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sábado, 21 de abril de 2012

ANSIEDADE E DEPRESSÃO O QUE HÁ ENTRE ELAS?




Muito embora os atuais manuais de classificação de doenças mentais tratem separadamente os quadros ansiosos dos afetivos, pesquisas e autores têm se preocupado em estabelecer relações entre esses dois estados psíquicos. Kendell (1983), ao longo de cinco anos de observação constata que o diagnóstico de Depressão passa para Ansiedade em 2% dos casos e, no sentido contrário, da Ansiedade para a Depressão em 24% dos casos.
Pode-se constatar também que antigos quadros ansiosos costumam evoluir no sentido da Depressão (Roth e cols. 1972, 1982). Lesse (1982) sustenta ainda a idéia da evolução do estresse para Ansiedade e em seguida para Depressão.

São conhecidos os expressivos sintomas depressivos em doentes com transtornos ansiosos e parece não se justificar, simplesmente, falar em Depressão secundária. Fawcet (1983) encontra sintomas depressivos em 65% dos ansiosos e Roth (1972), detecta em grande número de pacientes, simultaneamente irritabilidade, agorafobia, Ansiedade, culpa e agitação.

 O medo, por exemplo, seja de características fóbica ou não, reflete sempre uma grande insegurança e pode aparecer tanto nos Transtornos de Ansiedade quanto nos Transtornos Afetivos de natureza depressiva.

A associação da Depressão com Crises de Pânico foi encontrada, inicialmente, em proporções que variam de 64 a 44% dos casos (Clancy e cols. 1978) . Os quadros ansiosos com ou sem Depressão secundária, não diferem do ponto de vista da idade de instalação, duração, tentativas de suicídio, história familiar, para esses dois autores.

O estudo de, Stavrakaki e Vargo (1986), onde são reavaliadas pesquisas dos últimos 15 anos, sugere três tipos de abordagem da questão Ansiedade versus Depressão
 1- Ansiedade e Depressão diferem qualitativamente;
2- Ansiedade e Depressão diferem quantitativamente e;
3- Ansiedade se associa à Depressão


Ansiedade e Depressão: comorbidade, causa ou conseqüência?
 Atualmente tem-se enfatizado muito a teoria unitária, pela qual a Ansiedade e a Depressão seriam duas modalidades sintomáticas da mesma afecção. As atuais escalas internacionais de Hamilton para avaliação de Depressão e de Ansiedade, não separaram nitidamente os dois tipos de manifestações. Outras escalas anteriores também mostravam a mesma indiferenciação entre os dois quadros emocionais (Johnstone e cols, 1986, Mendels, 1972).
A tendência unitária Ansiedade-Depressão se reforça ainda na eficácia do tratamento com antidepressivos, tanto para quadros ansiosos, como é o caso do Pânico, Fobia Social, do Transtorno Obsessivo-Compulsivo e mesmo da Ansiedade Generalizada, quanto para os casos de Depressão, com ou sem componente ansioso importante.
O número de autores que não acreditam na Ansiedade e Depressão como sendo a mesma coisa, aos quais nos juntamos, é expressiva maioria, entretanto, quase todos reconhecem existir alguma coisa em comum nesses dois fenômenos. Acreditamos, pois, na necessidade quase imperiosa de um substrato afetivo e de carater depressivo para que a ansiedade se manifeste patologicamente. O mesmo requisito afetivo não se necessita para a ansiedade normal e fisiológica. Talves seja por isso que os quadros ansiosos respondem tão bem à terapêutica antidepressiva.


                Causa ou Conseqüência ?

Saber com certeza se a Ansiedade pode ser uma das causas de Depressão ou se, ao contrário, pode surgir como conseqüência desta ou, ainda, se uma nova entidade clínica independente se constitui quando ambos fenômenos coexistem num mesmo paciente, tem sido uma questão aberta à pesquisas e reflexões.
Strian e Klicpera (1984) consideram um quadro unitário de Depressão-Ansiedade e Clancy e cols (1978) constata que o humor depressivo antecede com freqüência ao primeiro ataque de pânico. Há observações do Transtorno Ansioso aparecer em pessoas com caráter predominantemente depressivo (Lader, 1975), e considera o paciente ansioso como portador de um tipo de Depressão endógena (Salomon, 1978). Ansiedade e Depressão são cogitados também como aspectos diferentes do mesmo Transtomo Afetivo por Downing e Rikels (1974).
O atual Transtorno Depressivo Persistente (Distimia), com ou sem a sintomatologia somática, foi cogitado como reflexo de sintomas depressivos mais francos e profundos, enquanto os quadros ansiosos seriam os casos onde o afeto depressivo se manifestaria atipicamente (Gersh e Fowles, 1979).
Mineka (1998) estuda a base cognitiva da Ansiedade-Depressão sob o enfoque da percepção humor-congruente dos estados ansiosos. De fato, a insegurança típica dos estados ansiosos podem ser melhor entendida à luz de uma auto-percepção pessimista e de uma representação temerosa da realidade, ambos de conotação depressiva. Monedero (1973), inclui no capítulo Afetividade, com igual destaque, as reações vivenciais anormais, depressão, mania e angústia. Considera a angústia como um temor de algo que vai acontecer e a Ansiedade como um temor atual, caracterizado pela procura e impaciência apressada. Nota-se o componente humor-congruente depressivo da Ansiedade.
Há ainda autores que admitem a Depressão como uma complicação freqüente dos transtornos ansiosos ou que os sintomas ansiosos são comuns nas doenças depressivas primárias (Rodney, 1997). Causa ou conseqüência? Aceitam o fato de pacientes com Depressão primária apresentarem estados ansiosos graves (Cunningham, 1997). A maioria dos autores, entretanto, afirma que pacientes com pânico primário, com pânico complicado pela Depressão, com Depressão Primária complicada por pânico ou com Depressão Primária, oferecem sérias dificuldades clínicas para se delimitar nitidamente os estados ansiosos e os depressivos.
Uma terceira posição, há tempos cogitada, é a Ansiosa-Depressiva como uma doença emancipada da Ansiedade Generalizada e da Depressão Maior (Stavrakaki, 1986). Esta hipótese unitária, mas diferente daquela que consiedera Ansiedade e Depressão como faces de uma mesma doença, também era sustentada por Paykel (1971) e por Downing e Rikels (1974). Schatzberg e cols (1983) dizem que os pacientes com quadros mistos de Ansiedade e Depressão, exigem terapias diferentes dos grupos isolados. Observam esses autores que quando as duas síndromes coexistem, a evolução é mais crônica, a resposta é menor às terapias convencionais e o prognóstico é pior.
Sonenreich e cols. (1991) afirmam que Ansiedade e Depressão combinadas representam um quadro separado, quantitativa e qualitativamente em muitos aspectos importantes, quer do transtorno ansioso, quer do transtorno afetivo.
Componente GenéticoGeneticamente se constata que pacientes com Depressão Maior associada ao pânico tinham, entre os parentes de primeiro grau, uma percentagem muito aumentada de pessoas com Depressão Maior associada à transtornos ansiosos (fobias, transtorno de pânico, Ansiedade generalizada) e de pessoas alcoolistas em comparação com os parentes de portadores de Depressão Maior mas sem distúrbios ansiosos.
A presente observação sugere que a Depressão Maior e o Transtorno do Pânico podem ter em comum uma diátese subjacente. Entre os pacientes com Depressão Maior e Ansiedade Generalizada aumenta a freqüência de parentes com Transtorno Ansioso, em comparação com os controles normais. Mas essa relação não acontece em relação aos pacientes com Depressão Maior sem ansiedade. A mesma coisa no caso da Depressão Maior associada com fobias (Sonenreich, Corrêa e Estevão, 1991).
Vários estudos são contraditórios no que diz respeito aos estudos genéticos dos depressivos e dos ansiosos. Parte desses estudos apontam relações fenotípicas entre os casos de Ansiedade e os de Depressão, outros separam a Ansiedade da Depressão e outros ainda, identificam um subgrupo de Depressão Ansiosa. Para complicar, alguns desses estudos contestam haver maior número de distúrbios afetivos entre os parentes de ansiosos do que na população geral (Leckman e cols, 1984).
Segundo Stavrakakis e Vargo, os trabalhos de Koth identificam mais neuróticos nas famílias dos ansiosos, Valkenburg identifica mais deprimidos nas famílias dos pacientes com transtornos afetivos primários e Crowe encontra mais Transtornos do Pânico nas famílias de pacientes com neurose ansiosa.
Antecedentes Pessoais
Para Raskind e cols (1982), os pacientes com crises de pânico tiveram uma infância vivida em ambiente mais difícil e, freqüentemente, sofreram mais distúrbios depressivos. Os quadros de Ansiedade de Separação na Infância aparecem como antecedentes pessoais da Síndrome do Pânico em trabalhos de Klein (1974). Ele separa tais pacientes daqueles com Ansiedade Generalizada e Antecipatória, sem ataques de pânico.
Confirmando o aspecto contraditório das tentativas em diferenciar ou igualar a Ansiedade à Depressão, Hoehn-Saric (1982), por sua vez, não constata diferença alguma entre os dois grupos do ponto de vista da história infantil.
 

             Resposta à Terapêutica
 A posição unitária da Ansiedade e Depressão pode ser defendida pelo fato dos ansiosos respondem muito bem ao tratamento antidepressivo (Kelly e cols, 1970; Sargant, 1962 in. Kelly). Alguns autores enfatizam o fato de certos antidepressivos terem melhor efeito do que os benzodiazepínicos nas depressões e nas ansiedades (Johnstone e cols, 1986) e é clássico o fato das neuroses fóbicas e obsessivas responderem à terapia antidepressiva.
As obsessões que respondem à terapia antidepressiva são consideradas secundárias a um desequilíbrio tímico de natureza depressiva (Duhais, 1984). Angst (1974) constata entre a Depressão e a Ansiedade uma forte identidade. "Pensamento recente favorece a hipótese de que os transtornos depressivos e ansiosos têm origem comum", A sobreposição não se dá apenas nos sintomas depressivos e ansiosos mas, também, através de um espectro comum de ação dos antidepressivos e ansiolíticos.
Para Stavrakaki e Vargo (1986), a posição unitária entre Ansiedade e Depressão é baseada na superposição da sintomatologia das duas síndromes, na falta de estabilidade do diagnóstico clínico entre elas, na similaridade de pacientes ansiosos com os sem Depressão secundária em diversas variáveis, na tendência dos pacientes com estados ansiosos prolongados para desenvolver sintomas depressivos, no fracasso em se achar dimensões nitidamente separadas de Ansiedade e Depressão pelas escalas de auto-avaliação e de avaliação e na falta de respostas específicas ao tratamento medicamentosos.
A constatação do envolvimento dos receptores 5HT (serotonina), conhecidamente implicados na Depressão, na sintomatologia da Ansiedade parece ser um importante ponto de partida para a identidade dos dois fenômenos psíquicos como tendo uma raíz comum (Bromidge e cols, 1998, Kennett e cols, 1997), seja do ponto de vista etiológico, seja terapêutico.
Apesar de estudos eletroencefalográficos e sonográficos apontarem, na década passada, diferenças entre os quadros depressivos e ansiosos (Akiskal, 1986), onde a fase REM se instala mais cedo na Depressão que na Ansiedade, continua havendo uma identidade muito grande entre estes dois estados emocionais no que diz respeito ao tratamento farmacológico.
O estudo de Kahn e cols (1986), que também separa estados ansiosos de depressivos com base nas escalas de Hopkins Symptom Checklist, Hamilton, RDC, Escalas Covi, Raskin, reconhece a superioridade dos antidepressivos aos ansiolíticos tanto no tratamento da Ansiedade, quanto da Depressão. Por outro lado, apesar dos estados ansiosos responderem signficativamente aos antidepressivos, da mesma forma com que respondem aos ansiolíticos benzodiazepínicos, estes últimos não se prestam ao tratamento dos estados depressivos com eficácia (Cunningham LA, 1997). Kuzel (1996) também reconhece a eficácia dos benzodiazepínicos para o tratamento da Ansiedade Aguda mas recomenda antidepressivos para o tratamento dos estados ansiosos de longa duração.
Conclusão
A revisão sobre esse tema acaba sempre contrapondo trabalhos de autores que defendem três tendências diversas; a unidade dos distúrbios ansiosos e depressivos como sendo o mesmo fenômeno, a dualidade entre esses dois estados afirmando tratar-se de distúrbios diferentes e as formas mistas como uma entidade específica com sintomas depressivos e ansiosos.
Tais diferenças são, sem dúvida, decorrentes das diversas maneiras de se conceituar esses estados emocionais e das diversas metodologias dos trabalhos científicos. As diferenças vão da conceituação semântica, calcada na multiplicidade de conceitos de Ansiedade e Depressão, até a interpretação metodológica das observações.
As diferentes pesquisas têm demonstrado não existir até agora uma posição inequívoca para o problema das relações entre Depressão e Ansiedade. Diante dessa polêmica vamos encontrar sempre circunstâncias onde estes quadros se associam.
Embora não possamos saber ainda, com certeza, se Ansiedade e Depressão são a mesma doença, ao menos tem sido consensual o fato dos antidepressivos atuarem satisfatoriamente nos quadros ansiosos tanto quanto nos depressivos (Feighner, 1996). Ainda que o termo comorbidade de Ansiedade e Depressão satisfaça uma postura politicamente correta, a pouca diferença de resultados no tratamento desses quadros com antidepressivos, notadamente os ISRS, aponta para uma satisfatória solução clínica (Rodney e cols, 1997, Kuzel RJ, 1996).

Ballone GJ - Depressão e Ansiedade - in. PsiqWeb, Internet, disponível em http://www.psiqweb.med.br/, revisto em 2007.















O TRANSTORNO DO PÂNICO

O Transtorno do Pânico habitualmente se inicia depois dos 20 anos, é igualmente prevalente entre homens e mulheres, portanto, em sua maioria, as pessoas que tem o Pânico são jovens ou adultos jovens, na faixa etária dos 20 aos 40 anos, e se encontram na plenitude da vida profissional. Normalmente são pessoas extremamente produtivas, costumam assumir grandes responsabilidades e afazeres, são perfeccionistas, muito exigentes consigo mesmas e não costumam aceitar bem os erros ou imprevistos.
Os portadores de Pânico costumam ter tendência a preocupação excessiva com problemas do cotidianos, têm um bom nível de criatividade, excessiva necessidade de estar no controle da situação, têm expectativas altas, pensamento rígido, são competentes e confiáveis. Freqüentemente esses pacientes têm tendência a subestimar suas necessidades físicas. Psicologicamente eles costumam reprimir alguns ou todos sentimentos negativos, sendo os mais comuns o orgulho, a irritação e, principalmente, os conflitos íntimos.
Essa maneira da pessoa ser acaba por predispor a situações de estresse acentuado e isso pode levar ao aumento intenso da atividade de determinadas regiões do cérebro, desencadeando assim um desequilíbrio bioquímico e conseqüentemente o aparecimento do Pânico.
Depois das primeiras crises de Pânico, durante muito tempo os pacientes se recusam aceitar tratar-se de um transtorno psicoemocional. Normalmente costumam ser pessoas que não se vêem sensíveis aos problemas da emoção, julgam-se perfeitamente controladas, dizem que já passaram por momentos de vida mais difíceis sem que nada lhes acontecesse, enfim, são pessoas que até então subestimavam aqueles que sofriam problemas psíquicos.

 ALGUNS TRAÇOS DE PERSONALIDADE DE PESSOAS PROPENSAS À SÍNDROME DO PÂNICO:

1. - Tendência a preocupação excessiva
2. - Necessidade de estar no controle da situação
3. - Expectativas altas
4. - Pensamento relativamente rígido (dificuldade em aceitar mudanças de opinião)
5. - Reprimem sentimentos pessoais negativos (não sabemos o que estão sentindo)
6. - Julgam-se perfeitamente controladas (duvidam tenham problemas emocionais)
7. - São extremamente produtivas (não relaxam, sempre estão fazendo algo)
8. - Assumem grandes responsabilidades (ocupacionais e familiares)
9. - Perfeccionistas
10.- Exigentes consigo mesmas (conseqüentemente, com os outros também)
11.- Não aceitam bem os erros ou imprevistos


                                                   Psicologia do Pânico

Psicologicamente constata-se, na expressiva maioria dos portadores de Pânico, a existência de conflitos intra-psíquicos. Algumas vezes nem mesmo os pacientes têm a nítida noção de estarem vivenciando tais conflitos, os quais atuam, nestes casos, mais à nível inconsciente.
Se a Síndrome do Pânico é uma espécie de reação emocional (ansiosa) à determinados conflitos, vivências e/ou circunstâncias da vida, porque a pessoa reage apresentando esse Pânico e não, por exemplo, a Depressão ou a Ansiedade típica?
Acontece com as emoções o mesmo que ocorre com a alergia, fazendo uma analogia didática. Imagine 20 pessoas numa sala impregnada de fungos, mofo ou bolor. Destas 20 pessoas, pode ser que apenas 6 delas tenham alergia como reação aos fungos. Dessas 6 pessoas, pode ser que 2 delas reajam com rinite alérgica e espirros, outras 2 com urticária e eczemas e as 2 restantes com asma brônquica. Como vimos, diante de um mesmo agente agressor, nem todos foram sensibilizados e, dos que foram sensíveis, tivemos três tipos de reação diferente.
Emocionalmente algo semelhante acontece. Diante da tensão, do estresse, da angústia, dos conflitos, ou da ansiedade exagerada as pessoas podem reagir diferentemente; algumas necessitam de muito mais estímulos para reagirem, e das que reagem cada qual reagirá à sua maneira. Algumas pessoas reagirão com Depressão Típica, outras com Fobias, outras ainda com Pânico, Obsessão-Compulsão, Ansiedade Generalizada, etc.

A emoção, como o álcool, embriaga em graus variáveis e, como na embriaguez verdadeira, cada um de nós reagirá à este estado de acordo com sua personalidade. Hipoteticamente, sendo impossível ao ser humano viver sem emoções, vamos imaginar que vivemos embriagados em graus variados. Assim sendo, a experiência clínica tem nos mostrado que sofrerá de Pânico, como uma forma de Depressão Atípica, todo aquele que se esforça para disfarçar sua "embriaguez" com todas suas forças. É como se o custo por dissimular os conflitos e as emoções fosse muito alto.
É por isso que, inicialmente, nenhum paciente com Pânico se diz emotivo, deprimido ou mesmo vivendo algum conflito. Como dissemos, na maioria das vezes os portadores de Pânico são pessoas extrovertidas, determinadas, decididas, capazes de enfrentar situações muito adversas, corajosas e sem antecedentes de transtornos emocionais.
Apesar dessas características, depois do primeiro episódio de Pânico, normalmente de gravidade suficiente para atendimento em Pronto-Socorro, essas pessoas tornam-se mais amedrontadas, tensas e inseguras. Considerar que o extremo mal estar pelo qual passaram tenha tido origem puramente emocional é a última coisa que acreditam.

                                                         Ataques do Pânico*
* texto baseado no DSM.IV (Classificação da Associação Norte-Americana de Psiquiatria)
 
Os ataques de pânico são recorrentes (voltam) e caracterizam essencialmente este distúrbio. Essas crises se manifestam por ansiedade aguda e intensa, extremo desconforto, sintomas vegetativos (veja a lista) associados e medo de algo ruim acontecer de repente, como por exemplo da morte iminente, ou passar mal, desmaiar, perder o controle, etc. As crises de ansiedade no Pânico duram minutos e costumam ser inesperadas, ou seja, não seguem situações especiais, podendo surpreender o paciente em ocasiões variadas.
Não obstante, existem outros pacientes que desenvolvem o episódio de pânico diante de determinadas situações pré-conhecidas, como por exemplo, dirigindo automóveis, diante de grande multidão, dentro de bancos, etc. Quando as situações que precipitam as crises são semelhantes à essas, dizemos que o Transtorno do Pânico é acompanhado de Agorafobia.
Uma vez que os Ataques de Pânico ocorrem em diversos quadros de Ansiedade, um Ataque de Pânico não significa, necessariamente, que existe a clássica Síndrome do Pânico. Pode haver ataque de Pânico na Ansiedade Generalizada, por exemplo. Vejamos então, o Ataque de Pânico, propriamente dito 
A característica essencial de um Ataque de Pânico é um período distinto de intenso medo ou desconforto acompanhado por pelo menos 4 dos 13 sintomas físicos citados abaixo.
O ataque tem um início súbito e aumenta rapidamente, atingindo um pico em geral em 10 minutos e é acompanhado por um sentimento de perigo ou catástrofe iminente. Os 13 sintomas físicos são os seguintes:
1 - palpitações,
2 - sudorese,
3 - tremores ou abalos,
4 - sensações de falta de ar ou sufocamento,
5 - sensação de asfixia,
6 - dor ou desconforto no tórax,
7 - náusea ou desconforto abdominal,
8 - tontura ou vertigem,
9 - sensação de não ser ela(e) mesma(o),
10 - medo de perder o controle ou de "enlouquecer",
11 - medo de morrer,
12 - formigamentos e
13 - calafrios ou ondas de calor.
 
Os ataques que satisfazem todos os demais critérios mas têm menos de 4 sintomas físicos são chamados de ataques com sintomas limitados.
As pessoas que buscam cuidados médicos para Ataques de Pânico inesperados, geralmente descrevem o medo como intenso e relatam que achavam que estavam prestes a morrer, perder o controle, ter um ataque cardíaco ou acidente vascular cerebral ou de "enlouquecer". Eles também citam, geralmente, um desejo urgente de fugir de onde quer que o ataque esteja ocorrendo.
A falta de ar é um sintoma comum nos Ataques de Pânico. O rubor facial é comum em Ataques de Pânico ligados a situações relacionadas à ansiedade social e de desempenho. A ansiedade característica de um Ataque de Pânico pode ser diferenciada da ansiedade generalizada por sua natureza intermitente (em crises) enquanto na ansiedade generalizada a ansiedade não vem em crises mas sim, continuada.

 TRANSTORNOS DE ANSIEDADE ONE PODEM OCORRER OS ATAQUES DE PÂNICO:
1 - Transtorno de Ansiedade,
2 - Fobia Social,
3 - Fobia Específica,
4 - Transtorno de Estresse Pós-Traumático,
5 - Transtorno de Estresse Agudo.

 Na determinação da diferença diagnóstica entre um Ataque de Pânico e outro quadro emocional é crucial considerar o contexto no qual ocorre o Ataque de Pânico. Existem três tipos característicos de Ataques de Pânico, com diferentes relacionamentos entre o início do ataque e a presença ou ausência de ativadores situacionais:
1 - Ataques de Pânico Inesperados (não evocados), nos quais o início do Ataque de Pânico não está associado com uma situação ativadora, isto é, ocorre espontaneamente, "vindo do nada";
2 - Ataques de Pânico Ligados a Situações (evocados), nos quais o Ataque de Pânico ocorre, quase invariavelmente, logo após à exposição ou antecipação a uma situação ativadora, como por ex., ver uma cobra ou um cão que sempre ativa um Ataque de Pânico imediato;
3 - Ataques de Pânico Predispostos pela Situação, que tendem mais a ocorrer na exposição a uma situação ativadora, mas não estão invariavelmente associados a ela e não ocorrem necessariamente após a exposição. Por ex., os ataques tendem a ocorrer mais quando o indivíduo está dirigindo, mas existem momentos em que a pessoa dirige e não tem um Ataque de Pânico ou momentos em que o Ataque de Pânico ocorre após dirigir por meia hora.
A importância dessa classificação quanto ao surgimento do ataque prende-se ao conhecimento de que:

 - A ocorrência de Ataques de Pânico inesperados é um requisito para o diagnóstico de Transtorno de Pânico (com ou sem Agorafobia).
b - Ataques de Pânico ligados a situações são mais característicos da Fobia Social e Fobia Específica.
c - Os Ataques de Pânico predispostos por situações são especialmente freqüentes no Transtorno de Pânico, mas às vezes podem ocorrer na Fobia Específica ou Fobia Social.


 Fazer a diferença de diagnóstico dos Ataques de Pânico é complicado pelo fato de nem sempre existir um relacionamento exclusivo entre o diagnóstico e o tipo de Ataque de Pânico. Por exemplo, embora o Transtorno de Pânico por definição exija que pelo menos alguns dos Ataques de Pânico sejam inesperados, os indivíduos com Transtorno de Pânico muitas vezes relatam ataques ligados a situações, particularmente no curso mais tardio do transtorno.
Normalmente, depois do primeiro ataque as pessoas com Pânico experimentam importante ansiedade e medo de vir a apresentar um segundo episódio. Trata-se de extrema insegurança e por muito tempo essas pessoas continuam achando que sofrem do coração ou, quando se tenta afastar essa possibilidade, mediante uma série de exames cardiológicos negativos, pensam ser eminente um derrame cerebral.
A ansiedade é tanta que os pacientes ficam ansiosos diante da possibilidade de virem a ficar ansiosos. É o famoso,"medo de ter medo". Por causa disso, esses pacientes passam a evitar situações possivelmente facilitadoras da crise, prejudicando-se socialmente e/ou ocupacionalmente em graus variados. São pessoas que deixam de dirigir, não entram em supermercados cheios, evitam aventurar-se pelas ruas desacompanhadas, não conseguem dormir, não entram em avião, não freqüentam shows, evitam edifícios altos, não utilizam elevadores e assim por diante. De qualquer forma a mobilidade social e profissional de tais pacientes encontra-se prejudicada de alguma maneira. Esse é o chamado comportamento evitativo.

Os pacientes com Transtorno do Pânico podem necessitar sempre de companhia quando saem de casa e, posteriormente, podem até se recusar a sair de casa devido ao medo de passar mal na rua, de morrer subitamente ou enlouquecer ou perder o controle de repente. Eles também citam, geralmente, um desejo de fugir urgente de onde quer que o ataque possa ocorrer. Algumas vezes podem apresentar ansiedade antecipada diante da possibilidade de ter que sair de casa. Normalmente esses pacientes têm muita dificuldade em dormir desacompanhados, procuram insistentemente o cardiologista e recorrem ao auxílio religioso com entusiasmo.
As pessoas que sofrem deste mal costumam fazer uma verdadeira via-sacra a diversos especialistas médicos e, após uma quantidade exagerada de exames médicos negativos, recebem o frustante diagnóstico de que não têm nada, aumentando ainda mais a insegurança e desespero.
Durante os Ataques de Pânico alguns médicos tentam confortar o paciente fazendo-o entender que não está em perigo, mas isso pode, inclusive, aumentar ainda mais sua angústia. Podem até julgar que o médico está sendo displicente e não estar valorizando devidamente seu grave estado. Portanto, quando o médico usa expressões como "não é nada grave", "é um problema de cabeça" ou "não há nada para se preocupar", isso pode até piorar as dificuldades do paciente. Pode dar a falsa impressão de que não há problema real ou de que não existe tratamento. A maioria dos médicos deveria dizer que não há nada de grave fisicamente ou organicamente mas sim, um sério problema emocional que deve ser tratado.
Depois de um Ataques de Pânico - por exemplo, enquanto dirige, fazendo compras em uma loja lotada, dentro de um elevador ou na fila do banco - a pessoa pode desenvolver medos irracionais, chamados de fobias à estas situações e, daí em diante, começa a evitar as circunstâncias supostamente capazes de desencadear novas crises. O nível de ansiedade e o medo de uma nova crise vai gradativamente aumentando, até atingir proporções onde a pessoa pode se tornar incapaz de dirigir ou mesmo de pôr o pé fora de casa. Desta forma, o distúrbio do Pânico pode ter um impacto tão grande na vida cotidiana da pessoa como qualquer outra doença grave.

 Transtorno do Pânico (Doença do Pânico, Síndrome do Pânico)

O Pânico pode ser considerado também como um estado de Ansiedade Paroxística, classificado na CID-10 dentro dos Transtornos de Ansiedade (F41.0). Os ataques de pânico recorrentes caracterizam essencialmente este distúrbio; crises de medo agudo e intenso, extremo desconforto, sintomas autossômicos vegetativos associados e medo de morte iminente.
O DSM-IV enfatiza e a CID-10 cita que, muito freqüentemente, um Transtorno Depressivo coexiste com o Transtorno do Pânico. Nós, particularmente, achamos que a Síndrome do Pânico é, literalmente, uma forma atípica de doença depressiva. O sentimento de pânico é, em essência, uma grave sensação de insegurança e temor. Ora, quem mais, além dos deprimidos, pode sentir-se tão inseguro a ponto de sentir a morte (ou o passar mal) iminente ?
Transtorno do Pânico habitualmente se inicia depois dos 20 anos, é igualmente prevalente entre homens e mulheres quando desacompanhado da Agorafobia, mas é duplamente mais freqüente em mulheres quando associado à este estado fóbico. Biologicamente o Transtorno do Pânico tem sido associado à elementos muito interessantes:

 1- Há susceptibilidade do paciente com Pânico ao teste do lactato de sodio, sendo possível desencadear crises em laboratório através da infusão do lactato. Os ataques de pânico pós-exercício facilitaram a hipótese sobre a pouca tolerância destes pacientes ao ácido láctico (metabólito do exercício muscular). Constatou-se que 70% dos pacientes com esse diagnóstico desenvolviam a crise no laboratório depois da infusão de lactato de sódio, enquanto apenas 5% dos não-portadores do distúrbio desenvolviam a crise com a infusão. Atualmente tem sido aceita a idéia do lactato de sódio induzir a um aumento de noradrenalina circulante, fazendo crer que, não o lactato em si, mas a noradrelina seria a responsável pelo desenvolvimento da crise de pânico.
2- O estudo das imagens cerebrais e a freqüente coexistência do Transtorno do Pânico com prolapso de válvula mitral são concordâncias clínicas importantes. Os estudos referentes à prolapso da válvula mitral demonstraram que esta alteração anatômica está presente em 50% dos pacientes com Transtorno do Pânico e em apenas 5% da população normal. A síndrome do prolapso da válvula mitral é assintomática em 20% dos casos, entretanto, quando há sintomas cardiorespiratórios o quadro se assemelha muito ao Transtorno do Pânico. A base e o significado da associação entre o prolapso da válvula mitral e o Transtorno do Pânico é desconhecida.
3 - Kaplan refere um estudo onde se constata um aumento do fluxo sangüíneo cerebral na área para-hipocampal direita de pacientes com teste positivo para a infusão de lactato. Tais pacientes mostravam ainda um metabolismo cerebral global aumentado.
4 - O componente genético do Transtorno do Pânico é outro elemento a ser considerado. A taxa de concordância para gêmeos monozogóticos é de 80 a 90%, enquanto para os dizigóticos à apenas de 10 a 15%. Entre os parentes de primeiro grau, 15 a 17% são também afetados.


               Incidência e Causas de Pânico
No mundo inteiro, existem pessoas que sofrem de Síndrome do Pânico. De acordo com as pesquisas, de 2 a 4% da população mundial é acometida por este mal, o qual já é considerado um sério problema de saúde. O Pânico ou as diversas formas de Fobias é, certamente, uma das causas mais freqüentes de procura a psiquiatras e podemos considerá-lo o segundo lugar de todas as queixas emocionais, precedido apenas pela Depressão. Mesmo assim, é demasiadamente freqüente a associação do Pânico com a Depressão.
Qual seria a causa desse grande aumento do número de casos de Transtorno do Pânico. Possivelmente deve-se ao aumento da ansiedade patológica na vida moderna. A cronificação dessa ansiedade patológica irá desencadear estados de estresse continuado. Tanto eventos desagradáveis, profissionais ou extra-profissionais, quanto eventos agradáveis, também em ambos os campos, podem se constituir em agentes estressores: morte de ente querido, nascimento de filho, despedida ou promoção no emprego, casamento ou separação, todos são potencialmente estressores.
Sabemos hoje que a síndrome do Pânico está biologicamente associada a uma disfunção dos neurotransmissores a qual criaria um fator agravante na sensação de medo. De acordo com uma das teorias, o sistema de alerta normal do organismo - um conjunto de mecanismos físicos e mentais que permite que uma pessoa reaja à alguma ameaça ou se adapte a uma circunstância - é ativado desnecessariamente na crise de Pânico, sem que haja um perigo iminente de fato.
O cérebro produz substâncias chamadas neurotransmissores, responsáveis pela comunicação entre os neurônios (células do sistema nervoso). Estas comunicações formam mensagens que irão determinar a execução de todas as atividades físicas e mentais de nosso organismo (ex: andar, pensar, memorizar, etc). Um desequilíbrio na produção destes neurotransmissores pode levar algumas partes do cérebro a transmitir informações e comandos incorretos. Daí o organismo desencadearia uma reação de alerta indevidamente, como se houvesse realmente uma ameaça concreta.
Seria isto, exatamente, o que ocorreria em um Ataque de Pânico: uma informação incorreta, decorrente de uma disfunção dos neurotransmissores, alertando e preparando o organismo para uma ameaça ou perigo que, na realidade, concretamente não existe. No caso do Transtorno do Pânico os neurotransmissores que se encontram em desequilíbrio são os mesmos envolvidos na Depressão: a Serotonina e a Noradrenalina. Vem daí a idéia de aplicar-se ao transtorno do Pânico o mesmo tratamento medicamentoso da Depressão.
Constata-se também que o Pânico ocorre com maior freqüência em algumas famílias, significando haver uma participação importante de fatores hereditários na determinação de quem está sujeito ao distúrbio. Apesar dessa concordância, muitas pessoas desenvolvem este distúrbio sem nenhum antecedente familiar.
Vale ressaltar ainda, que alguns medicamAentos como anfetaminas (usados em dietas de emagrecimento) ou drogas (cocaína, maconha, crack, ecstasy, etc.), podem aumentar a atividade e o medo promovendo alterações químicas que podem levar ao Pânico.

Para referir:
Ballone GJ - Síndrome do Pânico - in. PsiqWeb, Internet - disponível em http://www.psiqweb.med.br/, revisto em 200
7.


















Dor no Peito no Transtorno do Pânico

O Transtorno de Pânico é caracterizado pela ocorrência espontânea e inexplicável de ataques de pânico, que são períodos de intenso medo, podendo variar desde diversos ataques ao dia até poucos no curso de um ano. A expressão desse medo é manifestada por sintomas emocionais e físicos, tais como, taquicardia, sudorese, falta de ar, medo de enlouquecer, perder o controle ou morrer. É também freqüentemente que essas crises de Pânico sejam acompanhadas por agorafobia, que é o temor de se encontrar sozinho em lugares dos quais seja difícil uma saída rápida, no caso da pessoa “passar mal”. 
Um dos sintomas físicos responsáveis pelo paciente com Pânico procurar um Pronto Socorro é a dor no peito (dor torácica), reforçando ainda mais a idéia de que ele esteja tendo realmente um problema cardíaco grave, com a vida em risco. Normalmente é essa dor torácica que leva o paciente à busca repetida por inúmeros atendimentos em unidades de urgência, cardiológicas ou outros serviços médicos.
Gastão Luiz Fonseca Soares Filho, Alexandre Martins Valença e Antonio Egidio Nardi, publicaram um estudo de caso bastante útil para abordagem da relação entre as Crises de Pânico e os quadros de Dor Torácica (Soares Filho e cols., 2007).
De fato, a principal causa de dor torácica orgânica é de origem miocárdica, e se desenvolve quando o fluxo de sangue nas artérias coronarianas é insuficiente, ou seja, quando á uma Doença Arterial Coronariana. A persistir o problema ocorre o Infarto do Miocárdio. Os autores do artigo supra-referido ilustram a comorbidade (concordância) entre o Transtorno de Pânico com a Doença Arterial Coronariana. Eles alertam para o fato do diagnóstico de Transtorno de Pânico raramente ser feito e das graves conseqüências que podem decorrer disso.
Para confundir ainda o raciocínio clínico, devemos lembrar que 6 dos 13 sintomas básicos do Transtorno de Pânico são também encontrados em doenças do coração, como por exemplo, a dor torácica, as palpitações, sudorese, sensação de asfixia, sufocação e ondas de calor (Fleet et al., 2000). Tendo em vista essa semelhança entre os sintomas cardíacos e de pânico, é claro que a pessoa acometida por ataque de pânico, acreditando estar na iminência de um infarto agudo do miocárdio, busquem avidamente os serviços de emergência.
Curiosa e inversamente, também alguns dos principais sintomas da doença arterial coronariana e do infarto do miocárdio também sugerem estar havendo uma crise de Pânico. Os autores relatam um estudo com pacientes de serviços de emergência com sintoma de dor torácica, avaliados por meio de teste ergométrico ou arteriografia coronariana, e submetidos também a uma entrevista psiquiátrica anterior à entrevista cardiológica. Os dados foram muito significativos.
De 1.364 pacientes com dor torácica, 411 (30%) apresentavam Transtorno de Pânico. Desses 411 com Transtorno do Pânico, 306 (75%) não tinham diagnóstico de Doença Arterial Coronariana. Por outro lado, foi um dado muitíssimo interessante que, dos 1.364 pacientes, apenas 248 (18%) apresentavam Doença Arterial Coronariana sem Transtorno de Pânico.
Algumas conclusões importantes podem ser tiradas desse estudo. Dentre aqueles que chegaram à emergência com dor torácica, 30% apresentavam Transtorno de Pânico e 22% tinham Transtorno de Pânico sem Doença Arterial Coronariana. Analisando apenas aqueles com Transtorno de Pânico, 75% não apresentavam Doença Arterial Coronariana.
Embora tenha sido encontrada uma grande proporção de pacientes com Transtorno de Pânico sem Doença Arterial Coronariana, ainda assim é muito relevante o achado de que aproximadamente 26% dos pacientes com Transtorno de Pânico também tinha Doença Arterial Coronariana (Lynch e Galbraith, 2003). Isso quer dizer que, de rotina, a dor torácica deve ser sempre investigada com atenção, seja no Transtorno do Pânico ou não, buscando a identificação precoce de riscos orgânicos de ameaça à vida.
Resumindo, são comuns pacientes com ataques de pânico que apresentam concomitantemente dor torácica e palpitação. Por conta disso, anseiam por grande urgência de atendimento. A dor torácica em pacientes portadores de Transtorno de Pânico tem prevalência de 25% a 57% (Carter e cols., 1994; Fleet e cols., 1996). Como procuram emergências clínicas, o sintoma de dor torácica é investigado sob a ótica da Doença Arterial Coronariana.
Sabe-se então que dor torácica é mesmo um sintoma freqüente nos pacientes portadores de Transtorno de Pânico sem Doença Arterial Coronariana. Mas não se pode, de forma alguma, subestimar a o fato de que outros pacientes portadores de Transtorno de Pânico podem, de fato, apresentar Doença Arterial Coronariana. Alguns autores verificaram uma prevalência de 57% de Transtorno de Pânico em pacientes cardiopatas (Beitman e cols., 1987).
Uma avaliação médica restrita apenas à área cardíaca, embora traga conveniente conforto ao médico assistente, pode desencadear no paciente um incômodo processo de angústia investigativa de seu diagnóstico. Não é raro que o médico do serviço de emergência sentencie solenemente “... – você não tem nada... procure um psiquiatra”, sugerindo assim subestimar a queixa do paciente, duvidar de seu sintoma e atribuir à psiquiatria a função de ‘tratar’ de quem não tem nada.
Parece que a crença habitual dos clínicos desses serviços de emergência é que basta a informação dada ao paciente, de que seus sintomas não se devem a um evento cardíaco agudo, seja suficiente para gerar alívio dos sintomas e interrupção dos ataques de pânico. Este é um raciocínio linear e absolutamente simplório. O paciente é, sobretudo, um ser emocional que não se conduz predominantemente pela razão.  Ou não estaria achando que pode perder o controle e morrer de repente.
Existem trabalhos demonstrando que apenas os resultados negativos de exames cardíacos como, por exemplo, a avaliação clínica (Mayou e cols., 1994) ou teste ergométrico (Channer e cols., 1987), são absolutamente insuficientes para o paciente convencer-se e suprimir automaticamente os sintomas do pânico e a crença de que está enfartando. Segundo ainda Gastão Soares Filho e cols. (2007), nem mesmo quando os pacientes são submetidos a exames mais invasivos (e perigosos), como a coronariografia, os resultados normais são insuficientes para gerar tranqüilidade e ausência de sintomas.
Outro mau hábito dos serviços de emergência é quando os médicos assistentes deduzem, precipitadamente, que o paciente com dor torácica, palpitação, sudorese e ansiedade é portador apenas de Transtorno do Pânico, principalmente quando vem com antecedentes dessas crises, negligenciando assim a concomitância de Doença Arterial Coronariana.
A “cegueira” diagnóstica e de tratamento do Transtorno de Pânico para o paciente que busca repetidamente atendimento em serviços de emergência, quando da ocorrência de ataques de pânico com dor torácica, faz com que eles passem a ter uma vida significativamente limitada, sem alívio dos sintomas e do medo e da ansiedade (Lynch e Galbraith, 2003). A abordagem inadequada do Transtorno de Pânico presente nos casos de dor torácica invariavelmente produz a cronificação dos sintomas, limitação das atividades e redução da qualidade de vida, além de uso excessivo e inadequado de exames clínicos e recursos médicos.
A precariedade no diagnóstico de Transtorno de Pânico em serviços de emergência é bem demonstrada no trabalho de Fleet e cols. (1998), em pacientes com dor torácica. Observou-se que entre os pacientes que apresentavam critérios diagnósticos para Transtorno de Pânico, apenas 2% tiveram o diagnóstico correto no momento da chegada.
A atitude, como se diz, de “empurrar com a barriga” esses casos na expectativa de que os sintomas desaparecerão com o tempo também é uma falsa crença clínica. Bass e cols. (1983) acompanharam por um ano pacientes com dor torácica e coronariografia normal. Quase metade deles (41%) continuava com a queixa de dor torácica, e 63% ainda se consultava com médicos não psiquiatras. Potts e Bass (1995) acompanharam pacientes sem adequada abordagem psiquiátrica e condições de dor semelhantes por 11 anos, constatando-se que 74% deles continuava se queixando de dor torácica.
Citado por Gastão Soares Filho (2007), outro trabalho de Wulsin e cols. (1988), o diagnóstico de transtorno psiquiátrico foi feito em apenas 1 de 30 pacientes com Transtorno de Pânico, mostrando falta de diagnóstico em 97% dos atendimentos. Investigadores têm buscado medidas para minimizar a dificuldade diagnóstica apresentada pelos profissionais que trabalham em serviços de emergência.

para referir:
Ballone GJ - Dor no Peito no Transtorno do Pânico - in. PsiqWeb, Internet, disponível em http://www.psiqweb.med.br/, 2007.