O medo é um estado emocional universal, uma sensação que todos conhecem. Quem nunca sentiu algum desconforto na presença de uma
cobra ou aranha, ou um frio na barriga quando o avião levanta vôo?
Alguns medos são muito comuns na população e estão relacionados à nossa
história (dos seres humanos) como mamíferos, ou seja, fazem parte de
nossa evolução. Sua função é nos proteger da destruição, desde os
tempos imemoriais. Alguns exemplos são o medo de trovões e tempestades,
do escuro, de insetos, de animais, de pessoas estranhas e de doenças. O
homem, como todos os animais sociais, protege seu nicho com a mesma
energia com que zela por sua integridade física.
Como em outras situações biológicas, mesmo algo natural e que nos
protege, neste caso o medo, em excesso causa sofrimento e nos
prejudica, tornando-se uma fobia ou, como chamam os médicos, um
transtorno fóbico-ansioso. Fobias são medos persistentes, excessivos e
incontroláveis, direcionados a um objeto ou uma situação.
Características
Para que o medo seja considerado uma fobia, três características são
necessárias. Em primeiro lugar, o contato com o objeto temido, ou mesmo
a mera antecipação da possibilidade de contato, deve desencadear
reações intensas de ansiedade. O coração dispara, e a pessoa , treme e
respira de maneira acelerada. Costuma-se também sentir falta de ar,
enjôo, ondas de frio ou calor, formigamentos nas mãos ou pés e dor ou
aperto no peito. Ao mesmo tempo, o indivíduo pode ter um impulso de
sair o mais rápido possível da situação ou sentir-se “congelado”, sem
reação, ou ainda começar a chorar e a gritar.
O segundo aspecto típico da fobia é que a situação temida passa a
ser evitada a todo custo ou o contato com o estímulo fóbico é suportado
com sofrimento intenso. A pessoa evita qualquer situação em que haja a
possibilidade de contato com o objeto temido, o que pode significar
grandes limitações na sua vida.
A terceira característica – e esta é a diferença fundamental em
relação aos “medos normais” – é que, nas fobias, o temor interfere
significativamente na rotina, no trabalho e nos relacionamentos
pessoais, causando sofrimento ou prejuízo funcional. Assim,
diferentemente dos outros receios, elas são incapacitantes e
não-adaptativas, ou seja, o indivíduo não consegue se adequar à
situação.
As fobias classificam-se em agorafobia, fobia social e fobias
específicas. A agorafobia é o medo de freqüentar locais públicos ou
lugares em que a saída possa ser difícil ou constrangedora. Pacientes
com esse tipo de fobia costumam se sentir mal se ficarem sozinhos em
lojas cheias, túneis, pontes, elevadores, ônibus, metrô etc.
Agorafobia e fobia social
Na maioria das vezes, a agorafobia está associada ao transtorno de
pânico. Nesse caso, a crise é geralmente causada pelo medo de sofrer
ataques de pânico nessas situações, em que a fuga ou o socorro são
dificultados.. Crises de pânico são episódios de medo intenso,
acompanhados de sintomas físicos como coração acelerado, falta de ar,
tremedeira e formigamentos.
Na fobia social, o indivíduo tem um medo excessivo de ser avaliado
ou de ser o foco da atenção dos outros. A pessoa receia ser julgada
negativamente ou que os outros pensem que ela é incompetente ou
estranha. Entre as situações comumente temidas estão falar ou comer em
público e escrever sob a observação de outros. Alguns pacientes receiam
todo tipo de interação social.
É importante, entretanto, diferenciar a fobia social da timidez. No
segundo caso, existe a ansiedade normal, que muitas vezes até
contribui para um bom desempenho em situações sociais. Já na fobia
social, essa ansiedade é excessiva e persistente. Eventos sociais são
evitados ou suportados apenas com sofrimento intenso, com conseqüente
prejuízo do desempenho funcional e no relacionamento com os outros.
Muitas vezes, o medo e a ansiedade já começam dias antes do
acontecimento, com a mera expectativa de entrar em contato com a
situação temida.
Fobias específicas
As fobias específicas são o transtorno psiquiátrico mais comum na
população, especialmente em crianças. Trata-se de um medo de determinado
objeto ou situação específica. As mais comuns estão relacionadas a
animais, tempestades, altura e doenças, mas elas também podem estar
direcionadas a eventos como andar de avião ou em elevadores, ver sangue
ou ferimentos, engasgar e vomitar, entre outras. Vale ressaltar que
não é o tipo de medo que determina uma fobia, mas se ele chega ao ponto
de interferir com a vida da pessoa ou causar sofrimento intenso.
Tratamento
Pouco mais de uma em cada dez pessoas desenvolve uma fobia em algum
momento da vida, mas poucas procuram cuidados médicos. Reconhecer o
problema é o primeiro passo para a melhora. As fobias precisam ser
encaradas como qualquer outra doença, não há motivo para se ter
vergonha. É muito comum que o indivíduo considere seu medo como
excessivo ou irracional, e esta percepção muitas vezes retarda a busca
por auxílio. Porém, essa demora só prolonga o sofrimento. Uma vez que a
fobia esteja realmente estabelecida, dificilmente será controlada sem
um tratamento adequado. Outra conseqüência negativa é que o paciente se
desgasta tentando esconder seu problema, em vez de se esforçar para
enfrentá-lo.
O tratamento da agorafobia e da fobia social freqüentemente exige o
uso de medicações. As mais usadas são determinados tipos de
antidepressivos. Entretanto, é importante que o paciente mude seu
estilo de vida, o que significa adotar uma nova postura frente à
doença. É necessário que ele deixe de evitar o objeto temido, passando
progressivamente a enfrentá-lo.
A principal técnica que a psicoterapia cognitivo-comportamental
propõe para o tratamento das fobias é uma forma organizada e
progressiva de confronto com os medos, chamada de terapia de exposição.
Nela, o paciente defronta-se com as situações temidas, começando por
aquelas que geram menos medo e progredindo para as mais difíceis.
Pode-se utilizar técnicas de relaxamento para ajudar a controlar a
ansiedade, além de mudanças nos padrões de pensamento.
O fundamental é compreender que as fobias são problemas de saúde como quaisquer outros, para os quais existem tratamentos eficazes, capazes de fazer com que o paciente volte a ter uma vida sem limitações.
O fundamental é compreender que as fobias são problemas de saúde como quaisquer outros, para os quais existem tratamentos eficazes, capazes de fazer com que o paciente volte a ter uma vida sem limitações.
Márcio Bernik é psiquiatra, doutor em
Medicina pela FMUSP, coordenador do Ambulatório de Ansiedade da
instituição (Ambam) e professor assistente do Departamento de
Psiquiatria da FMUSP; Fábio Corregiari é psiquiatra e doutorando do Departamento de Psiquiatria da FMUSP.
Para saber mais: http://www.amban.org.br