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quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

3-Olhos em disputa


Olhos em disputa
Experimentos simples revelam a estereopsia, fenômeno visual complexo que ajuda a entender como o cérebro resolve conflitos de percepção
por Vilayanur S. Ramachandran e Diane Rogers-Ramachandran
Cubo de Necker: revezamento dos olhos evita rivalidade binocular. Ao lado, fusão de imagens: o cérebro extrai fragmentos das imagens que fazem sentido como um padrão holístico


Depois de aprender esse truque, novos experimentos serão possíveis. Sabemos, por exemplo, que diferentes áreas do cérebro estão envolvidas no processamento da cor e da forma das imagens. Podemos assim questionar: a rivalidade ocorre separada ou conjuntamente para esses dois aspectos? E se olharmos as listras do olho esquerdo através de um filtro vermelho e as do olho direito através de um verde? Haverá então uma rivalidade de cor e outra de forma. Elas ocorrem de maneira independente, de tal modo que a cor do olho esquerdo se emparelha com as listras do olho direito, ou elas sempre “concorrem” sincronicamente? A resposta é que as rivalidades ocorrem conjuntamente. Dito de outra forma: a rivalidade se dá entre os próprios olhos e não no processamento das cores ou formas.

Discos e baldes

Mas nem sempre isso é verdade. Dê uma olhada nas imagens desta página acima. A figura apresentada a cada olho mistura a face de um macaco com folhas verdes. De forma intrigante, se o cérebro funde as imagens há uma forte tendência para completar o macaco ou a folhagem, mesmo que isso exija a reunião de fragmentos de cada um dos olhos para completar os padrões. Nesse caso, o cérebro pega pedaços das imagens de cada olho que fazem “sentido” como um padrão holístico se combinadas corretamente.

Retornemos à estereopsia, isto é, o cálculo da profundidade relativa de imagens provenientes de dois olhos cujas posições no espaço são ligeiramente diferentes. Neste caso as imagens se fundem e, em vez da rivalidade, temos a profundidade estéreo. É digno de nota que durante milênios as pessoas- não reconheceram a estereopsia, pressupondo, provavelmente, que o benefício de ter dois olhos reside no fato de que, se perdermos um, nos restaria outro. Esse argumento tem pelo menos 500 anos, considerando que foi usado por Leonardo da Vinci. O fato de que o cérebro faz uso dela foi descoberto pelo médico inglês Charles Wheatstone (1802-1875).

É possível elaborar um exemplo da descoberta dele com o desenho de um balde visto de cima. Quando fundimos as imagens dos dois olhos (usando a fusão livre ou um cartão divisório), surge um disco cinza que circunda o círculo externo, dando-nos a impressão de que estamos suspensos no ar.

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