O Transtorno de Pânico é caracterizado pela
ocorrência espontânea e inexplicável de ataques de pânico, que são
períodos de intenso medo, podendo variar desde diversos ataques ao dia
até poucos no curso de um ano. A expressão desse medo é manifestada por
sintomas emocionais e físicos, tais como, taquicardia, sudorese, falta
de ar, medo de enlouquecer, perder o controle ou morrer. É também
freqüentemente que essas crises de Pânico sejam acompanhadas por
agorafobia, que é o temor de se encontrar sozinho em lugares dos quais
seja difícil uma saída rápida, no caso da pessoa “passar mal”.
Um dos sintomas físicos responsáveis pelo paciente com Pânico
procurar um Pronto Socorro é a dor no peito (dor torácica), reforçando
ainda mais a idéia de que ele esteja tendo realmente um problema
cardíaco grave, com a vida em risco. Normalmente é essa dor torácica que
leva o paciente à busca repetida por inúmeros atendimentos em unidades
de urgência, cardiológicas ou outros serviços médicos.
Gastão Luiz Fonseca Soares Filho, Alexandre Martins Valença e Antonio
Egidio Nardi, publicaram um estudo de caso bastante útil para abordagem
da relação entre as Crises de Pânico e os quadros de Dor Torácica
(Soares Filho e cols., 2007).
De fato, a principal causa de dor torácica orgânica é de origem
miocárdica, e se desenvolve quando o fluxo de sangue nas artérias
coronarianas é insuficiente, ou seja, quando á uma Doença Arterial
Coronariana. A persistir o problema ocorre o Infarto do Miocárdio. Os
autores do artigo supra-referido ilustram a comorbidade (concordância)
entre o Transtorno de Pânico com a Doença Arterial Coronariana. Eles
alertam para o fato do diagnóstico de Transtorno de Pânico raramente ser
feito e das graves conseqüências que podem decorrer disso.
Para confundir ainda o raciocínio clínico, devemos lembrar que 6 dos
13 sintomas básicos do Transtorno de Pânico são também encontrados em
doenças do coração, como por exemplo, a dor torácica, as palpitações,
sudorese, sensação de asfixia, sufocação e ondas de calor (Fleet et al.,
2000). Tendo em vista essa semelhança entre os sintomas cardíacos e de
pânico, é claro que a pessoa acometida por ataque de pânico, acreditando
estar na iminência de um infarto agudo do miocárdio, busquem avidamente
os serviços de emergência.
Curiosa e inversamente, também alguns dos principais sintomas da
doença arterial coronariana e do infarto do miocárdio também sugerem
estar havendo uma crise de Pânico. Os autores relatam um estudo com
pacientes de serviços de emergência com sintoma de dor torácica,
avaliados por meio de teste ergométrico ou arteriografia coronariana, e
submetidos também a uma entrevista psiquiátrica anterior à entrevista
cardiológica. Os dados foram muito significativos.
De 1.364 pacientes com dor torácica, 411 (30%) apresentavam
Transtorno de Pânico. Desses 411 com Transtorno do Pânico, 306 (75%) não tinham diagnóstico
de Doença Arterial Coronariana. Por outro lado, foi um dado muitíssimo
interessante que, dos 1.364 pacientes, apenas 248 (18%) apresentavam
Doença Arterial Coronariana sem Transtorno de Pânico.
Algumas conclusões importantes podem ser tiradas desse estudo. Dentre
aqueles que chegaram à emergência com dor torácica, 30% apresentavam
Transtorno de Pânico e 22% tinham Transtorno de Pânico sem Doença
Arterial Coronariana. Analisando apenas aqueles com Transtorno de
Pânico, 75% não apresentavam Doença Arterial Coronariana.
Embora tenha sido encontrada uma grande proporção de pacientes com
Transtorno de Pânico sem Doença Arterial Coronariana, ainda assim é
muito relevante o achado de que aproximadamente 26% dos pacientes com
Transtorno de Pânico também tinha Doença Arterial Coronariana
(Lynch e Galbraith, 2003). Isso quer dizer que, de rotina, a dor
torácica deve ser sempre investigada com atenção, seja no Transtorno do
Pânico ou não, buscando a identificação precoce de riscos orgânicos de
ameaça à vida.
Resumindo, são comuns pacientes com ataques de pânico que apresentam
concomitantemente dor torácica e palpitação. Por conta disso, anseiam
por grande urgência de atendimento. A dor torácica em pacientes
portadores de Transtorno de Pânico tem prevalência de 25% a 57% (Carter e
cols., 1994; Fleet e cols., 1996). Como procuram emergências clínicas, o
sintoma de dor torácica é investigado sob a ótica da Doença Arterial
Coronariana.
Sabe-se então que dor torácica é mesmo um sintoma freqüente nos
pacientes portadores de Transtorno de Pânico sem Doença Arterial
Coronariana. Mas não se pode, de forma alguma, subestimar a o fato de
que outros pacientes portadores de Transtorno de Pânico podem, de fato,
apresentar Doença Arterial Coronariana. Alguns autores verificaram uma
prevalência de 57% de Transtorno de Pânico em pacientes cardiopatas
(Beitman e cols., 1987).
Uma avaliação médica restrita apenas à área cardíaca, embora traga
conveniente conforto ao médico assistente, pode desencadear no paciente
um incômodo processo de angústia investigativa de seu diagnóstico. Não é
raro que o médico do serviço de emergência sentencie solenemente “... –
você não tem nada... procure um psiquiatra”, sugerindo assim
subestimar a queixa do paciente, duvidar de seu sintoma e atribuir à
psiquiatria a função de ‘tratar’ de quem não tem nada.
Parece que a crença habitual dos clínicos desses serviços de
emergência é que basta a informação dada ao paciente, de que seus
sintomas não se devem a um evento cardíaco agudo, seja suficiente para
gerar alívio dos sintomas e interrupção dos ataques de pânico. Este é um
raciocínio linear e absolutamente simplório. O paciente é, sobretudo,
um ser emocional que não se conduz predominantemente pela razão. Ou não
estaria achando que pode perder o controle e morrer de repente.
Existem trabalhos demonstrando que apenas os resultados negativos de
exames cardíacos como, por exemplo, a avaliação clínica (Mayou e cols.,
1994) ou teste ergométrico (Channer e cols., 1987), são absolutamente
insuficientes para o paciente convencer-se e suprimir automaticamente os
sintomas do pânico e a crença de que está enfartando. Segundo ainda
Gastão Soares Filho e cols. (2007), nem mesmo quando os pacientes são
submetidos a exames mais invasivos (e perigosos), como a
coronariografia, os resultados normais são insuficientes para gerar
tranqüilidade e ausência de sintomas.
Outro mau hábito dos serviços de emergência é quando os médicos
assistentes deduzem, precipitadamente, que o paciente com dor torácica,
palpitação, sudorese e ansiedade é portador apenas de Transtorno do
Pânico, principalmente quando vem com antecedentes dessas crises,
negligenciando assim a concomitância de Doença Arterial Coronariana.
A “cegueira” diagnóstica e de tratamento do Transtorno de Pânico para
o paciente que busca repetidamente atendimento em serviços de
emergência, quando da ocorrência de ataques de pânico com dor torácica,
faz com que eles passem a ter uma vida significativamente limitada, sem
alívio dos sintomas e do medo e da ansiedade (Lynch e Galbraith, 2003). A
abordagem inadequada do Transtorno de Pânico presente nos casos de dor
torácica invariavelmente produz a cronificação dos sintomas, limitação
das atividades e redução da qualidade de vida, além de uso excessivo e
inadequado de exames clínicos e recursos médicos.
A precariedade no diagnóstico de Transtorno de Pânico em serviços de
emergência é bem demonstrada no trabalho de Fleet e cols. (1998), em
pacientes com dor torácica. Observou-se que entre os pacientes que
apresentavam critérios diagnósticos para Transtorno de Pânico, apenas 2%
tiveram o diagnóstico correto no momento da chegada.
A atitude, como se diz, de “empurrar com a barriga” esses
casos na expectativa de que os sintomas desaparecerão com o tempo também
é uma falsa crença clínica. Bass e cols. (1983) acompanharam por um ano
pacientes com dor torácica e coronariografia normal. Quase metade deles
(41%) continuava com a queixa de dor torácica, e 63% ainda se
consultava com médicos não psiquiatras. Potts e Bass (1995) acompanharam
pacientes sem adequada abordagem psiquiátrica e condições de dor
semelhantes por 11 anos, constatando-se que 74% deles continuava se
queixando de dor torácica.
Citado por Gastão Soares Filho (2007), outro trabalho de Wulsin e
cols. (1988), o diagnóstico de transtorno psiquiátrico foi feito em
apenas 1 de 30 pacientes com Transtorno de Pânico, mostrando falta de
diagnóstico em 97% dos atendimentos. Investigadores têm buscado medidas
para minimizar a dificuldade diagnóstica apresentada pelos profissionais
que trabalham em serviços de emergência.
para referir:
Ballone GJ - Dor no Peito no Transtorno do Pânico - in. PsiqWeb, Internet, disponível em http://www.psiqweb.med.br/, 2007.
Ballone GJ - Dor no Peito no Transtorno do Pânico - in. PsiqWeb, Internet, disponível em http://www.psiqweb.med.br/, 2007.
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