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quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

A área 10






O que nos difere de todas as outras espécies em termos evolutivos? O que o cérebro humano esconde, se é que realmente tem algo de especial? O senso comum é que estudar o cérebro humano contemplaria a chave para tais questionamentos, as respostas para desvendar o curioso processo da inteligência. De fato, o cérebro humano e sua organização interna, maior e mais complexo em comparação aos de outros mamíferos e primatas, parece ter sido, para alguns autores, o aspecto evolutivo fundamental para o desenvolvimento da cultura, incluindo a linguagem, a simbolização e a cognição elaborada, fatores e dimensões que diferem o Homo sapiens de todas as outras espécies.
Entretanto, se pudermos apontar uma dado qualitativo do estudo evolutivo neurobiológico, a conclusão é que os pólos frontais e temporais dos cérebros dos hominídeos se expandiram precocemente na evolução, seguidos da expansão das áreas posteriores do cérebro em uma fase posterior. O trabalho de Falk e colaboradores atesta que a grande expansão do cérebro humano não se iniciou com o gênero Homo, como se pensava anteriormente, mas há pelo menos 2 a 3 milhões de anos, com os membros do gênero Australopithecus. O cérebro se expandiu muito durante a fase evolutiva do gênero Homo, mas tal expansão já havia começado bem antes.
O grupo de Falk concluiu ainda que as áreas dos lobos frontais que mais se desenvolveram foram aquelas relacionadas às regiões correspondentes à área 10 de Brodmann. Semendeferi e colaboradores indicaram que a área 10 é 6 a 7 vezes maior em humanos quando comparadas aos grandes símios africanos. A neuropsicologia, por sua vez, tem mostrado que tal área está associada ao pensamento abstrato, à organização e ao planejamento de ações futuras, à iniciativa e à tomada de decisões, assim como ao controle e ao processamento das emoções e ao julgamento. Da integridade da área 10 dependem, particularmente, funções como memória de trabalho, memória espacial, memória prospectiva, processamento sintático e compreensão de metáforas, geração de verbos, cálculo numérico e atenção conjunta (fundamental para habilidades sociais). Assim, a evolução da área 10 no Homo sapiens parece ser central naquilo que se postula ser a “humanidade” dos homens.
Fica a reflexão: caso não percebamos iniciativa por parte das pessoas, planejamento, julgamento dos fatos associado a um bom controle emocional e, principalmente, criatividade, de que forma poderíamos considerá-las diferentes dos outros animais no que se refere ao comportamento?
Fonte: Paulo Dalgalarrondo, em “Evolução do cérebro”

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