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Potter, V.R
Bioetics for Whom? Ann. N.Y. Acad. Sci. 196/4:200-205, 1972
I - Aspectos Gerais da Síndrome de Down
Fig. 1. Aparencia facial de uma paciente com SD. (As imagens foram cedidas e autorizadas pelos pais dos pacientes, e pela diretoria da APAE de Bauro, SP) |
A síndrome
de Down (SD) é a síndrome genética melhor conhecida.
É responsável por 15% dos portadores de atraso mental que
frequentam instituições próprias para crianças
especiais. Sua primeira descrição clínica foi publicada
em 1866 por Langdon Down. É também chamada de mongolismo
devido à aparência facial de seus portadores (fig. 1).
O diagnóstico preciso
é feito através do cariótipo que é a representação
do conjunto de cromossomos de uma célula. Na figura 2 é apresentado
um cariótipo de uma paciente portadora da SD. O cariótipo
é, geralmente, realizado a partir do exame dos leucócitos
obtidos de uma pequena amostra de sangue periférico. É também
possível realizá-lo, antes do nascimento, depois da décima
primeira semana de vida intra-uterina, utilizando-se tecido fetal. A causa da SD é o excesso de material genético proveniente do cromossomo 21. Seus portadores apresentam três cromossomos 21, ao invés de dois, por isto a SD é denominada também Trissomia do 21. |
Fig. 2. Cariótipo de uma paciente portadora da SD |
sugerir o diagnóstico da SD na décima segunda semana gestacional.
Trata-se de uma medida, denominada translucência nucal, que é obtida
da região da nuca do feto. Valores acima de 3 mm são característicos de
alguns problemas congênitos (presentes ao nascimento), entre eles, a SD.
Nestes casos é indicado o estudo do cariótipo fetal (2). A incidência da SD é
de aproximadamente, 1 para 800 nascidos vivos.
Fig. 3. Portadores de SD: raça negra e amarela. |
Há uma relação
importante entre a concepção de crianças com a SD
e a idade materna. Após os 35 anos a mulher tem maior probabilidade
de ter filhos com a SD (4). Aos vinte anos o risco
é de 1 para 1600, enquanto que aos 35 anos é de 1 para 370.
A SD ocorre em todas as raças e em ambos os sexos. Na figura 3 são
mostrados dois pacientes portadores da SD, uma menina da raça negra
e um menino da raça amarela.
As características clínicas
da SD são congênitas e incluem, principalmente: atraso mental,
hipotonia (fraqueza) muscular, baixa estatura, anomalia cardíaca,
perfil achatado (fig. 4), orelhas pequenas com implantação
baixa (fig. 5), olhos com fendas palpebrais oblíquas (fig. 6), língua
grande, protrusa e sulcada (fig. 7), encurvamento dos quintos dígitos
(fig. 8) ,eaumento da distância entre o primeiro e o segundo artelho
(fig. 9) e prega única nas palmas (fig. 10). |
Fig. 4 Perfil achatado |
Fig. 5. Orelhas pequenas |
Fig. 6. Olhos com fendas palpebrais oblíquas |
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Fig. 7. Língua grande, protrusa e sulcada |
Fig. 8. encurvamento dos quintos dígitos |
Fig. 9. Aumento da distância entre o primeiro e o segundo artelho |
Fig. 10. Prega única nas palmas. |
A criança com SD deve ser encaminhada, o mais precocemente possível, para serviços especializados que orientem os pais sobre o prognóstico e a conduta terapêutica. A qualidade de vida dos afetados depende, principalmente, dos cuidados da família. A estimulação precoce melhora o desempenho neuro-motor, a hipotonia muscular e a linguagem ( 7).
Existem programas específicos de estimulação precoce para portadores de SD, em diversas instituições especializadas na educação de crianças excepcionais, como por exemplo a APAE (Associação de Pais e Amgos dos Excepcionais). Outras entidades especializadas no atendimento e divulgação de informações sobre a SD são a Fundação Sindrome de Down com sede no Brasil e a Down Syndrome WWW Page com sede nos Estados Unidos.
A expectativa de vida para os pacientes com SD é de, aproximadamente 35 anos e depende da presença e da gravidade da anomalia cardíaca. Em relação a fertilidade, as mulheres com SD têm um risco de 50% de terem crianças igualmente afetadas, enquanto homens com a SD dificilmente se reproduzem, devido ao atraso mental.
Os pacientes com a SD apresentam imunodeficiência, o que leva a maior suscetibilidade a infecções, além de risco aumentado de desenvolver neoplasias (câncer), particularmente leucemia (6). São comuns também distúrbios respiratórios. Estima-se que 65 a 80% dos fetos com a SD são abortados expontaneamente (1).
II - Etiologia da SD
O excesso de material genético proveniente do cromossomo 21 pode ocorrer de três formas diferentes: trissomia livre em todas as células do indivíduo, translocação cromossômica e trissomia livre em parte das células do indivíduo ( Mosaicismo ).
II.1 -Trissomia livre em todas as células do indivíduo
Fig. 11. Representação de três cromossomos 21 |
Em aproximadamente 92% dos portadores da SD observa-se um cromossomo 21 extra em todas as células, resultando num cariótipo constituido por 47 cromossomos, devido à trissomia do 21. Na figura 11 estão representados três cromossomos 21. |
II.2 - Translocação cromossômica.
Figura 12. Par de cromossomos 14 com translocação. |
Em 3 a 4% dos casos de SD, o
cromossomo 21 extra está ligado a outro cromossomo, frequentemente
ao 14. Este rearranjo cromossômico é denominado translocação.
Na figura 12 está representado o par de cromossomos 14, sendo que
num dos segmentos está ligado um cromossomo 21.
O cariótipo, neste caso,
apresenta 46 cromossomos e a translocação é representada
como t (14;21) ou t (14q21q). A letra q refere-se ao braço longo
dos cromossomos envolvidos. |
Figura 13. Representação de um par de cromossomos 21 e um cromossomo 21 extra ligado no braço q do cromossomo 14. |
Estas translocações podem ser balanceadas, quando não há excesso de material cromossômico, ou não balanceadas quando há excesso. Na figura 13 estão representados um par de cromossomos 21 e um cromossomo 21 extra ligado no braço q do cromossomo 14. |
Em cerca de 3/4 dos pacientes com SD a translocação não está presente num dos genitores, mas é decorrente de um erro durante a gametogênese de um deles, originando um óvulo ou um espermatozóide translocado. Nestes casos o risco de recorrência para nascimento de outros filhos afetados é de 2 a 3%. Portadores da SD devido a translocações são indistinguiveis daqueles com trissomia livre. Não há relação entre translocação cromossômica e idade materna.
II.3 - Mosaicismo do cromossomo 21
Figura 14. Criança portadora de mosaicismo do cromossomo 21. |
O mosaicismo do cromossomo 21 é responsável pela SD em 2 a 4% dos afetados. Estes apresentam dois tipos de células, um com número normal de cromossomos (46) e outro com 47 cromossomos devido à trissomia do cromossomo 21. A causa principal do mosaicismo é a não disjunção do cromossomo 21 durante o processo da mitose (divisão das células somáticas) no embrião. Quando a não disjunção do cromossomo 21 ocorre numa célula, as células derivadas desta serão trissômicas. O resultado final será uma proporção entre células normais e trissômicas. Quanto menor o número de células trissômicas, menor é o envolvimento fenotipico. Por isto pacientes mosaicos geralmente, são menos afetados. Na figura 14 está representada uma criança portadora de mosaicismo do cromossomo 21. Esta forma de SD não tem relação com a idade materna (3). |
A característica mais frequente na SD é o atraso mental. O desenvolvimento cerebral é deficiente, assim, ao nascer os portadores apresentam microcefalia. É observado um decréscimo do peso total do cérebro, além da simplificação em seu padrão giriforme. Exames neuropatológicos demostram que o cerebelo é menor que o normal, além disso, são documentadas deficiências específicas em áreas que envolvem habilidades auditivas, visuais, de memória e de linguagem. Pacientes adultos apresentam, frequentemente, alterações atróficas características da doença de Alzheimer (5).
Autores:
Elaine Sbroggio de Oliveira Rodini é Bióloga, Doutora em Ciências na área de Genética Médica pela Universidade Estadual Paulista - UNESP, professora das disciplinas Genética e Evolução na Faculdade de Ciências - UNESP, Campus de Bauru. E-mail: elaine@bauru.unesp.br Aguinaldo Robinson de Souza, Doutor em Ciências na área de Físico-Química pela Universidade de São Paulo, ex-professor visitante na University of California em San Diego, e professor das disciplinas Química Geral e Introdução à Biologia Molecular, na Faculdade de Ciências - UNESP, Campus de Bauru. E-mail: arobinso@bauru.unesp.br Home Page WWW: (http://www.bauru.unesp.br) |
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