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sábado, 29 de março de 2014

síndrome do pequeno poder




*Por João Ricardo Cozac
Professores déspotas e autoritários nas escolas ou universidades – chefes de confederações desportivas que atuam como donos da verdade absoluta – guardas de trânsito que agem como generais de guerra – seguranças de empresários (até donos de padaria) que parecem proteger o presidente dos Estados Unidos – gestores de empresas que usam a cadeira de trabalho para expor a inexorável fragilidade emocional. Treinadores e "mestres" que usam a posição para reafirmar seus traumas e recalques.
Se você já conheceu alguém com estas características comportamentais, acredite, esteve – ou está – diante de uma figura bizarra e corriqueira do mundo atual que, na prática, existe há muito tempo.
Professores montam esquemas perversos – aterrorizadores – na elaboração de notas e métodos para correção de provas em suas disciplinas para mobilizar a atenção dos alunos e dar algum sentido ou legitimidade ao RG guardado na carteira ou bolsa. Pior: a relação sadomasoquista ganha força na medida em que muitos alunos se hipnotizam – num ato quase patológico de fascinação – diante da atuação mascarada de aparentes leões com alma de ratos.
Um rostinho fotogênico associado a uma boa roupa da moda – um chicote invisível – ou quase aparente – no diário de classe provocam gemidos de puro prazer patológico em alguns – e ódio e desprezo em outros. Gente que cresceu no ambiente acadêmico e aprendeu – precocemente – que a vaidade impera nas relações de poder. Ainda que pequenas, quase minúsculas – tanto quanto suas pobres concepções e autoimagens fálicas de autoridade.
Na clínica, ouço relatos escabrosos de adolescentes, crianças e atletas sobre chefes de confederações que se prevalecem da posição para humilhar publicamente – pasmem – os próprios afiliados. Sujeitos complexados que deveriam, a priori, cuidar da mente e do equilíbrio emocional, encontram no exercício do pequeno poder, a oportunidade ideal para aliviar a constatação diária e desastrosa de suas pequenezas interiores. E olha que estes indivíduos se espalham como praga e não há inseticida capaz de conter a reprodução destes seres ignóbeis. O desprezo é, ainda, a melhor arma de ataque (ou defesa). Bater de frente com eles é dar munição ao inimigo e fortalecer os contornos medíocres da hipocrisia e falsidade maquiados freneticamente nestes pobres rostos desfigurados pelo tempo e desilusões.
Amor e poder andam na contramão. Respeito poderia ser um belo
substituto do poder nos relacionamentos – não só amorosos, mas familiares, profissionais, administrativos, de amizade, coleguismo, e assim por diante.
Quer conhecer uma pessoa, dê poder a ela! Qualquer tipo de poder – ainda que pequeno, é a fração exata e necessária para que a avalanche da insegurança e fragilidade pessoal ceda espaço ao comportamento mais destrutivo no campo simbólico e social.
“O homem guiado pela ética é o melhor dos animais; quando sem ela, é o pior de todos.”(Aristóteles, 384 – 322 a.C.)
João Ricardo Cozac - psicólogo do esporte - presidente da Associação Paulista da Psicologia do Esporte. Atende atletas de diversas modalidades em clínica - membro acadêmico e doutorando através do laboratório de psicossociologia do esporte da USP. Contatos - www.appeesp.com e secretariapsidoesporte@uol.com.br


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