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sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Algumas idéias sobre o professor ideal, Gabriel Perissé



Algumas idéias sobre o professor ideal, Gabriel Perissé




“Para ensinarmos um aluno a inventar precisamos mostrar-lhe que ele já possui a capacidade de descobrir.” Estas palavras de Bachelard apontam para a imagem ideal da tarefa docente. O aluno possui talentos escondidos, e a educação consiste em desencadear esses talentos, incentivar esse processo criativo (desencadear, abrir o cadeado...).
Contudo, para que essa tarefa ideal seja efetivamente estrela-guia, fonte de entusiasmo, precisamos pensar no professor ideal.
O professor, como os artistas, provoca o amor pelo conhecimento, um amor que já existia em nós, mas estava adormecido.
O professor, como os profetas, mostra, com a palavra e o exemplo, como se dá um processo de descoberta pessoal, de busca do conhecimento. Vê-lo em ação incita o nosso próprio poder criador.
O professor desencadeia, liberta o aluno do medo de errar, do medo de aprender com o erro. O professor ideal é mestre em errologia, pois transforma a frustração do erro em aprendizado. E os melhores alunos largam as mãos do mestre, depois de descobrir sua capacidade de andar sozinhos, de correr sozinhos, de voar mais alto.
Muitos estudantes andam presos e, por isso, deixam de andar. Estão paralisados pelos “medos miúdos”, como dizia Mounier. Paralisados pela falta de horizontes profissionais. Estão perplexos, olhando sem ver, ouvindo sem escutar, falando sem dizer, lendo sem entender, escrevendo sem pensar.
Muitos estudantes não sabem abrir caminhos com a força dos seus passos. Não sabem reinventar a vida. E a vida só é possível reinventada.
Muitos estudantes são vítimas de uma reação em cadeia. Não agem, só reagem. Passam de ano sem passar, sem pensar. Sem saber por quê. Passam, mas não ficam. Ou passam e continuam presos.
O professor ideal reinventa o magistério. Ensina, aqui e agora, não o método que passa (e até faz passar...), mas a alma que permanece. Ensina, não a opção correta, a única porteira pela qual a boiada passa, de cabeça baixa, para o matadouro, mas a coragem de pular no escuro (se for preciso), e com os olhos abertos.
Transmite, não o conhecimento mastigado, a ração racionada, mas desperta no aluno a vontade de mastigar por conta própria, de usar a razão inventiva, de saborear conhecimentos tradicionais e inéditos.
O professor ideal ensina, não o caminho das pedras, mas o amor às pedras que existem em todos os caminhos.
O professor ideal é um inspirador. Suas aulas são poéticas, proféticas. Não hipnotizam, acordam. Não anestesiam, fazem refletir.
O professor ideal inspira confiança, inspira o desejo de chegarmos a ser quem de fato somos, assumindo o desafio de Píndaro: “Torna-te aquilo que tu és!”
O professor ideal torna o futuro mais real do que a banal ilusão... desilusão que alguns chamam de realidade.

*Gabriel Perissé é autor do livro Os Sete Pecados Capitais e as Virtudes da Educação, professor do Mestrado em Educação da Uninove (SP) e coordenador de Pós-graduação lato sensu da Unip (SP). Site do autor: www.perisse.com.br


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