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domingo, 25 de setembro de 2011

Epilepsia

A epilepsia é um distúrbio que afeta o cérebro e se expressa por crises repetidas, caracterizadas por manifestações motoras, sensitivas, sensoriais, psíquicas ou neurovegetativas. Não se trata de uma doença específica ou uma síndrome única, mas de um conjunto de condições neurológicas que levam a descargas elétricas excessivas e anormais no cérebro. Essas descargas desencadeiam as crises epilépticas, que podem se manifestar de várias maneiras.
Crises
As crises são classificadas como parciais simples, parciais complexas e generalizadas. As parciais simples não provocam alteração da consciência. Manifestam-se como eventos visuais, motores, autonômicos ou sensoriais e podem se confundir com outros fenômenos transitórios. Em alguns casos, evoluem para a forma parcial complexa.
As crises parciais complexas caracterizam-se por uma mudança de consciência, definida como incapacidade de responder normalmente a estímulos externos. Podem ocorrer em graus variáveis e associar-se a diversos eventos, como quedas abruptas e movimentos inconscientes e involuntários (automatismos). Ocasionalmente, são precedidas
Quando a aura , que é a crise parcial simples, precede a parcial complexa, serve como um aviso ao paciente As parciais complexas, por sua vez, também podem para as secundariamente generalizadas.
Nas crises generalizadas, as descargas neuronais são bilaterais. Envolvem, simultaneamente, amplas áreas de ambos os hemisférios cerebrais. A consciência é quase sempre comprometida, e as manifestações motoras afetam os dois lados do corpo. As crises podem ser convulsivas (com fenômenos motores) ou não. No primeiro caso, são classificadas como tônicas, quando o corpo fica rígido; clônicas, quando há contrações ritmadas seguidas de relaxamento em rápida sucessão; tônico-clônicas, se os dois sintomas estiverem presentes; e mioclônicas, caso haja contrações não ritmadas e erráticas de apenas em um ou alguns grupos de músculos definidos. Caso não haja fenômenos motores, como os anteriormente descritos, as crises são denominadas atônicas (perda do tônus muscular, sem rigidez do corpo) ou de ausência (perda do contato com o meio).
Há outros tipos de crise, menos comuns, que podem provocar quedas sem nenhum movimento ou contração, percepções visuais ou auditivas estranhas ou alterações transitórias da memória. Quando há perda de contato com o meio, o paciente geralmente não se recorda do que aconteceu durante a crise.
Causas
Entre as possíveis causas da epilepsia estão lesões cerebrais decorrentes de traumatismos na cabeça, tumores e distúrbios cerebrais degenerativos, infecções (meningite, por exemplo), abuso de bebidas alcoólicas ou de drogas e complicações durante o parto. A maior parte casos não tem uma origem clara, ou seja, não são determinados por uma lesão, mas sim por fatores genéticos.
A epilepsia é muito freqüente. A taxa de prevalência (número de ocorrências numa população) é bem maior que a incidência (casos novos numa população), já que a doença é crônica e tem baixo índice de mortalidade. A incidência anual varia de 30 a 50 novos casos em cada 100 mil indivíduos (0,03 a 0,05%). Já o índice de prevalência da epilepsia ativa, que inclui apenas casos com crises nos últimos cinco anos, está estimado em cinco a nove em cada mil pessoas (0,5 a 0,9%).
Diagnóstico
O diagnóstico é complexo. Estudos mostram que em mais de 50% dos casos, o tempo médio para identificação do problema é superior a seis meses. A investigação é feita com base no histórico clínico, mas a forma mais adequada de se definir uma crise é observar o episódio, seja pessoalmente ou por meio de registro em vídeo. Quando esses métodos não forem viáveis, recomenda-se interrogar uma testemunha ocular.
A compreensão e o tratamento da epilepsia foram revolucionados pela sofisticação de técnicas de neuroimagem, como a ressonância magnética, a espectroscopia, a tomografia computadorizada com emissão de fótons única (SPECT) e a tomografia com emissão de pósitron (PET). Esses exames têm como objetivo detectar anomalias visíveis e anormalidades no funcionamento cerebral, como alterações no metabolismo ou nas taxas de neurotransmissores. Além disso, há o eletroencefalograma (EEG), que continua a desempenhar um papel relevante no diagnóstico e por vezes, na orientação do tratamento da epilepsia.
Tratamento
Medicamentos antiepilépticos são capazes de abolir ou reduzir a freqüência das crises em 70% dos casos. No entanto, não modificam as conseqüências do dano neurológico coexistente e das dificuldades psicossociais. A escolha da medicação deve ser feita com base nas características individuais do paciente e sua aderência e tolerância ao tratamento.
Inicialmente, a intervenção cirúrgica era considerada apenas em casos de epilepsia incontrolável, mesmo com uso de fármacos, e de longa duração. Atualmente, considera-se o procedimento mais apropriado para jovens que têm a doença há pouco tempo, antes que as seqüelas psicossociais tenham se acumulado. É importante identificar a origem das crises e avaliar se a remoção cirúrgica do foco no cérebro não trará efeitos deletérios para o paciente.
Num estudo americano da década de 90, a cirurgia foi capaz de erradicar as crises em 59% dos casos; em 38%, elas diminuíram de freqüência; em apenas em 2% dos pacientes, a intervenção não trouxe benefícios. Todavia, outros relatos indicam que o percentual de pessoas com epilepsia não beneficiados pode ser de até 20%. É importante salientar que há uma enorme variação quanto aos resultados cirúrgicos, relacionada ao tipo de lesão do paciente, ou seja, a causa da epilepsia.

Kette Valente é neurofisiologista e neuropediatra, doutora em Neurologia pela FMUSP e supervisora do Laboratório de Neurofisiologia Clínica do Instituto de Psiquiatria da FMUSP

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