NÍVEL ALFABÉTICO
A hipótese silábico-alfabética também não satisfaz
completamente a criança, e ela prossegue sua pesquisa em busca de uma solução
mais completa que só será alcançada, através da constituição alfabética de
sílabas.
O aluno começa a escrever alfabeticamente algumas
sílabas e, outras permanecem escrevendo na hipótese silábica. São escritas
silábico-alfabéticas, mas já fazem parte do nível alfabético, mesmo se tratando
do uso de dois tipos de concepção.
O nível alfabético se caracteriza pelo
reconhecimento do som da letra.
Entretanto, a criança ainda não consegue, nesse
nível, a solução de todos os problemas no que se refere à leitura e escrita,
entre eles:
Primeiro problema que a criança enfrenta se
refere aos tipos de sílabas. As crianças, de modo geral, generalizam que todas
as sílabas têm sempre duas letras (isso se dá pela freqüência de sílaba com
duas letras na nossa escrita) e dificilmente concluem, automaticamente, que
existem silabas de uma, duas, três, quatro ou cinco letras. Devido à freqüência
de sílabas constituídas de consoante e vogal, os alunos acreditam que todas as
sílabas são assim. Quando deparam com palavras ou sílabas iniciadas por vogais,
fazem a inversão na escrita e também na leitura. Exemplo:
ARVORE = RAVORE.
Segundo problema que as crianças vivenciam é
a separação das palavras na produção de textos. Durante a escrita de textos
espontâneos, as crianças ora emendam palavras, ora dividem palavras em duas ou
três partes. Isso acontece porque, quando a criança escreve, concentra-se na sílaba;
assim, as palavras tendem a desaparecer como um todo. Aparecem as primeiras
junturas (quando escreve a criança várias palavras emendadas) e segmentações
(quando escreve separando, indevidamente, as palavras), muito comuns nas
escritas dos alunos ao ingressarem no nível alfabético, e que, nesse nível,
serão trabalhadas visando, desde já, a construção da base ortográfica.
Terceiro problema refere-se à ênfase sobre a
escrita fonética. A criança, ao dar ênfase à escrita fonética, ou seja, a
adequação fonética do escrito ao sonoro enfrenta as questões ortográficas.
Descobre que uma mesma letra pode ter som de outras letras, como, por exemplo,
X com som de CH, S com som de z etc., chegando a constatar que isso acontece em
muitas palavras. Exemplo: chave, chaveiro, chácara, xícara, xale, Elisabete,
roseira etc.
Por último, a criança enfrenta dificuldades
na escrita e na leitura de sílabas complexas. A compreensão de grupos
consonantais é fruto de muito esforço lógico de raciocínio e não de memorização
ou fixação mecânica.
A aquisição da base ortográfica envolve a
inter-relação de componentes lógicos, perceptivos, motores, afetivos, sociais e
culturais na aprendizagem.
O nível alfabético constitui o final da evolução
construtiva do aprendizado da leitura e da escrita. Uma aprendizagem marcada
pela reelaboração pessoal do aluno e da reflexão lógica.
CARACTERÍSTICAS DA ESCRITA E DA LEITURA
·
Reconhecimento
pela criança dos sons das letras.
·
A criança
consegue estabelecer uma vinculação mais coerente entre leitura e escrita.
·
A criança
concentra-se na sílaba para escrever.
·
Surge a
adequação do escrito ao sonoro.
·
A criança
escreve do jeito que fala (presença da oralidade na escrita).
·
A criança
compreende que cada um dos caracteres da escrita (letras) corresponde a valores
sonoros menores que a silaba.
·
Leitura sem
imagem e com imagem.
·
Surgem os
problemas relativos à ortografia.
TRABALHANDO COM LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTOS
Algumas crianças chegam ao nível alfabético
apresentando dificuldades, tais como:
1. alunos que
lêem alfabeticamente e ainda produzem escritas silábicas;
2.
alunos que
já escrevem quase alfabeticamente e não decodificam um texto convencional.
Isso acontece porque a leitura e a escrita não
foram desenvolvidas, até então, de forma correlacionada durante o processo de
aprendizagem.
O professor atento a essas dificuldades, que são
normais no nível alfabético, propiciará aos alunos oportunidades para vincular
as ações de ler e de escrever. A possibilidade de exercê-las num mesmo contexto
auxilia o domínio de ambas.
A prática de produção de textos é uma atividade
essencial ao longo de todo o processo de alfabetização. No nível alfabético, a
criança já é capaz de escrever sozinho o seu próprio texto.
A produção de textos é uma atividade expressiva e
criativa que envolve reflexão constante, uma reflexão lógica.
Essa reflexão é de suma importância em todas as
ações inteligentes para decidir como se escrevem palavras cuja escrita não está
memorizada.
A leitura de textos, por sua vez, envolve a seleção
pelo professor dos tipos de textos que serão oferecidos aos alunos de primeira
série ou pré-escolar, já alfabéticos, tendo em vista oferecer experiências
múltiplas, concretas e reais com o verdadeiro uso da coisa escrita na vida de
alguém.
A produção de textos pode ser individual ou
coletiva. O importante é que a criança de primeiro ano do primeiro ciclo do
Ensino Fundamental ou pré-escolar leia e escreva muito, e que todas as suas
produções sejam muito valorizadas pelo professor e outros.
Cada criança escreve do seu jeito e não há
"certo" ou "errado" neste momento. O texto produzido pelo
aluno é como um desenho ou qualquer outra forma de manifestação expressiva. Não
cabe, absolutamente, qualquer forma de correção ou de modificação.
Esses textos são um indicador valioso sobre o
andamento do processo de aprendizagem dos alunos. Eles fornecem dados que
poderão ser utilizados em outras atividades de escrita.
É preciso que, em alguns momentos, o professor se
torne o escriba da turma, porque é indispensável para o aluno poder perceber
atos de escrita de pessoas alfabetizadas, sejam na escrita de textos, palavras
ou letras. Isso possibilita ao aluno a análise de aspectos espaciais e motores
envolvidos, bem como a direção que se segue ao escrever (da esquerda para a
direita), os tipos de sinais gráficos utilizados (letras, sinais de pontuação),
tipos de letras e suas modalidades, a ortografia das palavras, como também
observar que se escrevem tudo (e não só os substantivos). É importante que o
professor leia o texto escrito para as crianças, apontando, com uma régua, o
que está lendo.
Os textos são trabalhados em sala de aula para
serem analisados nos dias subseqüentes à sua produção. Nesse sentido, devem ser
expostos na parede, para visualização dos alunos. Poderão ser transcritos para
os alunos, que os utilizarão em inúmeras atividades e explorações didáticas.
SUGESTÕES DE ATIVIDADES PARA O TRABALHO COM TEXTOS
Uma mesma atividade pode ser trabalhada com
crianças em vários níveis no processo de aquisição da escrita e da leitura,
contanto que ela englobe um espaço amplo de problemas e que o professor
provoque, diferentemente, com questões e desafios adaptados aos alunos em
situações desiguais, reconhecendo e valorizando as suas respostas e
comportamentos frente ao que foi proposto.
Assim, as atividades aqui sugeridas podem atender
também a outros níveis, que não apenas ao alfabético; o que muda é o foco de
interesse didático.
·
Produção de
texto a partir do desenho do aluno.
·
Exploração
dos textos individuais com toda a classe.
·
Sugerir a
escrita de textos a partir de outros textos já conhecidos pelos alunos: letras
de música, poesias, histórias memorizadas, descrição de brincadeiras, regras de
jogos etc. (também podem ser utilizados para leitura e análise).
·
Produção de
textos coletivos sobre acontecimentos ou interesses dos alunos naquele momento.
·
Atividades a
partir de um texto:
1.
leituras
globais ou parciais;
2.
reconhecimento
de palavras, frases ou letras no texto;
3.
análise de
palavras do texto quanto ao número de sílabas e de letras, quanto à letra
inicial ou final etc.;
4.
ditado de
palavras e frases relativas ao texto trabalhado;
5.
copiar
palavras do texto com uma, duas, três sílabas etc.;
6.
remontagem
do texto com fichas de frases ou palavras;
7.
produção de um
desenho para ilustrar o texto;
8.
separar
frases em palavras;
9.
completar
com palavras
10.
escolher
palavras do texto e elaborar pequenas frases;
11.
ditar
palavras do texto para um colega e vice-versa;
12.
registrar, à
frente das frases, o número de palavras que a compõem;
13.
montar
frases com fichas das palavras do texto;
14.
produções de
histórias em quadrinhos.
·
leitura e
narração de histórias pelo professor.
O TRABALHO COM SÍLABAS
A criança começa a construção da sílaba desde o
nível silábico, quando percebe que não pode ler o que foi escrito por ela.
Prossegue no nível silábico-alfabético quando acrescenta letras nos seus
escritos sem resolver o problema, que só vai ser superado com a escrita
alfabética no nível alfabético.
A introdução sistemática das famílias silábicas não
é o modo mais indicado para ajudar alunos alfabéticos a evoluir em suas
concepções sobre a escrita. E muito mais indicado encorajá-los a refletir sobre
a pronúncia para pensar a escrita. A percepção auditiva entra como
matéria-prima em todo o trabalho de inteligência, e o fato de nossa língua não
ser inteiramente fonética implica, subsidiariamente, uma elaboração mental dos
elementos ouvidos para chegar à escrita.
Nesta proposta didática, sugere-se desenvolver um
trabalho com sílabas começando pela sua identificação parcial, pelo
desmembramento das palavras em todas as suas sílabas e pela montagem de
palavras por meio de sílabas, só chegando às famílias silábicas através das
descobertas dos próprios alunos.
O professor deve permitir ao aluno explorar ao
máximo o mundo das palavras, das frases, dos textos e das letras,
incentivando-o a extrair o máximo de conhecimentos por conta própria, e só
entrar com a sistematização clássica se for necessário, e da forma mais
construtiva possível, sem nenhuma ordenação de dificuldades.
SUGESTÕES DE ATIVIDADES PARA O TRABALHO COM SÍLABAS
No trabalho com sílabas é preciso levar em conta as
condições cognitivas das crianças, que concernem a:
· 1 distinção de
uma só sílaba na palavra escrita;
· 2 distinção
estável de todas as sílabas das palavras (classificar palavras de acordo com o
número de sílabas);
· 3 possibilidade
de considerar sílabas independentemente da sua inserção em palavras concretas;
· 4 condições
para classificar sílabas de acordo com o número de letras que a constituem,
letra inicial ou final da sílaba etc.
5-As atividades propostas devem envolver palavras de
um universo semântico vinculado ao interesse dos alunos: nomes de animais,
partes do corpo, personagens de histórias, novelas e outros, ou de palavras que
surgem na sala de aula.
· 6 Atividades
para completar a primeira ou a última sílaba dos nomes ou palavras com material
concreto (fichas, jogos).
· 7 Ligar nomes
às sílabas iniciais.
· 8 Jogos: mico
preto, bingo, memória, dominó (com palavras ou nomes e silabas iniciais ou
finais).
· 9 Fazer
correspondências de todas as silabas de uma palavra com a palavra
correspondente.
· 10 Completar
fichas de palavras com as letras que faltam (usando o alfabeto móvel).
· 11 Classificação
de palavras com o mesmo número de sílabas.
· 12 Constituição
de palavras com sílabas e alfabetos móveis.
· 13 Separação de
palavras em sílabas (com fichas para recortar e colar ou por escrito).
· 14 Separação e
registro do número de silabas das palavras da frase.
Exemplo:
PEDRO ESTÁ DOENTE
(
) (
) ( )
· 15 Escrita de
palavras e nomes que iniciam ou terminam com uma determinada sílaba.
· 16 Adivinhações
de palavras através de pistas do professor.
O TRABALHO COM LETRAS
Desde o início da psicogênese, as crianças têm
contato com letras, palavras, frases e textos e também de alguma forma com as
sílabas (ao menos oralmente).
É de muita importância trabalhar simultaneamente as
letras, sílabas, palavras e textos em todos os níveis. Apenas para fins
didáticos, separamos as sugestões de atividades por unidades lingüísticas.
O trabalho com letras é feito desde o início da
escolarização através dos níveis pelos quais a criança passa. Esse trabalho é
também indispensável no nível alfabético (mesmo com crianças já alfabéticas,
isto é, que lêem e escrevem alfabeticamente).
SUGESTÕES DE ATIVIDADES PARA O TRABALHO COM LETRAS
·
Alfabetos
variados (tamanho, forma de letra, material) para montagem de palavras ou
frases mediante desafios interessantes do professor.
·
Num monte de
letras, solicitar à criança que encontre todas as letras de seu nome. Separar
as letras dos nomes dos colegas do grupo.
·
Reescrever
as palavras do álbum ou dicionário já montados nos níveis anteriores.
·
Construir
dados de letras (4 dados com as 26 letras do nosso alfabeto).
·
Jogos
industrializados ou criados pelos alunos e professor (inclusive de ordem
ortográfica).
Extraído: Fonte escola ativa, Fundescola
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