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sábado, 6 de outubro de 2012

Distorções ou erros normais da memória

Tipos de erros mais frequentes

Esquecer reuniões
Guardar os óculos no lugar errado
Não recordar os nomes de pessoas conhecidas
Problemas com senhas e códigos no trabalho, banco ou Internet

Principais erros ou falhas da memória
(Os sete pecados capitais de Daniel Schacter)
Transitoriedade
Distração
Bloqueio
Atribuição errada
Sugestionabilidade
Distorção
Persistência

Características básicas dos erros ou imperfeições da memória

Fenômenos normais (não é início de demência)
Ocorrem com frequência no cotidiano.
Podem ter consequências desastrosas para todos nós.

Características básicas – A transitoriedade (pecado da omissão)

A transitoriedade, a distração e o bloqueio são pecados da omissão: nós não conseguimos, mesmo querendo, lembrar um fato, um acontecimento ou uma idéia.

Está ligada ao enfraquecimento da memória como o passar do tempo.

Geralmente não temos dificuldade de lembrar o que andamos fazendo nas últimas horas.

Mas, se alguém nos pergunta o que fizemos há seis semanas, seis meses ou seis anos, é provável que não nos lembremos de  muita coisa.

A memória e o esquecimento mudam à medida que envelhecemos.

Estudos neurobiológicos em animais fornecem evidências de que o esquecimento pode envolver a perda literal de informação.

As lembranças são codificadas por meio de alterações nas conexões entre os neurônios.

Com o passar do tempo, essas alterações tendem a se atenuar.

Experimento de Willem Wagenaar:

    T  Quanto mais sugestões fornecia, maior era a probabilidade do sujeito se lembrar de detalhes fundamentais do acontecimento.

    T  O esquecimento geralmente é incompleto e não total, deixando no seu rastro fragmentos espalhados de uma experiência.

    T  Legados da transitoriedade: impressões vagas de familiaridade, conhecimento generalizado do que aconteceu ou detalhes fragmentados de experiências.

O principal responsável pela transitoriedade rápida é uma parte do sistema de memoria operacional chamada “alça fonológica” que nos permite guardar temporariamente pequenas quantidades de informação linguística (Alan Baddeley).

A alça fonológica é um subsistema “escravo”, que ajuda o sistema “executivo central” da memória operacional.

Esse sistema controla o fluxo de informação para dentro e para fora da memória de longo prazo.

Por causa do constante bombardeio de novas informações, o sistema executivo precisa de ajuda.

A alça fonológica é útil ao fornecer capacidade adicional de armazenamento de palavras, dígitos e outras formas de fala.

Transitoriedade e Memória Operacional

A memória operacional guarda pequenas quantidades de informação por um curto espaço de tempo, normalmente alguns segundos, enquanto as pessoas estão empenhadas em atividades cognitivas, como ler, ouvir, resolver problemas, raciocinar ou pensar.

Precisamos da memória operacional para entender toda e qualquer frase que tenhamos escrito até agora.

Se não tivéssemos uma maneira de reter o princípio da frase enquanto ela continua, são saberíamos o significado da frase quando chegasse ao final.

O longo e árduo curso foi tão difícil que ele nunca chegou ao fim do trajeto.

O longo e árduo curso foi tão difícil que ele nunca passou em um exame.

  Só podemos dizer que a palavra curso se refere a um caminho, um percurso, ou a um curso de estudos se conseguirmos reter essa palavra até o final da frase.

Estudos de neuroimagem localizaram o compartimento de arquivo da alça fonológica na parte posterior do lobo parietal.

Outra parte da alça fonológica, crucial para a repetição de informação mantida no armazenamento de curto prazo, depende de porções inferiores do córtex pré-frontal esquerdo.

Quando uma pessoa saudável sofre dos tipos de transitoriedade de curto prazo estudados até agora – como esquecer o que se estava prestes a dizer ou esquecer um número de telefone encontrado segundos antes -, é provavelmente porque não conseguiu ativar essa parte do córtex frontal esquerdo.

As pessoas saudáveis conseguem evitar a transitoriedade de curto prazo fazendo um esforço coordenado para repetir a informação, o que estimula a parte esquerda inferior do córtex frontal. 

A distração (pecado da omissão)

Envolve uma ruptura na interface entre a atenção e a memória.

Ocorrem, em geral porque estamos preocupados com outros assuntos e não nos concentramos no que precisamos lembrar.

A informação desejada não se perde com o tempo, pois nunca foi registrada na memória ou não foi resgatada no momento necessário porque nossa atenção estava focalizada em outro assunto.

A distração

Atenção dividida leva a déficit no tipo de codificação e a desempenho fraco na memorização das palavras.

Não impede necessariamente que as pessoas registrem algum tipo de informação sobre uma experiência.

Duas maneiras de lembrarmos experiências passadas: recordação e familiaridade.

A recordação traz de volta à mente detalhes específicos de uma experiência passada.

A familiaridade envolve um sentido mais primitivo de conhecimento de que alguma coisa aconteceu anteriormente, sem o resgate de detalhes específicos.

Ao se dividir a atenção, ocorre uma redução geral da quantidade de recursos cognitivos (o “combustível” que alimenta a codificação) que podem ser canalizados para as novas informações a serem assimiladas.

O envelhecimento é associado a um declínio nos recursos cognitivos, o que resulta em padrões de desempenho semelhantes aos produzidos quando se tem a atenção dividida.

Experiência de Tim Shallice:

    T  Quando a atenção é dividida, a região esquerda inferior do lobo frontal é impedida de atuar normalmente na codificação elaborada.

    T  Quando essa região não está atuando na codificação de informações novas, ou está atuando de forma mínima, a memorização posterior é bastante afetada, e é bem provável que ocorram os esquecimentos causados pela distração.

O bloqueio (pecado da omissão)

Busca frustrada de uma informação que podemos estar tentando resgatar desesperadamente (ex.: fracasso ao tentar lembrar o nome de uma pessoa conhecida).

A experiência frustrante acontece mesmo quando estamos concentrados na tarefa de lembrar e apesar de o nome estar guardado na nossa mente (inesperadamente, várias horas ou dias depois, lembramos o nome bloqueado).

Bloqueio

Envolve um tipo de esquecimento que se distingue da distração e da transitoriedade.

Ao contrário das falhas da memória relacionadas à distração, o nome ou palavra recalcitrante que não lembramos foi codificada e armazenada na mente e, algumas vezes, existe uma pista ou associação que normalmente faria você lembrar o nome.

Ao contrário das falhas da memória provocadas pela transitoriedade, a informação não foi apagada da memória: ela está escondida, aparentemente pronta para voltar à mente com um pouco mais de esforço, mas continua for a de alcance quando necessária.

O bloqueio provoca irritação porque, ao mesmo tempo que parece evidente que você deveria ser capaz de resgatar a informação desejada, é óbvio que não consegue fazê-lo.

Conceitos como “inibição da recordação” trazem à mente a noção freudiana de repressão.

Será que a inibição de lembranças é só uma versão codificada da velha teoria de Freud, que foi tão atacada por causa da falta de respaldo experimental ?

O conceito freudiano de repressão envolve um mecanismo de defesa que está ligado de forma intrínseca aos esforços para afastar da consciência experiências emocionalmente perturbadoras.

Segundo pesquisas recentes, a inibição da recordação é muito mais onipresente e se aplica tanto a experiências emocionais quanto não emocionais.

A inibição da recordação frequentemente ocorre em casos de amnésia “psicogênica”, na qual pacientes bloqueiam grande parte do seu passado, após a ocorrência de tipos diversos de perturbações psicológicas.

Esses pacientes continuam capazes de criar e recuperar novas lembranças, mas não conseguem recordar quase nada sobre sua vida passada – inclusive suas identidades – desde o começo da amnésia.

Esses casos pertencem ao domínio dos quadros psiquiátricos.

Atribuição errada (pecado do cometimento)

Envolve referir uma memória a uma fonte errada: confundir fantasia com realidade ou lembrar incorretamente que um amigo lhe contou um fato inconsequente que na verdade você ficou sabendo ao ler o jornal.

Ocorre muito mais frequentemente do que imaginamos e pode ter profundas implicações em problemas jurídicos.

Atribuição errada

Théodule Ribot relatava casos nos quais a lembrança existia, mas estava errada.

Paramnésias ou falsas lembranças.

Déja vu, jamais vu.

Uma forte sensação de familiaridade, juntamente com a falta de recordações específicas, criam a receita fatídica para o surgimento da atribuição errada.

Os idosos com frequência são susceptíveis ao falso reconhecimento.

Eles têm mais dificuldade que os jovens de resgatar recordações específicas, e dependem mais da familiaridade em geral, o que leva muitas vezes à atribuição errada.

Mas, quando os idosos são instruídos a estudar informações importantes, eles são capazes, tanto quanto os adultos mais jovens, de fazer a devida distinção das mesmas e assim reduzem as falsas memórias.

Muitas vezes os idosos não têm a expectativa de recordar detallhes específicos de experiências passadas.

Na realidade, eles esperam recordar pouco ou nada.

Essa falta de expectativa em torno de suas lembranças pode lhes criar sérios problemas.

O neuropsicólogo britânico Andrew Young formulou a teoria de que a visão de uma fisionomia familiar estimula uma “unidade de reconhecimento de fisionomia”, que contém uma descrição de como é o rosto de uma pessoa.

O resgate de tais informações requer a ativação de um “nodo de identidade da pessoa” separado, que contém detalhes sobre a profissão, interesses, história pessoal e outras informações relacionadas.

Observações em macacos revelaram a existência de “células de fisionomia”que reagem mais fortemente a fisionomias do que a outros objetos.

Em estudos de fMRI descobriu-se que o giro fusiforme, uma parte fundamental das regiões visuais occipitais, apresenta uma atividade excepcionalmente forte quando as pessoas vêem fisionomias, comparado com muitos outros tipos de objetos. Lesões nesse local levam a perda da capacidade de reconhecer fisionomias familiares.

O giro fusiforme contém informações visuais, mas não fornece especificações sobre a fonte de familiaridade.

Esse papel cabe aos sistemas de monitoração frontais que precisam intervir e requisitar informações específicas sobre a pessoa.

Eles examinam as memórias em termos de plausibilidade e coerência.

Lesões frontais impedem esse reconhecimento.

Delírio de Fregoli – falsa memória

   (ocorre em pacientes psiquiátricos e em certas lesões neurológicas):  o paciente acredita piamente que um estranho é “habitado” por um amigo, parente ou pessoa famosa.

Sugestionabilidade (pecado do cometimento)

É ligado à atribuição errada.

Refere-se a lembranças criadas como resultado de perguntas tendenciosas, comentários ou sugestões feitos quando uma pessoa está tentando se lembrar de uma experiência do passado.

Pode causar um verdadeiro caos em situações jurídicas.

Sugestionabilidade

Como aumentar o número de informações precisas lembradas por uma testemunha, sem aumentar também a sugestionabilidade ?

Ronald Fisher e Edward Geiselman, na década de 1980, propuseram a “entrevista cognitiva”.

Sugestionabilidade: entrevista cognitiva

Primeiro estágio:

   Pede-se à testemunha que tente relatar todos os fatos relacionados ao incidente:
    “descreva seu atacante”.

Muitas vezes, perguntas muito específicas não ajudam a testemunha relatar todos os fatos relacionados ao incidente:
    “de que cor era a camisa dele ?”

Terceiro estágio:

    Pede-se que a testemunha tente lembrar os eventos em ordens cronológicas diferentes: começando pelo início e prosseguindo até o final, e vice-versa. Em estudos controlados, esse procedimento ajudou a melhorar a memória.
Sugestionabilidade: entrevista cognitiva

Quarto estágio:

    Pede-se que a testemunha tente ver o incidente sob perspectivas diferentes, como ver mentalmente o acontecimento sob o ponto de vista do réu ou da vítima. Isso ajuda a testemunha a notar características do incidente que podem ter passado despercebidas.

Síndrome da falsa memória

Em algumas confissões as pessoas desenvolvem a falsa convicção de que cometeram um crime.
Descrita pela primeira vez em 1908 por Hugo Munsterberg (Harvard).
“Síndrome de desconfiança da memória”
    Caso Reilly (Inglaterra, 1970).

Na década de 1990 mulheres educadas e inteligentes de classe média começaram a fazer psicoterapia para superar a depressão e outros problemas correlatos.
O tratamento acabava resultando no resgate de lembranças sobre abuso sexual na infância, em geral atribuído aos pais e, algumas vezes, às mães.
Em 1992, no auge da polêmica, muitos profissionais e pais acusados de abuso atribuiram uma suposta epidemia de falsas memórias às técnicas que induziam sugestão usadas por alguns psicoterapeutas (hipnose, exercícios de visualização orientada de imagens, nos quais as pessoas imaginam possíveis cenas de abuso, etc.).

Questões importantes a exigir respostas:

É possível criar falsas memórias de eventos autobiográficos traumáticos ?
Que tipo de métodos costumam criar recordações ilusórias ?
Será que certas pessoas são especialmente suscetíveis à indução de memórias de eventos que jamais ocorreram ?

Primeiros esclarecimentos:

Pesquisas de Elizabeth Loftus – descreveu a primeira tentativa de indução experimental de um incidente autobiográfico levemente traumático.

Estudo do “perdido no shopping”: o jovem Jim pediu que seu irmão mais novo, um adolescente chamado Chris, se lembrasse quando se perdeu em um shopping aos cinco anos de idade.

Estudos de Ira Hyman e cols.: perguntavam a universitários sobre vários acontecimentos da infância, que, segundo os pais desses estudantes, tinham de fato ocorrido.

Também faziam perguntas sobre um falso acontecimento, que, segundo os pais, jamais havia ocorrido.

Elizabeth Loftus e Giuliana Mazzoni investigaram se um procedimento indutor de sugestão poderia criar falsas memórias: a interpretação de sonhos.

Alguns terapeutas usam a interpretação de sonhos para extrair conclusões a respeito de acontecimentos do passado. Será que, em vez de revelar a interpretação de sonhos ajuda a criar experiências do passado ?

Os pesquisadores pediram a voluntários para avaliar se tinham certeza se vários tipos de experiências haviam ou não ocorrido. Duas semanas mais tarded, um dos grupos de voluntários participou então de uma atividade ostensivamente desconexa, durante a qual um psicólogo clínico interpretou seus sonhos.

O psicólogo insinuou que alguns dos sonhos incluíam lembranças reprimidas de eventos que aconteceram com eles antes dos três anos de idade: experiências perturbadoras como ser abandonado pelos pais, ficar perdido em um lugar público ou esar sozinho e perdido em um lugar desconhecido.

Os voluntários haviam afirmado inicialmente que tais eventos jamais haviam ocorrido com eles.

Porém, quando foram questionados novamente sobre experiências da infância duas semanas após a interpretação de seus sonhos, a maioria afirmou que se lembrava de uma ou mais das três experiências sugeridas.

Nada disso aconteceu com outro grupo do estudo que não recebeu nenhuma sugestão a respeito da interpretação de seus sonhos.

Para a maioria das pessoas, as primeiras lembranças datam do período entre três e cinco anos de idade.

Não existem provas de que as pessoas consigam se lembrar de incidentes ocorridos antes de dois anos de idade porque as regiões do cérebro necessárias para a formação de memórias episódicas ainda não estão plenamente amadurecidas até essa idade.

Distorção (pecado do cometimento)

Reflete influências poderosas do nosso conhecimento atual e opiniões sobre o modo como nos lembramos do passado.

Com frequência, editamos ou reescrevemos inteiramente, consciente ou inconscientemente, nossas experiências passadas com base no que sabemos no presente ou em nossas opiniões.

Distorção (pecado do cometimento)

O resultado disso pode ser uma representação distorcida de um incidente específico ou mesmo de períodos inteiros de nossa vida, que tem mais a ver com a maneira como nos sentimos agora do que com o que aconteceu no passado.

A distorção se refere às influências que alteram nosso conhecimento, opiniões e sentimentos atuais de novas experiências ou de nossas últimas lembranças dessas experiências.

    Os eventos do passado, argumenta-se, não têm existência objetiva, mas sobrevivem apenas em registros por escrito e nas recordações humanas. O passado é qualquer coisa em que os registros e as recordações coincidam… o controle do passado depende, acima de tudo, do treinamento da memória. A certeza de que todos os registros escritos coincidem com a ortodoxia do momento é apenas um ato mecânico. Mas também é necessário lembrar que os eventos aconteceram no modo desejado. E, se necessário, reorganizar nossas lembranças ou alterar registros escritos, mas também esquecer que fizemos isso. Esse truque pode ser aprendido como qualquer outra técnica mental.
                                                         1984, George Orwell
Tipos de Distorção

Distorções de coerência e de mudança – mostram como nossas teorias a respeito de nós mesmos podem nos levar a reconstruir o passado de forma predominantemente parecida ao presente ou diferente dele.

Distorções de coerência e de mudança podem ajudar a reduzir o que os psicólogos sociais chamam de “dissonância cognitiva”: o desconforto psicológico resultante de pensamentos e sentimentos conflitantes. As pessoas recorrem a tudo para reduzir a dissonância cognitiva.

Distorções de compreensão tardia (hindsight) – revelam que as recordações de eventos do passado são filtradas por conhecimentos atuais.

Distorções egocêntricas ilustram a função poderosa do ego na criação de imagens e lembranças da realidade.

Distorções estereotipadas demonstram como as lembranças genéricas moldam a interpretação do mundo, mesmo quando não estamos conscientes da sua existência ou influência.

Persistência (pecado do cometimento)

Recordação de informações ou acontecimentos perturbadores que gostaríamos de eliminar totalmente da nossa mente.

Em casos mais extremos de depressão ou experiências traumáticas, a persistência pode ser debilitante ou até mesmo fatal.

Experiências do cotidiano e estudos de laboratório revelam que incidentes com elevada carga emocional são mais lembrados do que eventos que não despertam emoções.

Quando não conseguimos prestar atenção ou codificar uma informação nova, dificilmente conseguiremos lembrar essa informação mais tarde.

Os benefícios da estimulação emocional para a memorização se aplicam tanto a eventos positivos quanto negativos: lembramos melhor os pontos altos e baixos da nossa vida do que os acontecimentos triviais.

Experiências positivas, assim como as negativas, tendem a ser lembradas involuntariamente e de forma intrusiva.

Pacientes deprimidos apresentam atividade relativamente reduzida em partes do lobo frontal esquerdo, principalmente na superfície lateral (região dorso-lateral frontal).

Estudos de neuroimagem indicam que regiões semelhantes no córtex pré-frontal esquerdo têm a função de refletir sobre experiências passadas e recordar aspectos específicos de acontecimentos.

Considerações finais

Em vez de ser uma fraqueza esses pecados refletem a capacidade de adaptação da memória.

Esses erros nos fazem compreender por que a memória funcional tão bem na maioria das vezes e por que evoluiu até o modelo atual.

Na maioria das vezes, a memória é um guia confiável do nosso passado e do nosso futuro, apesar de muitas vezes nos trair de modo irritante, mas revelador.

Embora muitas vezes pareçam ser nossos inimigos, os sete pecados são parte integral da herança da mente porque estão tão intimamente ligados às características da memória que a fazem funcionar bem.

Fanny Price, em Mansfield Park, de Jane Austen:

   Se alguma faculdade da nossa natureza pode ser chamada de mais maravilhosa do que as outras, eu acho que é a memória. Parece existir algo mais incompreensível nos poderes, nas falhas e nas desigualdades da memória do que em qualquer outra de nossas faculdades. Algumas vezes, a memória é tão retentiva, tão útil, tão obediente; outras vezes, tão confusa e tão fraca; e, ainda outras vezes, tão tirânica, tão descontrolada! Certamente, somos um milagre em todos os sentidos – mas nossos poderes de recordação e de esquecimento parecem, de forma peculiar, impossíveis de descobrir.

A psicologia e a neurociência modernas provaram que Fanny está errada em um ponto: que os nossos poderes de recordação e esquecimento são “impossíveis de descobrir”. Mas a observação que ela faz dos pontos fortes e fracos da memória não poderia ser mais pertinente.

Os sete pecados não são meras irritações, que devem ser minimizadas ou evitadas. Eles também explicam como a memória recorre ao passado para informar o presente, preserva elementos de experiências atuais para futura referência e permite que voltemos ao passado quando desejamos.

Os vícios da memória são também virtude, elementos de uma ponte através do tempo, que permite que façamos uma ligação da mente com o mundo.

Dados obtidos do livro de Daniel Schacter: "Os Sete Pecados Capitais da Memória. Como a mente esquece e lembra". Rio de Janeiro, Ed. Rocco, 2001.

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