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sábado, 23 de fevereiro de 2013

Introdução: As Três Unidades do Cérebro Humano







Ao longo de sua evolução, o cérebro humano adquiriu três componentes que foram surgindo e se superpondo, tal qual em um sítio arqueológico : o mais antigo, situando-se embaixo, na parte infero-posterior; o seguinte, em uma posição intermediária e o mais recente, localizando-se anteriormente e por cima dos outros. São eles, respectivamente :
1 - O arquipálio ou cérebro primitivo, constituido pelas estruturas do tronco cerebral - bulbo, cerebelo, ponte e mesencéfalo, pelo mais antigo núcleo da base - o globo pálido e pelos bulbos olfatórios. Corresponde ao cérebro dos répteis , também chamado complexo-R, pelo neurocientista Paul MacLean 
2 - O paleopálio ou cérebro intermediário (dos velhos mamíferos), formado pelas estruturas do sistema límbico. Corresponde ao cérebro dos mamíferos inferiores.
3 - O neopálio, também chamado cérebro superior ou racional (dos novos mamíferos), compreendendo a maior parte dos hemisférios cerebrais ( formado por um tipo de córtex mais recente, denominado neocórtex) e alguns grupos neuronais subcorticais. É o cérebro dos mamíferos superiores, aí incluídos os primatas e, consequentemente, o homem. Essas três camadas cerebrais foram aparecendo, uma após a outra, durante o desenvolvimento do embrião e do feto (ontogenia), recapitulando, cronologicamente, a evolução (filogenia) das espécies, do lagarto até o homo sapiens. No dizer de MacLean, elas são três computadores biológicos que, embora interconectados, conservam, cada um, nas palavras do cientista, "suas próprias formas peculiares de inteligência, subjetividade, sentido de tempo e espaço, memória, motricidade e outras funções menos específicas".
Na verdade, são três unidades cerebrais constituindo um único cérebro. A unidade primitiva é responsável pela autopreservação. É aí que nascem os mecanismos de agressão e de comportamento repetitivo. É aí que acontecem as reações instintivas dos chamados arcos reflexos e os comandos que possibilitam algumas ações involuntárias e o controle de certas funções víscerais (cardíaca, pulmonar, intestinal, etc), indispensáveis à preservação da vida.
O desenvolvimento dos bulbos olfatórios e de suas conexões tornou possivel uma análise precisa dos estímulos olfativos e um aprimoramento das respostas orientadas por odores, como aproximação, ataque, fuga e acasalamento. No curso da evolução, parte dessas funções reptilianas foram sendo perdidas ou minimizadas (em humanos, a amígdala e o córtex entorrinal são as únicas estruturas límbicas que mantêm projeções para o sistema olfatório). É também aí, no complexo-R, que se esboçam as primeiras manifestações do fenômeno de ritualismo, através do qual o animal visa marcar posições hierárquicas no grupo e estabelecer o próprio espaço em seu nicho ecológico (delimitação de território).
Em 1878, o neurologista francês Paul Broca observou que, na superfície medial do cérebro dos mamíferos, logo abaixo do cortex, existe uma região constituída por núcleos de células cinzentas (neurônios), a qual ele deu o nome de lobo límbico (do latim limbus, que traduz a idéia de círculo, anel, em torno de, etc), uma vez que ela forma uma espécie de borda ao redor do tronco encefálico (em outra parte desse texto escreveremos mais sobre esses núcleos). Esse conjunto de estruturas, mais tarde denominado sistema límbico, surgiu com a emergência dos mamíferos inferiores (mais antigos). É ele que comanda certos comportamentos necessários à sobrevivência de todos os mamíferos. Que também cria e modula funções mais específicas, as quais permitem ao animal distinguir entre o que lhe agrada ou desagrada. Aquí se desenvolvem funções afetivas, como a que induz as fêmeas a cuidarem atentamente de suas crias, ou a que promove a tendência desses animais a desenvolverem comportamentos lúdicos (gostar de brincar). Emoções e sentimentos, como ira, pavor, paixão, amor, ódio, alegria e tristeza, são criações mamíferas, originadas no sistema límbico. Este sistema é também responsável por alguns aspectos da identidade pessoal e por importantes funções ligadas à memória. E, com a chegada dos mamíferos superiores ao planeta, desenvolveu-se, finalmente, a terceira unidade cerebral : o neopálio ou cérebro racional, uma rede complexa de células nervosas altamente diferenciadas, capazes de produzirem uma linguagem simbólica, assim permitindo ao homem desempenhar tarefas intelectuais como leitura, escrita e cálculo matemático. O neopálio é o gerador de idéias ou, como diz Paul MacLean - " ele é a mãe da invenção e o pai do pensamento abstrato".

autores:

Júlio Rocha do Amaral, MD - Professor de farmacologia clínica, anatomia e fisiologia . Gerente Médico Científico da Merck S/A Indústrias Químicas. Redator de manuais didáticos sobre anatomia, fisiologia e farmacologia para uso da Merck. Supervisor de editoração das publicações científicas: Senecta, Galenus e Sinapse. Redator de protocolos e relatórios de pesquisas clínicas de produtos, a partir de 1978. Coordenador adjunto dos cursos de formação de especialistas em Oxidologia, promovidos pelo Instituto da Pessoa Humana (IPH) e Universidade do Grande Rio (UNIGRANRIO). Chefe do Serviço de Psiquiatria do Departamento de Neurociências do Instituto da Pessoa Humana (IPH). Co-autor do livro 'Princípios de Neurociências, entre outros. Co-autor do livro "Princípios de Neurociências", entre outros. Email:julioamaral@olimpo.com.br


 
Jorge Martins de Oliveira, MD, PhD 
Professor Titular e Mestre da UFRJ. 
Livre-Docente da UFF. Coordenador 
Científico e Diretor do Departamento 
de Neurociências do Instituto da Pessoa Humana (RJ). Fellow em Pesquisa pelo Saint Vincent Charity Hospital, Cleveland, USA. Membro Titular da Academia Brasileira de Medicina Militar. Membro da Academia Brasileira de Médicos Escritores, 
Diplomado pela Escola Superior 
de Guerra (ESG). Membro do Corpo 
Editorial da revista Cérebro & Mente. Autor de "Princípios de Neurociências", entre diversos outros. Email: olivermarti@olimpo.com.br










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