua mão seja a primeira a regá-la. Quando a flor estiver murcha, seja a primeira a separar o joio,a arrancar a praga, a afastar a pétala, a acariciar a flor. Se sua porta estiver fechada, de você venha a primeira chave. Se o vento sopra frio, que seu calor humano seja a primeira proteção e o primeiro abrigo. Se o pão for apenas massa, e não estiver assado, seja você o primeiro forno para transformá-lo em alimento.Não atire a primeira pedra em quem erra, de acusadores o mundo está cheio. Nem, por outro lado, aplauda o erro. Ofereça sua mão primeiro para levantar quem caiu, dê sua atenção primeiro para mostrar o caminho de volta, compreendendo que o perdão regenera, que é a compreensão edificada, que o possibilita, e que o entendimento reconstrói. Toda escada tem um degrau, para baixo ou para o alto.Toda estrada tem um primeiro passo, para frente ou para trás. Toda vida tem um primeiro gosto de existência ou de morte. Atire pois, você, com ternura e vontade de entender, quando tudo for pedra, a primeira e decisiva flor.


pesquei na net- desconheço o autor.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Memória


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Na verdade, a célula nervosa ou neurônio é o elemento-chave e consegue gravar os eventos da vida por meio de conexões, chamadas sinapses, que ocorrem entre as células e têm longa duração. Os neurônios são células muito diferentes das que existem em outros órgãos, como a pele ou o fígado. Enquanto nossa epiderme é renovada continuamente, as células do fígado se regeneram apenas quando sofrem algum dano, já os neurônios são células permanentes e têm pouquíssima capacidade de regeneração.
Nossas células cerebrais duram a vida toda. Embora exista uma certa fragilidade do tecido nervoso em termos de regeneração, é essa constância ao longo do tempo que permite também a manutenção das memórias e conexões indispensáveis ao nosso computador orgânico pessoal. Cada velha célula nervosa contém em si as marcas de todas as emoções, aprendizados, acertos e erros cometidos por toda a vida. Por isso é indispensável que não seja trocada a cada 120 dias, tal como as células sanguíneas.
No cérebro são mais de 100 bilhões de neurônios conectados em uma rede de proporções inimagináveis. Nos últimos sessenta e poucos anos, passamos de um computador como o ENIAC que pesava várias toneladas para os pequenos e poderosos desktops e workstations capazes de controlar o trânsito de uma metrópolis como São Paulo (mais ou menos, se pensarmos na hora do rush). Todavia, os computadores mais modernos ainda não chegam nem perto da fantástica capacidade de processamento de dados do cérebro humano mais simples. Aos poucos vamos aprendendo a entender melhor o funcionamento dessa máquina cujo manual de usuário ainda estamos escrevendo.
A memória é uma das funções consideradas "distribuídas" no sistema nervoso central. Espalha-se por vários centros cerebrais do mesmo modo que acontece com a atenção, sobre a qual falamos em textos anteriores. As neurociências descobriram que não existe um único lugar específico responsável pela memória, ao invés disso detectaram vários componentes ou tipos de memória que se articulam de modo integrado em rede.
Esse funcionamento cerebral assemelha-se ao que entendemos atualmente como cloud computing, só que bem mais elaborado. Meu falecido professor de neurofisiologia da USP, o ilustre César Timo-Iaria nos ensinava que "o ser humano só inventa coisas possíveis" que já existem na natureza. Assim, nos explicou em uma aula como a fibra óptica tem o mesmo princípio de condução de luz presente em um broto de feijão; a mesma analogia vale para os computadores e o cérebro.
Como funciona, afinal, a memória humana?
Em primeiro lugar, temos as memórias de longo prazo ou tardias. A memória tardia pode ser do tipo explícita (também denominada declarativa) ou implícita(também chamada de procedimental).
 Há também um terceiro tipo, relacionada à memória de curto prazo que é chamada de operacional.
A memória explícita é aquela que podemos recuperar como algo claro e que pode ser enunciado verbalmente. Essa memória pode ser do tipo episódica que é contextualizada no tempo e no espaço ou semântica, independente de uma conexão tempo-espacial.
Imagine que você chegou de viagem e está descrevendo sua ida a um restaurante italiano. Você se lembra quem estava com você, a que horas chegaram, como era o local, o vinho que tomou (espero que tenha sido um Barolo) e as iguarias que o acompanharam. Sim, às vezes a comida é para acompanhar o vinho e não o contrário! Tudo isso é memória episódica, ligada a um tempo e local específicos. Já o que significa a palavra vinho, o tipo de comida que é a italiana, com massas ou assados fartos, o sabor de uma sardella e outras tantas coisas que você sabe e pode descrever mas não se lembra nem onde, nem quando aprendeu, a isso chamamos de memória semântica.
Seguindo ainda no raciocínio gastronômico, o modo de manusear os talheres ou de chamar o garçom e tantos outros procedimentos que executamos com o corpo sem pensar e talvez até com dificuldade de verbalizar como o fazemos, a isso chama-se memória implícita.
Por fim, a memória operacional (working memory em inglês) é utilizada por um curto período de tempo e é apagada para dar lugar a outras informações. Uma situação típica acontece quando estamos dirigindo e continuamente olhamos pelos espelhos retrovisores e sabemos, por exemplo, que existe um caminhão ou uma motocicleta à direita, ou ainda um automóvel branco à frente e que sinaliza para virar no semáforo. Todas essas informações são mantidas apenas pelo tempo em que estamos engajados na tarefa e depois são realmente deletadas dos nossos hipocampos, apagadas para sempre.
Há algum tempo, os cientistas acreditavam que em primeiro lugar um evento deveria passar pela memória de curto prazo e depois, de acordo com sua relevância, seria transferido para os sistemas de memória de longo prazo. Hoje se sabe que os sistemas de memória descritos atuam de modo relativamente independente.
Cada um dos aspectos da memória referidos acima são formados por circuitos próprios e específicos. Além disso, os hipocampos, localizados nas porções mais internas dos lobos temporais, parecem juntar os fragmentos localizados em certos giros cerebrais e integra-los em eventos particulares. Assim, as memórias:
 visuoespaciais estão localizadas na região parieto-occipital,
as olfativas nos lobos temporais,
 a noção de tempo nos lobos frontais, enquanto isso, os hipocampos juntam todos os fragmentos de memórias na recordação de um único evento em que você viu, cheirou, caminhou ou falou algo em um determinado lugar e em um certo momento.
Do ponto de vista prático, é interessante compreender que os vários tipos de memória movimentam áreas cerebrais diversas e utilizar todos os meios possíveis para fixar um conteúdo é muito interessante. A repetição e o ensaio mental são uma forma de reforçar a memória, a famosa "decoreba". Não é tudo, mas ajuda. Também o ato de recontar com as próprias palavras aquilo que leu, ou seja, formar paráfrases, é importante para garantir a assimilação do que foi aprendido. Criar esquemas, gráficos, tabelas e outras formas de apresentação visual ou píctórica de algo que foi expresso em um texto escrito é mais uma maneira de ativar áreas do sistema nervoso que não estavam implicadas até então.
Por fim, garantir que interpretou adequadamente o que leu, reconstruindo a sequencia do pensamento e o encadeamento das idéias do autor completa um método inteligente de estudar e aprender para toda a vida.
Voltando à questão inicial, dissemos que os seres humanos se distinguiram dos outros animais pela capacidade de acumulação de conhecimento que foi transmitido pela história e pela cultura. Talvez pudéssemos usar melhor nossas capacidades. Se cultivarmos mais a memória das coisas fundamentais, é possível que lembremos do porquê vivemos do modo que vivemos e que compartilhamos todos o mesmo planeta. Com isso em mente, poderemos ter uma atitude mais responsável com a vida de todos os seres e habitar mais harmoniosamente nossa casa planetária.

pesquei na net
Tel: 11-3266-7024/2476-0346

sábado, 14 de julho de 2012

Muito bom...SÍNDROME DE ASPERGER


SÍNDROME DE ASPERGER: UM DESAFIO NA SALA DE AULA

Maria Jordélia de Macedo*
Aparecida Barbosa de Melo Ferreira**
RESUMO

Se desejarmos uma escola inclusiva, teremos sempre muitos desafios nas nossas práticas pedagógicas. Receber crianças com Necessidades Educacionais Especiais (NEE) em sala de aula causa sempre um grande impacto. É necessário saber olhar, interpretar e só depois intervir diante dos comportamentos e atitudes dessas crianças. Não basta que os professores tenham só um bom senso ou se sensibilize com tal situação, mas principalmente que tenham uma formação adequada de forma que possa atender da melhor forma possível tais alunos e assim garantir igualdade de oportunidades para todos ao invés de conduzi-los para o insucesso escolar.
Pensando assim, o presente artigo pretende enriquecer as práticas na educação especial, considerando o que é a Síndrome de Asperger (SA), como ela se desenvolve no indivíduo e quais as estratégias úteis para vencer os desafios em sala de aula.
A SA é uma desordem pouco comum no desenvolvimento neurologicamente, no qual apresentam desvios e anormalidades em três amplos aspectos: relacionamento social, uso da linguagem para a comunicação e certas características de comportamento e estilo envolvendo características repetitivas ou perseverativas sobre um número limitado, porém intenso, de interesses.

Palavras-Chave: Síndrome de Asperger. Desafio. Estratégias

________________________
* Professora Orientadora. Pedagoga (UFPE), Especialista em Psicopedagogia (UPE);
** Graduada em Pedagogia pela UVA – Universidade Vale do Acarau. Pós Graduanda em nível de Especialização: Educação Especial e Práticas Inclusivas, FACOL.




Introdução

             As crianças diagnosticadas com Síndrome de Asperger (SA) são mais um dos desafios que educadores encontram em sala de aula. De modo geral, elas são vistas como “esquisitas”, e muitas vezes, por apresentar falta de jeito para interagir socialmente, são motivos de brincadeiras inadequadas pelos colegas. Apresentam interesse constante por determinados assuntos, tornando-se, na maioria das vezes, com uma apresentação “estranha”. Estas crianças demonstram falta de compreensão da subjetividade das relações humanas, principalmente das regras do convívio social. São inflexíveis e demonstram falta de habilidade para conviver com mudanças, por esse motivo essas pessoas com SA estão com facilidade sujeitas à irritabilidade e são emocionalmente vulneráveis. No entanto, as crianças com SA apresentam frequentemente, níveis de inteligência na média ou acima dela, também demonstra uma excelente capacidade de memorização. Seu interesse freqüente por determinado assunto, juntamente com sua originalidade intelectual, pode mais tarde trazer-lhe sucessos na vida profissional. Diante de casos apresentados em nossa sala de aula, de crianças com SA, é importante que o professor possa ter conhecimento sobre o que é a Síndrome de Asperger e quais seriam algumas das alternativas mais adequadas para trabalhar com essas crianças em sala de aula. Para os educadores, é necessário compreender o aluno com está Síndrome, saber lhe dar e poder traçar caminhos que os mesmos possam desenvolver-se. Já que desejamos uma escola que seja verdadeiramente inclusiva, então temos que repensar as nossas práticas educativas.

Eu tenho uma espécie de dever, de dever de sonhar de sonhar sempre, pois sendo mais do que um espectador de mim mesmo, eu tenho de ter o melhor espetáculo que posso. E assim me construo a ouro e sedas, em salas supostas, invento palco, cenário para viver o meu sonho entre luzes brandas e músicas invisíveis. (Fernando Pessoa).

É importante saber olhar, analisar e só depois intervir diante de comportamentos e atitudes incomuns ou até mesmo que não se enquadram dentro dos padrões estabelecidos como sociais. Para isso não basta apenas ter bom senso ou sensibilidade, mas principalmente da formação adequada dos professores para que possam trabalhar da melhor forma possível com estes alunos, só assim garantiremos a igualdade de oportunidades para todos ao invés de conduzi-los para o insucesso na escola. É necessário enriquecer as práticas pedagógicas, assumir um papel inovador no que se refere às estratégias úteis e necessárias para trabalhar com crianças portadoras da Síndrome de Asperger. Para transformarmos a prática pedagógica é importante rever também a questão da formação do educador. Celso Vasconcelos em seu livro: Resgate do Professor como sujeito de transformação, aponta alguns dos graves desafios que o professor precisa enfrentar para dar conta do conjunto das questões que envolvem as atividades docentes:

*Capacidade de trabalhar a dialética humanização-desumanização, não só entender de desenvolvimento humano, mas também de infância roubada, de negação de direitos e oportunidades, de truncamentos nos processos educativos, para poder ser professor dos alunos concretos que terá ou tem. * Capacidade de gerir processos de mudança. * Visão política de totalidade, para poder entender as complexas relações da escola com a comunidade e, em especial, com a sociedade.

Evidentemente que o professor precisa estar sempre disposto a se rever, buscar, fazer uma autocrítica e se comprometer sempre com a superação de seus limites.

Ser professor é ser eterno aprendiz: quem não tem disposição para aprender, quem acha que já sabe, não tem condições de ensinar, qual seja, de fazer o outro aprender! (sf. Demo, 2000: 85).  “É praticamente impossível mudar a prática de sala de aula sem vinculá-la a uma proposta conjunta da escola, a uma leitura da realidade, à filosofia educacional, às concepções de pessoa, sociedade, currículo, planejamento, disciplina, a um leque de ações e intervenções e interações. Não iremos muito longe se ficarmos discutindo, por exemplo, metodologias de ensino de forma isolada”. (Celso Vasconcelos).

Para enriquecer as nossas práticas pedagógicas é necessário juntar essas inovações ao Projeto Político Pedagógico (PPP), isto é, trabalhar essas inovações de forma conjunta na escola. Se discutir as metodologias de ensino de forma isolada não chegará a lugar algum. Portanto, mas do que nunca, numa escola inclusiva, o PPP deve ser objeto de mudança e essa mudança só poderá acontecer se resultar de uma ação coletiva e participativa, comprovada pela vontade e compromisso de cada um que constrói a escola.

1.    Síndrome de Asperger

          A Síndrome de Asperger faz parte do aspecto autista, apenas tornando-se diferente do autismo clássico porque não apresenta nenhum atraso ou retardo global no que diz respeito ao desenvolvimento cognitivo ou na linguagem do indivíduo.
          Essa síndrome é mais comum no sexo masculino, sendo este chegando aproximadamente a ser atingido quatro vezes mais do que o feminino. A SA foi exposta no ano de 1920, pela primeira vez, por Schucharewa, neurologista da Rússia, que aponta essas pessoas como indivíduos que apresentam persistência em se afastarem das relações sociais. No ano de 1944, um pediatra austríaco, chamado de Hans Asperger, divulgou alguns casos de psicopatia autística infantil. Posteriormente, no ano de 1981, L. Wing, uma psiquiatra norte americana definiu esta pertubação com SA para homenagear Hans Asperger. Porém, só foi reconhecida mais tarde, como critério de diagnóstico no DSM – IV ( Manual Diagnóstico e Estatístico de Desordens Mentais ), no ano de 1994.
           O novo critério do DSM – IV para diagnóstico de SA, inclui a presença de:
 Particularidades qualitativas na interação social, envolvendo alguns ou todos dos critérios:
·         Uso de peculiaridade no comportamento não-verbal para regular a interação social;
·         Falha no desenvolvimento de relações com pares da sua idade;
·         Falta de interesse espontâneo em dividir experiências com outros;
·         Falta de reciprocidade emocional e social.
Padrões restritos, repetitivos e estereotipados de comportamento, interesses e atividades envolvendo:
·         Preocupação com um ou mais padrões de interesse restritos e estereotipados;
·         Inflexibilidade a rotinas e rituais não funcionais específicos;
·         Maneirismos motores estereotipados ou repetitivos, ou preocupação com partes de objetos.
            De acordo com o DSM – IV os critérios para se poder diagnosticar a Síndrome de Asperger são:

           Critérios Diagnósticos para F84. 5 – 299.80 Transtorno de Asperger
A.    Prejuízo qualitativo na interação social, manifestado por pelo menos dois dos seguintes quesitos:
(1)   Prejuízo acentuado no uso de múltiplos comportamentos não-verbais, tais como contato visual direto, expressão facial, posturas corporais e gestos para regular a interação social.
(2)   Fracasso para desenvolver relacionamentos apropriados ao nível de desenvolvimento com seus pares.
(3)   Ausência de tentativa espontânea de compartilhar prazer, interesses ou realizações com outras pessoas (por ex. deixar de mostrar, trazer ou apontar objetos de interesse a outras pessoas).
(4)   Falta de reciprocidade social ou emocional.

B.     Padrões restritos, repetitivos e estereotipados de comportamentos, interesses e atividades, manifestados por pelo menos um dos seguintes quesitos;
(1)   Insistente preocupação com um ou mais padrões estereotipados e restritos de interesses, anormal em intensidade ou foco.
(2)   Adesão aparentemente inflexível a rotinas e rituais específicos e não funcionais.
(3)   Maneirismos motores estereotipados e repetitivos (por ex., dar pancadinhas ou torcer as mãos ou os dedos, ou movimentos complexos de todo o corpo).
(4)   Insistente preocupação com partes de objetos.
C.     A perturbação causa prejuízo clinicamente significativo nas áreas social e ocupacional ou outras áreas importantes de funcionamento.
D.    Não existe um atraso geral clinicamente significativo na linguagem (por ex., palavras isoladas são usadas aos 2 anos, frases comunicativas são usadas aos 3 anos).
E.     Não existe um atraso clinicamente significativo cognitivo ou no desenvolvimento de habilidades de auto-ajuda apropriadas à idade, comportamento adaptativo (outro que não na interação social) e curiosidade acerca do ambiente na infância.
F.      Não são satisfatórios os critérios para um outro Transtorno Invasivo do Desenvolvimento ou Esquizofrenia.

Mesmo que os sintomas do comportamento dessas crianças com SA estejam bem definidos, pouco se sabe sobre as raízes neurobiológicas dessa desordem. Segundo estudos realizados, os indivíduos com Autismo apresentam anormalidades nos lobos frontais e parietais.
No decorrer desse tempo os termos que utilizaram para definir essa síndrome foram muitos, chegando até a criar grande confusão entre os pais e educadores.
Essa síndrome se caracteriza por apresentar desvios e anormalidades em alguns aspectos do desenvolvimento, como; interação social, uso da linguagem para a comunicação e algumas características repetitivas ou perserverativas sobre um limitado número, porém bastante intenso, de interesses. Os indivíduos não-autistas conseguem captar informações cognitivas e emocionais de outras pessoas simplesmente através de algumas pistas deixadas no ambiente social ou em traços em sua expressão facial, na linguagem corporal, no humor ou na ironia. Enquanto que os indivíduos com SA não apresentam essa capacidade, sendo assim não conseguem reconhecer nem entender os pensamentos e sentimentos dos demais, então são incapazes de prever o que se pode esperar dos demais ou o que esses podem esperar deles. Dessa forma, são levadas a apresentar comportamentos impróprios e anti-sociais.
Mesmo tendo características semelhantes ao Autismo, os indivíduos com SA na maioria das vezes têm habilidades cognitivas elevadas.
A SA é conceitualizada como a disfunção mais ligeira do aspecto da perturbação autista. Neste conceito, Van Krevelen (cit in Wing, 1991), refere que ao nível mais grave do mesmo, se encontram crianças que “vivem no seu próprio mundo”, enquanto que no nível mais discreto “vivem no nosso mundo, mas à sua maneira”.
As crianças com Síndrome de Asperger até podem procurar se inteirar socialmente, mas sempre apresentarão dificuldades em interpretar e aprender as capacidades de interação social e emocional com os outros.
Assim, podemos perceber que nem todas as crianças com SA agem igualmente. Do mesmo jeito, sendo menino ou menina, cada crianaç tem sua maneira própria e singular e os sintomas dessa síndrome são apresentados de maneira específica para cada indivíduo. Portanto, não adianta pensar que existe uma receita pronta para vivenciar com essas crianças em sala de aula, do mesmo modo que não existe uma metodologia ideal para ser usada com crianças que não apresentam Síndrome de Asperger.


2.      Estratégias de intervenções em sala de aula com portadores da Síndrome de Asperger

Diante do quadro apresentado por um indivíduo com SA, não existe uma fórmula exata para lidar com crianças e jovens com Síndrome de Asperger em sala de aula, pois cada indivíduo com SA tem suas características típicas da síndrome, porém manifestadas de forma individual e específica em cada uma delas, mas percebe-se que podem ser usadas algumas estratégias que serão úteis e ajudarão bastante a dar respostas ás necessidades educativas especiais destas crianças. É importante perceber que serão apresentadas algumas sugestões de uma forma geral, portanto deve ser adaptado às necessidades únicas de cada indivíduo portador dessa síndrome.
De acordo com os estudos realizados a cerca da SA, é bastante relevante destacar algumas intervenções realizadas em sala de aula.
Confrontadas com mudanças, mesmo sendo rápidas, as crianças com SA ficam bastante ansiosas, altamente sensíveis. É importante que o professor:
·         Evite as mudanças, principalmente as surpresas, pois as crianças com SA precisam ser preparadas com antecedência para qualquer atividade que vá alterar o horário ou mudar o hábito, mesmo que essa mudança seja mínima;
·         Ofereça sempre um ambiente seguro e previsível;
·         As rotinas no dia-a-dia devem ser sólidas, pois as crianças com SA precisam compreender essa rotina e saber sempre o que a espera;
·         Evite momentos que elas possam sentir medo do desconhecido, dos novos professores, novas turmas, escola, tão cedo quanto possível e assim evitam-se as preocupações que geram angústia;
As crianças com SA apresentam muitas dificuldades em interagir socialmente. Demonstram pouco jeito para começar e até mesmo manter uma conversa, tendo assim dificuldade na comunicação. Elas falam para as pessoas, mas não com elas. Frequentemente desejam fazer parte do mundo social, no entanto, não sabem como se integra. É necessário que:
·         A escola proteja essa criança das brincadeiras inadequadas;
·         Quando os colegas têm idades adequadas a entender, é importante que o professor explique as características da criança com SA e sempre elogie os colegas quando estes as tratam com respeito, sendo assim, se evita o isolamento da criança;
·         Vivencie situações onde as crianças com SA apresentem suas habilidades cognitivas em pequenos grupos, e possam ser vistas pelos colegas como talentosas, favorecendo assim uma maior probabilidade de serem aceitas;
·         As crianças com SA, em sua maioria, desejam ter amigos, mas não sabem como fazê-lo. Então, elas precisam ser orientadas de forma apropriada a reagir em situações diferentes. Devem-se criar momentos onde o “faz - de- conta” sirva de exemplos para que a criança com SA entenda as regras que as outras crianças entendem de forma intuitiva;
·         Quando uma criança com SA, mesmo sem intenção, insulta, magoa, deve ser explicado a ela que esse comportamento é inapropriado e qual deveria ser o jeito correto de agir, pois a crianças com SA não tem noção do que é as emoções dos outros;
·         Quando os estudantes são mais velhos, o professor pode adotar para o aluno com SA o que chamamos de “amigo tutor”, que é aquele amigo da mesma classe, sensível às dificuldades do estudante com SA e que vai sentar próximo e tentar ajudá-lo nas atividades escolares;
·         É característico que a criança com SA apresente tendência para se retrair, portanto o professor precisa criar situações de envolvimento com os outros, favorecendo a socialização e evitando assim que ela passe todo o tempo solitário nos seus interesses obsessivos por determinados assuntos.
            As crianças com SA produzem longas lições, quando estas são das suas áreas de interesses, repetem perguntas sobre determinados assuntos, dificilmente elas mudam de opinião, seguem suas próprias idéias e na maioria das vezes se recusam a aprender matérias que não faz parte do seu grupo restrito de interesses. Então:
·         Não permita que crianças com SA persistam sobre assuntos de interesses isolados. Quando isso acontecer limite este comportamento e especifique pra ela um tempo, durante o dia, que ela possa conversar sobre esses assuntos, desta forma ela vai aprender a se controlar, pois isso fará parte da sua rotina diária;

A utilização de um reforço positivo, com o intuito de se obter um determinado comportamento, é uma estratégia importante para ajudar as crianças com SA (Dewey, 1991).

·         Estas crianças precisam também ser elogiadas quando apresentam comportamentos sociais adequados, por mais simples que sejam;
·         Determinadas crianças com SA se recusam a realizar trabalhos que não sejam da sua área de interesses, portanto é necessário deixar claro para elas que não é ela que manda e que é preciso que ela siga regras específicas. Porém, simultaneamente, o professor também pode fazer concessões, permitindo assim que ela siga os seus interesses em determinadas condições;
·         Poderá oferecer tarefas à criança com SA, relacionadas com o tema de seu interesse e que tenha haver com a área de conhecimento em estudo, por exemplo, se a criança tem interesse pela boneca da Emília, ofereça-lhe exercícios gramaticais, situações problemas de matemática, ortografia, textos para leituras sobre a Emília;
·         Utilize os interesses obsessivos da criança com SA para favorecer um alargamento no seu repertório de interesses. Como exemplo, numa aula de geografia sobre ecossistemas, o aluno com SA que possui obsessão por animais, estuda não só os animais que habitam esses ecossistemas, mas também os outros seres vivos, a casa desses animais, etc. Sem falar, que é motivado a aprender a população desse local que derrubou as árvores para garantir a sua sobrevivência.
         As crianças com SA estão frequentemente distraídas, ocupadas com os seus pensamentos; são muito desorganizadas; apresentam dificuldades em concentrar-se nas atividades da sala,
(frequentemente, tal não se deve a falta de atenção “per si”, mas sim ao focarem-se em detalhes irrelevantes; a criança com SA não consegue discernir o que é). importante [ Happe, 1991]

E como tal a atenção é dirigida para estímulos insignificantes; apresentam grande tendência para se isolarem no seu mundo interior, de forma bem maior que o que chamamos “sonhar acordado”, e demonstram dificuldade em aprender quando em grupo. Portanto:
·         As tarefas escolares devem ser divididas, as questões precisam ser sintetizadas e o professor deve reorientar sempre que for necessário;
·         As crianças com SA devem estar sentadas nas carteiras da frente e o professor tem que fazê-lhe, com freqüência, perguntas diretas, para que a mesma possa perceber a necessidade de acompanhar a aula;
·         É importante que as crianças com SA tenham seus trabalhos de sala e tarefas de casa diminuída em sua quantidade, pois apresentam dificuldades de concentração;
·         Sente a criança com SA ao lado de outra criança que a lembre constantemente da necessidade de estar atenta as tarefas e as aulas;
·         O professor precisa estar numa batalha constante no que se refere ao encorajamento a criança com SA para que ela possa abandonar os seus pensamentos ou as fantasias e concentrar-se no mundo real. É necessária bastante paciência porque para a criança com SA o mundo interior é bem mais atraente do que a vida real.
           A maioria das crianças com SA tem uma inteligência média ou acima da média, (principalmente no domínio verbal), mas podem apresentar dificuldades na capacidade de compreender os raciocínios muito elaborados. Apresentam uma visão muito concreta e a capacidade de abstração limitada. Mesmo tendo um estilo de linguagem pedante, demonstrando uma falsa imagem do que compreendem o que estão dizendo, quando na verdade estão apenas a repetir como um papagaio o que ouviram ou o que leram. É importante:
* Proporcionar um programa educativo individualizado;
* Quando os conceitos vivenciados em sala de aula forem abstratos, é interessante que se proporcionem explicações adicionais ou tente simplifica-los;
* Explorar bastante a capacidade de memória das crianças com SA, porque as informações concretas é a área forte delas;
* Estabelecer regras claras no que diz respeito a qualidade do trabalho acadêmico dessas crianças, porque em sua maioria, as crianças com SA não se esforça em áreas que não a interessam.
           Para que muitas dessas estratégias dêem certas, é importante que sejam consideradas as características particulares de aprendizagem de cada uma dessas crianças para que o apoio necessário seja fornecido e só assim se construa as competências necessárias.


Conclusão

             Quando pensamos em educação inclusiva, refletimos sobre todas as crianças serem incluídas na vida educativa e social da escola, porém esse pensamento só será possível quando as escolas se concentrarem na construção de um sistema que se apresente de forma estruturada para que as necessidades de cada um seja atendida e se perceba, de forma clara e objetiva, que a responsabilidade é de toda a comunidade. Correia (2003:9) alerta “a criança com Necessidades Educacionais Especiais (NEE) não se alimenta de sonhos, mas sim de práticas educativas eficazes que têm sempre em linha de conta as suas capacidades e necessidades”.
             A criança com Síndrome de Asperger pertence a este grupo diversificado dos alunos com NEE. Por ser ainda pouco conhecida, estas crianças vivem em contextos escolares onde, em sua maioria, são voltadas ao fracasso escolar e rotuladas de mal comportadas, indisciplinadas ou até mesmo, estranhas. Desta forma, o sucesso destas crianças depende de um diagnóstico precoce, de profissionalismo e principalmente de carinho, como maneira de protegê-las de rotulações.
               Este estudo representou uma nova proposta, um novo caminho que foi percorrido e que continuamente passou por reflexões, sob um olhar crítico que vai se amadurecendo de maneira que a teoria e a prática se ajudem e se completem. É importante observar que este estudo abriu novos caminhos, dicas e principalmente novas idéias para a Educação Especial e que sejam, de fato, mais uma valia nesta área. Foi interessante observar como a SA  se apresenta e quais as áreas de conhecimento de maior interesse dessas crianças e mais ainda, como pode o professor, ajudar a promover outras competências que se encontram em déficit numa criança com SA.
                O mais importante ponto de partida para ajudar estudantes com Síndrome de Asperger a funcionar efetivamente na escola é que todos que tenham contato com a criança compreendam que a criança tem uma desordem de desenvolvimento que a leva a se comportar e responder de forma diferente que os demais estudantes. Partindo dessa compreensão, a escola precisa individualizar sua abordagem para cada uma dessas crianças, não trata-los da mesma forma que os demais estudantes.
                 O próprio Asperger compreendeu a importância central da atitude do professor no seu próprio trabalho com essas crianças. Ele escreveu em 1944.
“Estas crianças frequentemente mostram um surpreendente sensibilidade à personalidade do professor... Eles podem ser ensinados, mas somente por aqueles que lhe dão verdadeira afeição e compreensão, pessoas que mostram delicadeza e, sim, humor... A atitude emocional básica do professor influencia, involuntária e inconscientemente, o humor e o comportamento da criança”.
É sempre importante retrata-la, compreende-la, definir os caminhos que possam vir a ser úteis para todos os profissionais que se vêem a par desta síndrome no campo da educação especial.
Estudar, aprofundar, compreender e atuar de forma competente são aspectos fundamentais de qualquer indivíduo, sobretudo quando nos encontramos na Educação Especial, com crianças que merecem serem felizes. É nossa responsabilidade de com estas crianças e por elas construir esse caminho.


ABSTRACT

If we want an inclusive school, we always many challenges in our pedagogical practices. Receive children with Special Educational Needs (SEN) classroom always cause a big impact. It is necessary to look, interpret and then intervene before the behaviors and attitudes of these children. It is not enough that teachers have only one sense or be sensitive to this situation, but mainly they have adequate training so that it can best serve these students as possible and thereby ensure equal opportunity for all instead of driving them to school failure.
Thinking thus, this article aims to enrich the practice in special education, considering what is Asperger Syndrome (AS) as it develops the individual and what are useful strategies to overcome challenges in the classroom.
AS is an uncommon disorder in neurological development, in which present deviations and abnormalities in three broad areas: social interaction, language use for communication and characteristics of behavior and lifestyle characteristics involving repetitive or perseverative on a limited but intense of interests.

Keywords: Asperger's Syndrome. Challenge. Strategies


REFERÊNCIAS
 
BAUER. Stephen. Autismo – Síndrome de Asperger – Ao longo da vida.
Disponível em http://www.autismo_br.com.br/home/as-vida.htm - Acesso em 26/12/2008

VASCONCELOS. Celso dos Santos, 1956 – Para onde vai o Professor? Resgate do Professor como Sujeito de Transformação, 8ª ed. São Paulo – Libertad Editora 2006.

VASCONCELOS. Celso dos Santos, 1956 – Coordenação do trabalho pedagógico: do projeto político – pedagógico ao cotidiano da sala de aula, 7ª ed. São Paulo – Libertad Editora, 2006.

WILLIAMS. Chris. Convivendo com Autismo e a Síndrome de Asperger: Estratégias Práticas para Pais e Profissionais / Chris Williams e Barry Wrighat 2008 – São Paulo: M. Books do Brasil Editora LTDA.

WILLIAMS. Karem. Autismo – Síndrome de Asperger: entendendo estudantes com a Síndrome de Asperger – Guia para professores.
Disponível em http://www.autismo_br.com.br/home/as-escol.htm - Acesso em 26/12/2008